Thomas

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Estou animado para a festa da Celina (mesmo sem saber quem é ela), mas Max está muito mais animado com isso, dá a impressão que ele nunca foi à uma festa. Os pais dele são religiosos, querem que o único filho seja um homem direito e que ele permaneça virgem até os quarenta anos ou até encontrar a mulher perfeita. O sr e sra. Campbell (os pais de Max) não deixam que ele vá para alguma festa comigo porque (a) Max vai COMIGO e digamos que não sou um rapaz que, em uma festa, fica em um canto escuro e mexendo no celular, (b) eles preferem que Jack, O Estripador leve o filho do que eu e (c) segundo os pais de Max, 'essas festas são um prato cheio para o pecado da luxúria, as garotas ficam nuas ou seminuas, bebidas... Sexo, tudo isso acontece nesse tipo de festa.'. Meu Deus, quanta bobagem! Algumas garotas não ficam mais nuas! Max tem que usar seu incrível poder de convencimento para ir á essa festa comigo, ele tem descobrir o incrível mundo da adolescência, porque fazer sexo pela primeira vez aos quarenta anos não dá, né?.

Penso no bilhete de Lynn e nas palavras dela 'não acredito em monstros'. São palavras simples, mas intensas, eu também não acredito em monstros pois sempre assisti filmes de terror, desde pequeno, eu sabia que aquele sangue era cobertura de morango ou suco de tomate, aqueles rostos assustadores eram apenas máscaras ou maquiagem... Nada daquilo é real. Eu e Max vamos em direção à biblioteca, entrego o bilhete para ele e explico a mentira que contei para o sr. Banks.

-Lynn é esperta... -fala Max, dobrando o papel e me entregando o bilhete. -Ela percebeu que você mentiu na cara dura, aliás por que você disse que leu 'A cidade do sol'?

-Para o pessoal se impressionar comigo.

-Eles já se impressionam com outra coisa sua, principalmente as garotas.

-Mas nessa festa as garotas vão se impressionar com você, mi amigo. -falo de frente para Max, colocando as mãos nos ombros dele.

-Se meus pais deixarem...

-Ah qual é, Max?! Essa festa vai ser perfeita para você conhecer alguma garota.

-Meus pais não vão deixar eu ir...

-Max, existe uma coisa muito legal chamada mentira, você fala para os seus pais que vai estudar comigo.

-Estudar com VOCÊ? Thomas, meus pais não são idiotas.

-Então fala que você vai estudar com alguém em algum lugar e pronto! Vamos para a festa da Celina Worth... Worth... Qual é o sobrenome dela mesmo?

-Worthson.

-Essa mesmo.

Entramos na biblioteca. A biblioteca do colégio é enorme, descendo uns quatros degraus, há várias mesas compridas e muitas estantes repletas de livros. Se eu não detestasse ler, leria todos aqueles livros, Max se aproxima da mesa da sra. Grey, a bibliotecária. Ela trabalha no colégio há 20 anos, sempre está com o cabelo preso com um coque, usa óculos estilo anos 50, está sempre com sua revistinha de palavras cruzadas e toda vez que um aluno se aproxima de sua mesa, ela encara de um jeito meio 'O que você quer?'.

-Bom dia sra. Grey. -cumprimenta Max, tentando animá-la.

-Meu dia estaria ótimo se eu estivesse na minha casa, tomando chá e jogando palavras cruzadas.

-Concordo na parte de estar em casa e tomar chá.

-O que você quer, Maxwell?

-Eu queria saber onde posso encontrar livros do gênero ficção científica.

A sra. Grey larga a revistinha e a caneta, tira os óculos que fica preso em uma cordinha em volta do pescoço e se levanta. Ela está usando um vestido longo florido, como está um pouco acima do peso parece um botijão de gás com capa, usa meias compridas batendo nas canelas e usa sandálias. Ela passa por várias estantes, eu e Max a seguimos, ela pára e aponta para o final do corredor comprido de estantes.

-Vire para a esquerda e na oitava estante, você vai encontrar o que quer.

-Muito obrigado, sra. Grey... Thomas, você não precisa ir comigo.

-Você não quer minha companhia?

-Você sabe que eu sou indeciso, posso demorar um pouco para escolher um livro.

O que Max disse é verdade, ele é muito indeciso e eu sou muito impaciente, o lema da nossa amizade é 'os opostos se atraem', mas no nosso caso nossos opostos se atraem como amigos e não como namorados.

-Tá bom, eu vou ficar sentado naquelas mesas. -apontei para as mesas compridas.

-Tudo bem.

Max passa pelo corredor e some no meio das estantes. Eu vou para uma mesa e me sento no banco, há umas quinze pessoas espalhadas pela biblioteca, umas estão procurando algum livro e outras estão sentadas lendo seus livros ou fazendo algum trabalho. Como esperar Max é algo extremamente entediante, presto atenção em tudo: no tic-tac do relógio pendurado na parede, no jeito de as pessoas viram as páginas dos livros, na sra. Grey muita concentrada nas palavras cruzadas... Ouço um pequeno barulho de sapatilhas andando pelo chão de madeira, me viro e lá está ela... Lynn. Ela desce a pequena escada e vai em direção à sra. Grey, os cabelos de Lynn reluzem deixando eles com uma cor vermelho-fogo e balançam como se ela estivesse uma praia. Será que ela reparou que eu estou aqui? Será que ela vai vir falar comigo? Por que estou tão fascinado pela Lynn? Ela é só uma garota e eu já fiquei com várias garotas. Depois de falar com a bibliotecária, ela vai para o mesmo corredor que Max está, mas antes Lynn dá alguns passos para trás, se vira e percebe que eu estou na biblioteca, ela me olha de um jeito que parece que o Godzilla está na biblioteca. Quando percebe que sou eu, Thomas Clark, que está sentado, quietinho na biblioteca, ela simplesmente some nas prateleiras. Com certeza ela vai encontrar o Max, será que eles vão ter uma conversa longa ou apenas vão falar um 'oi'? Será que tanto ela quanto ele vai falar sobre o bilhete? E eu ainda me pergunto... Por que estou tão fascinado pela Lynn? Meu cérebro fala 'Ela é apenas uma garota.' e meu coração fala 'Seu idiota, você está começando a gostar dela.'. Será mesmo? Eu estou começando a gostar da Lynn Carter? É tão confuso... Pois é, Thomas Clark, bem-vindo ao mundo da adolescência.

The CurseOnde histórias criam vida. Descubra agora