Com os olhos fechados eu desejei que nada daquilo tivesse acontecido, desejei não ter rejeitado a carona de meu pai, desejei não ter pego aquele ônibus, e o mais importante, desejei não ter passado por tudo aquilo ao lado dele.
— Até quando vai ficar me amaldiçoando mentalmente? — questionou Carson, me fazendo abrir os olhos, olhando em sua direção.
Idiota, até parece que leu meus pensamentos.
Pensei.
— Fica quieto. — pedi cansada, revirando os olhos em seguida.
— Como quiser, madame. — disse dando de ombros e pegando o celular de seu bolso.
— O que está fazendo? — perguntei ao vê-lo digitando concentrado.
— Chamando um uber. — respondeu com desdém, guardando o celular em seguida.
— Droga, esqueci minha carteira em casa. — falei ao notar a ausência de minha carteira em minha bolsa de lado.
— A gente pode dividir lugar no uber que chamei, pago pra ele te deixar em casa. — ouvi ele dizer, e o olhei desconfiada.
— Não. — soltei ríspida. — Sem chance de eu dividir o mesmo lugar com você de novo.
Eu não fui insensível ou mau agradecida, eu estava certa afinal. A idéia que eu tinha de Carson, era que ele emanava uma energia negativa, que por vezes, corrompia pessoas a sua volta.
— Está querendo supor que a culpa de tudo isso que aconteceu, desde você entrar no ônibus, até aqui, é minha? — indagou com um sorriso idiota no rosto.
— Sim. — respondi sem hesitar — Admita que coisas assim só acontecem quando você está por perto.
— Certo, mas pelo o que eu lembro, antes de você entrar no ônibus, tudo ocorria tranquilamente. — disse, enquanto me olhava. — A mulher grávida, nem dores sentia, havia espaço de sobra para que todos sentassem, e eu? Bom, estava em tranquila harmonia, mas isso tudo foi antes de você chegar.
— Até parece, diferente de você, eu não emano energia negativa. — falei cruzando os braços, e mudando minha atenção para o carro que se aproximava.
Ele sorriu, negando com a cabeça.
— Parece que minha carona chegou. — alertou com aquele sorriso idiota no rosto.
Entrou no carro, abaixando a janela do mesmo e acenando dando tchau divertidamente, com aquele sorriso asqueroso em seu rosto.
Revirei os olhos com seu ato infantil.
Ao julgar pela hora, eu teria de andar por cerca de uns cinquenta minutos até chegar em casa.
Me pus a andar, e quando cheguei em casa, o céu já estava escurecendo.
— Papai! — chamei ao abrir a porta e entrar.
Chamei mais uma vez, e por não ter retorno, cogitei que ele estaria com tia Amanda. Não fiz menção de ir lá, pois Noah havia avisado que estaria em casa à noite, e seja lá o que papai e tia Amanda estivessem fazendo, eu preferi não interferir.
Subi para meu quarto, e me joguei na cama.
Eu estava exausta, era nítido. Depois de passar vários minutos sentada em um ônibus, e mais uma hora sentada em um sofá duro de hospital, eu merecia descansar, eu precisava descansar.
Minhas amigas estavam curtindo seus finais de semana naquele momento, eu jamais atrapalharia elas. Noah como sempre, estava com Julie, e eu? Bom, eu tinha minha cama, e ela me era muito confortável e aconchegante.
Normalmente eu não procrastinaria daquela forma, me jogando na cama e olhando para o nada. Mas eu estava mesmo exausta.
Depois de muito procrastinar, apenas olhando para o teto com adesivos de estrelas no meu quarto, levantei e fui até a escrivaninha, abrindo minha bolsa de mais cedo, e pegando o livro que lá estava.
Sentei na cama com minhas costas encostadas na cabeceira da mesma, e comecei a lê-lo.
Eu estava tão concentrada na leitura, que quando dei por mim, já estava na página de número 134. Dei uma pausa, olhando para varanda de meu quarto, e notei que à noite já havia caído. Levantei e fui até a mesma, me permitindo olhar para as estrelas que brilhavam reluzentes no céu.
Desde mais nova, eu sempre fui observadora, curiosa, gostava de admirar coisas, pessoas, lugares. Minha fascinação pelo céu estrelado, veio de quando eu tinha apenas seis anos, não apenas eu, mas Noah também gostava.
Ele sempre me fazia companhia nessas horas. Aliás, foi ele quem me ensinou a apreciar tanto a passada de estrelas cadentes, sempre que víamos uma fazíamos desejos. Noah acreditava fielmente nisso, acreditava que os desejos realmente se realizavam, se feitos com fé, afinal, quando tia Amanda ficou muito doente, ele ficou durante toda uma noite na espera de uma estrela cadente, ao ver uma passar, ele fez o pedido, no dia seguinte tia Amanda estava ótima, saudável e pôde receber alta.
Já eu, bom, nunca acreditei fielmente naquilo feito meu amigo, mas nunca fiz descaso da fé dele. No meu ponto de vista, ao pensarmos positivo, atraimos positividade para nós e para as pessoas a nossa volta, e claro que consequentemente coisas boas acontecem.
— Cassie, achei você. — ouvi a voz de Noah atrás de mim e me virei o olhando surpresa com sua chegada.
— Oi. — falei lhe dando um meio sorriso.
— Olhando as estrelas? — perguntou, parando ao meu lado na varanda e eu assenti concordando com sua primeira pergunta. — Viu alguma estrela cadente esses dias?
— Não, faz tempo que não vejo. — respondi sincera.
Vejo ele abaixar a cabeça, colocando as mãos nos bolsos da calça.
— Cassie, eu queria falar com você sobre ontem à noite. — iniciou, mudando sua atenção para mim, me olhando nos olhos. — Não foi certo o que fiz, digo, da forma que fiz, eu praticamente joguei a bomba pra você, e nem ao menos te alertei antes. — fez uma pausa. — Eu fui um babaca, e eu quero te pedir desculpas por isso.
— Tudo bem, eu entendo, somos amigos, nossa tarefa é apoiar um ao outro sempre, não esperar sempre por satisfações. — falei forçando um sorriso.
— Não, Cass, nossa tarefa é confiar um no outro sempre, dividir, compartilhar, é darmos satisfação sobre cada detalhe das nossas vidas. — disse calmo. — O que sentimos, o que queremos, o que conquistamos, tudo isso, é assim que devem agir os amigos.
— Você está certo. — falei abaixando a cabeça.
— Por isso, eu peço que me desculpe por ontem. — disse chegando perto, e segurando minhas mãos. — Eu prometo nunca mais esconder nada de você, tudo bem?
Assenti em concordância, deixando uma lágrima escapar.
Ele me abraçou apertado, e eu desabei a chorar em seu abraço.
Noah não sabia, mas minhas lágrimas naquele momento, eram lágrimas de tristeza, de saudade, pois eu sabia que logo, eu não teria aquele abraço sempre que quisesse, eu não o teria sempre que quisesse, e aquilo me doia.
Doia muito.
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Antes Só Que Apaixonada
Teen FictionCassandra é uma garota de dezesseis anos. É inteligente, organizada, detalhista, desiludida e com grandes planos para o futuro. Mora com seu pai desde os quatro anos ao ser largada junto a ele por sua mãe, tal que a garota já nem lembra mais do rost...