Apesar do dia intenso e das dores que consumiam minha disposição, esperei acordado até que Caio retornasse horas mais tarde adentrando a cabana com um bocejo ruidoso diante do acampamento silente e carregando uma bandeja coberta revestindo o espaço com aromas maravilhosos que faziam meu estômago retumbar em resposta.
_ Achei que estaria com fome_ Ele apoiou o recipiente sobre uma mala fechada enquanto eu avaliava a refeição_ Quando foi a última vez em que comeu algo?
Nunca. Os pelos da minha nuca se eriçaram ao perceber que eu jamais havia consumido nada em todo o período seguido por minha origem, mas afastei o espanto revirando meu estômago e foquei no pão australiano que agora esquentava minhas mãos, e a rapidez com a qual o devorei, sentindo a massa leve e os temperos requintados cruzarem minha língua, deve ter sido resposta suficiente à pergunta de Caio, pois ele não insistiu mais.
_ Obrigado_ Respondi repousando novamente a bandeja sobre a mala inclinando-me sobre um saco de dormir similar ao que Caio retirava da mochila ao dizer:
_ Posso pensar em o que fazer com você pela manhã, ainda temos três dias restantes e não acho que meus neurônios cansados acompanhariam o ritmo da discussão que está por vir.
_ Concordo_ Me inclinei para que minha cabeça se recostasse sobre os lençóis felpudos dobrados formando um travesseiro confortável enquanto ainda me apoiava sobre um braço para observar conforme Caio se deitava_ Terminaremos o assunto amanhã com maior disposição.
Deixei que meu corpo caísse sobre o saco de dormir enquanto meus olhos se fechavam e foram preciso menos de alguns segundos para que minha consciência me deixasse, perambulando por minhas memórias ao tempo em que me embalava durante o sono, e, por alguma bênção de Ulttrah fora uma noite tranquila imperturbada por pesadelos e lembranças esquecidas e sombrias.
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O alvorecer manchava o céu sobre os picos das árvores em tons de vermelho, laranja e rosa, e os pássaros acordavam uns aos outros lançando melodias dançantes sobre a quietude do acampamento sonolento, poderia ser uma manhã digna a se apreciar, não fosse pela estranheza que se sobressaltava ao encanto da natureza e acordavam meus instintos e reflexos aguçados, fazendo formigar as pontas dos dedos. O que deveria ser uma brisa leve da aurora tornava-se um sopro carregado e antigo, a mesma corrente de ar que me puxou de um sono confortável.
Mas o restante dos campistas parece ignorante ao fato, já que permaneceram dormindo de forma tranquila e regular enquanto as próprias forças da natureza lutavam contra o poder primitivo e ancestral que circundava pelas terras próximas. Segui contra o vento ajustando meus sentidos e observando minuciosamente o redor da floresta, mantendo-me na trilha estreita que me indicaria o caminho de volta por mais alguns metros antes de reparar nos ruídos, não necessariamente no som, mas na falta dele enquanto me afastava mais das cabanas adentrando a floresta, nenhum graveto soou com um estampido ao ser quebrado, nenhum barulho de mamíferos ou roedores da floresta, olhei novamente para o céu, percebendo sem fôlego que os pássaros não cantavam pela manhã, mas gritavam para que acordassem e fugissem da sensação suspeita.
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Herdeiro Da Morte
FantasiSinopse: Uma ameaça percorre as entranhas de um reino de magia e, a única esperança de qualquer salvação permaneceu adormecida em um mundo bem distante daquele em que foi concebido. Mas agora ele está pronto para voltar por seu povo e enfrentar o te...