capítulo 6

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A dor interminável rastejava pela minha pele tornando-se mais intensa a cada respiração, Melyssa apoiava suas mãos sobre as feridas conforme amarrava tecidos que mantinham o precioso sangue ainda dentro de mim.
_ Precisa se manter concentrado, não pode perder a consciência agora, então foque na minha voz, está bem ?
_ Tudo bem, acho que consigo continuar vivo até Caio retornar. _ Minha voz soou mais grave do que o habitual, entrecortando as palavras em um fôlego frágil. E eu sabia que Melyssa também havia notado, mas riu mesmo assim, provavelmente por mim. Eu a havia visto diversas vezes antes, em um corpo diferente, ela é uma presença constante na vida de Caio, que cresceram como melhores amigos.
_ Eu aceito isso, mas acabei de perceber que estou arrancando suas roupas e sequer sei seu nome._ De fato, ela rasgava minha camiseta com as mãos mais fortes do que eu imaginava, afastando-a para facilitar seu trabalho em minha pele. E sua tentativa em me manter atento a algo além da dor insistente não passou despercebido.
_ Teddy. Me chamo Teddy, mas não quero que se sinta mais desconfortável em arrancar as minhas roupas agora que nos conhecemos oficialmente. _ Ela riu novamente, e eu poderia ter imaginado, mas me pareceu genuíno dessa vez. O meu mais novo som favorito, com uma melodia única que deslizava preenchendo o espaço com sua doçura, como mel sendo derramado para que algo maior fosse criado, notas contagiantes e coloridas que completavam-me. E fiz uma nota mental para me lembrar de fazê-la rir mais vezes.
_ Meu nome é Melyssa. _ Ela pressionou o tecido sobre uma região particularmente sensível em uma lesão na lateral de meu dorso levando-me a chiar encolhendo o corpo levemente._ Desculpe, vai ficar mais fácil quando Caio retornar com os suprimentos. Aguente firme.
Assenti, mesmo ao perceber que seria um esforço maior do que eu havia imaginado permanecer desperto. Eu vira o sangue escapar de minha pele conforme lutava para alcançar o acampamento e procurar por meu amigo. Depois que o espectro desapareceu e certifiquei-me de que não retornaria, decidi que deixaria os detalhes para serem considerados mais tarde e usei as últimas gotas de adrenalina circulando meu sistema nervoso para enviar força às minhas pernas, fazendo com que se esticassem e me guiassem. Ainda me pergunto como encontrei o caminho em meio às árvores idênticas, pois minha visão era apenas vermelho. Vermelho do alvorecer que deixara o céu a mais horas do que eu poderia ter contado dentro do encontro bizarro com a criatura, vermelho da raiva que percorria meu interior fazendo-me questionar minha idiotice ao pensar apenas por um segundo que poderia adentrar a floresta sozinho seguindo a sensação sobrenatural fluindo cada vez mais forte à medida que eu avançava, e vermelho do sangue que desenhava meu percurso de volta para a segurança das cabanas.  Mas eu havia chegado e seria medicado em alguns minutos se tivesse sorte, poderia aguentar. Cerrei minhas mãos em punho, os nós dos dedos já pálidos tornando-se brancos com a força exercida, e obriguei minhas pálpebras a permanecerem abertas.

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Não saberia dizer quanto tempo se passou até que Caio chegasse, eu sequer poderia afirmar certamente de que cumpriria minha promessa à Melyssa. Ela conseguira impedir a coagulação de sangue, mas a maioria já havia escapado, e a fraqueza e o cansaço ameaçavam me empurrar até a escuridão e abandonar-me na inconsciência.
Por sorte, quando mordi os lábios uma última vez para evitar gritar e alarmar o restante do acampamento já sentindo minha visão enturvar em antecipação, Caio abriu as abas da cabana, quase rasgando o tecido com a tensão do movimento, e meus últimos segundos de lucidez foram marcados apenas pelos ruídos intensos das arfadas desesperadas de meu amigo, que entregava o que Melyssa enfim precisaria para terminar o trabalho e sentava-se para dar às pernas trêmulas um lugar a se apoiar.

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