Naomi

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                Essa terça-feira de folga caiu como uma estrela cadente. A semana de provas foi bem difícil, eu e os alunos merecemos um descanso. Na segunda-feira à noite, estou no meu quarto em frente à minha estante de livros. Olho, olho e olho por vários minutos e concluo.
-Eu preciso comprar mais livros!
                  Sento na minha cama, pego minha bolsa, a vasculho e encontro meu cartão Golden Black. Eu não era uma garota que usava um cartão de crédito como uma patricinha descontrolada, mas agora tudo mudou. Minha confiança mudou.
                    No dia seguinte, acordo às 10:00 horas, vou para o banheiro, tomo um longo banho e escovo os dentes. Em seguida, visto uma regata de seda vermelha, uma calça jeans preta e um par de sapatilhas, penteio meu cabelo e faço um rabo-de-cavalo. Saio do meu quarto, passo pelo corredor e vou para a cozinha.
                    Chegando lá, encontro minha mãe fritando ovos. Ela é da minha altura, tem a mesma cor de cabelo e olhos que eu, então somos bem parecidas. Meu pai não está conosco pois ele está trabalhando na loja de equipamentos 'mágicos' da família, pode parecer meio idiota, mas a loja é bem frequentada.
                 O cheiro de bacon invade toda a cozinha, me aproximo da mesa que, em cima, está com pães, sucos e biscoitos, e me sento.
-Bom dia bruxinha. -minha mãe cumprimenta, 'bruxinha é meu apelido entre a família.
-Bom dia mamãe, o cheiro está delicioso.
-Obrigada... -ela se aproxima e coloca um prato de ovos e bacon na minha frente. -Fiz do jeito que você gosta.
-Obrigada.
             Minha mãe se senta comigo, eu me sirvo com um copo de suco e começamos a conversar.
-Hoje eu vou fazer compras com sua tia Anna em uma feira, quer ir conosco? -ela me convida.
-Não, hoje eu vou no shopping comprar livros.
-Ah... As suas amigas vão com você?
-Não sei, não convidei elas ainda.
-Que horas você vai?
-Aproximadamente às três horas da tarde.
-E você quer que eu traga alguma coisa da feira?
-Só alguns livros em latim, por favor.
-Tudo bem, eu vou sair antes que você então se divirta no shopping.
-Igualmente.
                 Nós duas terminamos de tomar o café e lavamos a louça. Geralmente minha mãe demora muito pra voltar dessa feira, principalmente se for com a tia Anna. Eu já fui algumas vezes, é bem legal, tem de tudo sobre decorações e equipamentos de magia, coisas que eu simplesmente amo!
                 Algumas horas se passam, minha mãe se despede de mim e vai para a feira de magia. Não demora muito para que eu pegue minha bolsa e saia de casa. Eu vou com a mesma roupa que usei de manhã, apenas deixei o cabelo solto. Peguei um táxi e em menos de meia hora, cheguei no shopping.
               O movimento está tranquilo, pessoas caminhando, conversando ou comendo estão por todo o lugar. Pego meu celular, ligo para o telefone da Felícia e a convido para ir ao shopping, mas ela diz que está com o Max e que estão fazendo um trabalho... Sei. Em seguida, ligo para Lynn, a desculpa dela é que ela está limpando o quarto. Começo a ficar desconfiada, ambas pareciam bem nervosas, como se estivessem mentindo para mim, afinal... O que está acontecendo? Por que elas estão distantes de mim? Penso naquela possibilidade que Thomas tenha alguma coisa haver com isso, mas a descarto rapidamente. Já que elas não querem sair comigo, tudo bem... Sobra mais dinheiro no meu cartão.
               Vou nas quatro livrarias que o shopping center de Cliverland possui e compro vários livros, de todos os gêneros e capas. Depois disso, eu vou para a praça de alimentação, peço um lanche no McDonald com uma porção de batata frita e vou para uma mesa. Escuto as risadinhas melosas de alguns casais que estão próximos, então começo a mexer no celular, parece que o mundo inteiro sumiu.
                Estou tão distraída que nem escuto direito o barulho de uma cadeira sendo arrastada. Levanto o olhar e vejo um deus grego... Quer dizer, um rapaz alto, forte, que está usando uma camiseta polo e calça jeans pretas. Seus olhos castanhos são hipnotizantes e seus lábios imploram por um beijo... O que isso Naomi? O que está acontecendo com você?
-Posso me sentar? Já sentei... -ele senta bem na minha frente, fico surpresa com a sua ousadia. -Percebi que você estava tão carente e sozinha, então resolvi lhe fazer companhia.
-Eu não pedi sua companhia, saia daqui. -eu disse com um tom grosso.
-Nossa... -ele põe a mão no coração como se estivesse ofendido. -Isso doeu, sabia? Eu só quero te fazer companhia.
