Herdeiro Da Morte

capítulo 8

Esfreguei os olhos ainda deitado enquanto Caio caminhava pelo espaço da cabana recolhendo roupas e mochilas.
_ Saímos hoje ao meio dia. Os pertences devem estar organizados pelo menos uma hora antes disso_ Ele atirou uma das mochilas já pesadas em minha direção e agarrei com uma das mãos_ Para que tenhamos tempo de encontrar uma maneira de transportar você até a cidade sem ser notado.
Levantei-me, suspirando em frustração quando meu peito descoberto combateu o vento frio da manhã. Porém, apesar do clima desconfortável a agitação pelo acampamento era evidente, então comecei a trabalhar pela tenda antes que Caio pulasse em meu pescoço.
_ Mesmo que eu consiga fugir sem que percebam um campista a mais, onde ficarei quando chegarmos à cidade?
_ Melyssa conhece um lugar, ela vai encontrá-lo assim que chegarmos, e estarei cuidando dos detalhes da sua nova moradia.
Coloquei mais algumas roupas na mochila, sem a preocupação de dobrá-las antes de simplesmente atirá-las para dentro, já que Caio também não tinha a mesma gentileza.
_ Por piedade de meus olhos! _ Melyssa invadiu a barraca, uma mala já ás costas enquanto observava a desordem que tentávamos ajustar, pousando os olhos sobre meu peito nu_ Coloque uma camiseta. 
_ Você não reclamou ontem a noite_ Meus lábios se contorceram em um sorriso provocativo, os olhos brilhando com desafio_ Quando passava as mãos delicadas por toda a extensão desse corpinho malhado.
_ Não esqueça quem está encarregada de garantir moradia a você. Posso jogá-lo em uma sarjeta e dizer que está feito.
_ Não existem mais monitores nesse acampamento? _ Caio deixou que sua mochila caísse para envolver Melyssa em um abraço_ Como consegue se esgueirar para as tendas masculinas com tanta facilidade?
_ Por favor, não me insulte. Não pode pensar que algumas regras e meia dúzia de homens com uniformes agarrados e suas pranchetas podem me impedir de fazer o que quero.
_ Então, vai usar essa habilidade para me tirar daqui sem que ninguém perceba, ou vai guardar os truques úteis pra você?_ Aproximei-me dos dois, finalmente vestindo uma das camisetas de Caio.
_ A sutileza é simples de resolver. O problema é conseguir um transporte, Teddy.
_ E como conseguimos isso? _ Caio perguntou passando para o meu lado.
Melyssa piscou, retirando a mala de suas costas e abrindo-a para revelar um macacão marinho de poliéster, uma faixa laranja atravessando cada lateral e mangas grosseiras que provavelmente são usadas para acompanhar luvas, assim como os tornozelos preparados para botas.
_ Lembra dos uniformes?

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_ Veja se serve nesse corpinho malhado, como você gosta de dizer_ Ela me lançou o macacão revirando os olhos enquanto saía da tenda, Caio a seu encalço.
_ Espere, você roubou um dos monitores?_ Ele estava furioso, as veias destacando-se formando uma linha firme pela extensão de seu pescoço, e o tom vermelho contornando suas feições conforme caminhava batendo os pés, os punhos cerrados com força ao lado do corpo para não agarrar Melyssa e sacudi-la pela idiotice que cometeu sem nos ter comunicado.— Onde estava com a cabeça? 
Tirei minhas roupas e estudei o uniforme antes de deslizá-lo por meu corpo, a discussão de Caio e Melyssa ocupando o silêncio enquanto eu apertava os botões e ajustava-me ao tecido. Servira perfeitamente, como se a ruivinha tivesse simplesmente acertado minhas medidas e escolhido o macacão exato antes de trazê-lo a mim, não que eu fosse admitir. Mas saber que Melyssa possui um olho tão atento a detalhes poderia se mostrar útil. Avisei que entrassem novamente e o tecido da abertura se agitou ao recebê-los.
_ Ótimo_ Melyssa sorriu_ Eles não possuem um controle exato dos funcionários como dos campistas, jamais repararão em você.
_ Mas de qualquer forma precisa se manter discreto e alerta._ Caio pegou uma das mochilas pesadas esquecidas ao lado de meu saco de dormir e apoiou suas abas sobre os ombros ainda carrancudo_ Vou buscar nosso café da manhã e vocês podem organizar a barraca enquanto estou fora._ Ele partiu para a entrada esbarrando em Melyssa sem encará-la nos olhos em uma indicação de que ainda não estava satisfeito com sua atitude, mas que toleraria por ora.
As mechas vermelho alaranjada de seus cachos oscilaram quando ela voltou a cabeça para trás, para observar enquanto Caio deixava a tenda, o que realçava o tom turquesa da blusa levemente rendada que, juntamente do short preto em viscose acentuavam suas curvas de tal forma que me surpreendi por não ter reparado antes. Desviei o olhar, bloqueando os pensamentos desconcertantes e pigarreei, recolhendo finalmente as roupas espalhadas para serem devidamente guardadas.
_ Como estão as ataduras?_ Melyssa se aproximou dobrando um dos cobertores felpudos de Caio._ Sabe que teremos de trocá-las pelo menos uma vez por dia até que não precise mais delas, não é?
_ Estão perfeitas, na verdade, e os cortes quase não doem. Talvez eu precise delas por mais alguns poucos dias apenas._ Realmente, os cortes sequer precisaram de pontos, embora Melyssa tenha esclarecido que talvez eu tenha uma ou duas cicatrizes onde poucos deles tenham estado. Minha fraqueza devera-se ao fato de eu ter perdido sangue demais no tempo em que demorei a alcançar o acampamento, o que há de ser resolvido em um curto tempo, devolvendo-me minha força total.