-Eu não aceito companhias de estranhos. -faço um sinal para que ele saia da minha frente. -Por favor, se retire.
                 O rapaz arrasta a cadeira para frente, fazendo-o ficar bem próximo de mim e responde.
-Não... Eu só quero te fazer companhia.
-E eu só quero que você se retire.
               Ele está gostando de me provocar, percebo isso na sua expressão. O rapaz não pára de olhar para mim e vice-versa. Ficamos nesse jogo de olhares por alguns segundos até que ele pega um punhado de batata frita.
-Hey! -dou um leve tapa na sua mão. -Eu paguei por essa porção!
-Mas você não vai comer tudo isso sozinha, não é?
-Olha, cara, não sei quem você pensa que é...
-Ah... É verdade, nem me apresentei direito, meu nome é Black.
-Black não é nome de uma pessoa. -interrompo, pegando uma batata frita.
-Pra mim, é.
-Qual é o seu verdadeiro nome?
-É muito cedo pra você saber, aliás... Qual é o seu nome?
-Naomi, Naomi Cornelius.
-Espera... Seu sobrenome é Cornelius?
-É, por quê?
-Cara, você... Você é parente da falecida Bertha Cornelius?
                  Quando Black disse o nome da minha bisavó, minha postura ficou mais ereta, como se eu estivesse muito interessada no assunto... E no Black.
-Sou bisneta dela, você gosta de magia?
-Eu sou apaixonado por isso... -ele coloca a mão nos cabelos como se não estivesse acreditando no que estava acontecendo. -Eu estou sentado com a bisneta da maior bruxa da Bélgica!... Você tem poderes?
-É muito cedo para você saber.
-Então quer dizer que você tem poderes... -ele pega minha mão e sussurra. -Mostre-os para mim.
-Ainda não. -solto minha mão e me levanto. -Foi bom ter te conhecido, Black.
-Isso é uma despedida?
-Aceite como quiser.
                Pego minha bandeja, jogo os restos de alimento no lixo e passeio pelo shopping. Sinto que Black está próximo de mim, pois meus pêlos dos braços estão arrepiados, isso é um sinal que estou próxima de alguém que eu gosto. Eu costumava ficar assim perto do Thomas. Costumava. Black me puxa levemente pelo braço e meus olhos param no seu tórax.
-Não fuja de mim, Naomi. -ele sussurra no meu ouvido, um frio percorre pela minha espinha, um frio de excitação.
-Então não me persiga. -respondo com um tom nervoso e separo o meu corpo do de Black.
-Você já ouviu falar em amor à primeira vista?
-Amor à primeira vista só ocorre quando duas pessoas ficam interessadas uma na outra, eu não estou interessada em você. -ultimamente eu tenho mentido demais.
-Eu não acredito em você, é óbvio que você está interessada em mim... -Black passa o dedo indicador nos meus lábios. -E está louca para me beijar.
-Você é muito abusado mesmo! Você senta na minha mesa sem a minha permissão, come minha batata frita sem pedir e agora está falando que eu estou interessada em você! Se por acaso você me roubar um beijo, eu vou...
                 De repente, Black me beija. Milhões de sensações estão percorrendo no meu corpo, nossas línguas estão descontroladas, não sei o que eu faço, já que esse é o meu primeiro beijo, sinto as mãos dele passando pelo meu cabelo e depois pelo meu corpo. Nem sei por quanto tempo ficamos nos beijando, o beijo está tão bom que parece que os segundos se transformam em horas. Black pára de me beijar e eu me afasto com a respiração ofegante.
-O que você vai fazer? -ele pergunta.
               Eu adoraria beijar Black de novo, mas estou sem fôlego e tenho que me manter forte, por isso nem respondo a pergunta dele.
-Acho que isso responde minha pergunta. -ele conclui. -Isso foi uma despedida recente, se você quiser me encontrar de novo, estou nos becos de Cliverland... Tchau Naomi.
                Ele se afasta e eu coloco minha mão na minha boca. A ousadia, o atrevimento e a beleza de Black me encantaram. Não estou apaixonada por ele porque já sofri demais com isso, mas digamos que estou interessada nele, ele até que é bonito... E forte... E útil. Já que, assim como eu, ele adora magia e tem um jeito de bad boy, Black seria um ótimo cúmplice, ele faria tudo o que eu mandasse, investigaria se Thomas tem alguma coisa haver com esse distanciamento da Lynn e da Felícia, seríamos uma ótima dupla.
               Quando saio do shopping, o céu está começando a escurecer. Antes que eu pudesse pegar um táxi, vejo Black saindo do shopping e ele olha fixamente para mim. Entro no táxi e percebo que ele continua olhando para mim. Durante minha volta para casa, decido que, algum dia, eu vou para todos os becos de Cliverland à procura de Black... E eu vou encontrá-lo.

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