Sarah
Hugo me deu muito que pensar neste dia. Passei o resto da tarde com minha pintura e uma cabeça cheia. Ele foi para o escritório trabalhar. Ainda não voltou a aparecer e agora eu decidi caminhar um pouco pelo bosque ao lado da casa. Sempre foi um lugar que eu adorei passear. As plantas, o riacho, as pedras e até o vento me fazem muito bem. A conexão com a natureza talvez seja o que mais me agrada nessa chácara. Herdei muito do lado naturalista da minha mãe, exceto, é claro, a alimentação. Minha mãe tentou, como tentou, mas a única coisa que consegui de fato foi a minha devoção com os cristais e os aromas naturais. Ocasionalmente fazia algumas terapias que aprendi com ela, aromaterapia, cristaloterapia e cromoterapia. Talvez deva voltar a fazer isso. Pode me ajudar a entrar novamente em equilíbrio.
Estava sentindo necessidade desse ar puro. O terreno da chácara é grande. Temos um espaço com bosque, lago com peixes e patos. A vegetação tem muitos pinheiros e araucárias. O clima é úmido e um pouco frio nessa época do ano, mas não deixa de ser agradável. Funciona muito bem para colocar os meus pensamentos em ordem. Os nós da minha cabeça precisam ser desfeitos, tudo que vem acontecendo em minha vida desde que essas pessoas apareceram me confunde. Nunca tive tantas pessoas diferentes por perto. Nunca tive que conviver com um homem como o Hugo. Ele não é nada da imagem que costumo guarda do sexo oposto. Que no meu caso se restringe aos que tenho medo ou quero me manter longe. No caso Andrei e Edu, eu já havia me habituado tanto que eram quase parte de mim. Hugo é um excelente profissional, isso é bem óbvio. Apesar de ser simpático e brincalhão. Não me deixa duvidar do quanto quer que eu me recupere e fará todo o possível para isso. Sua presença marcante que me deixa desconcertada. Ele tem aquela mania de me olhar fixo o tempo todo. Mesmo assim, isso não me deixa com medo, como seria de se esperar, baseado no que costumava acontecer em meu histórico. Não me sinto ameaçada por ele. Ele aguça a minha curiosidade, me deixa intrigada e muito agitada. O fato é que fico ansiosa pela presença dele. Hoje eu me vi aguardando sua chegada, quando saiu para o supermercado, enquanto pintava no fim da tarde, ficava olhando para a porta, na esperança de que ele aparecesse. Eu ocupei boa parte do tempo pensando na nossa interação. Até deixei de me lembrar do peso da minha solidão ou o tormento que sempre comprime as minhas entranhas. Isso parece improvável, mas a presença dele me faz me sentir melhor, pintar me fez sentir melhor, essa casa, esse bosque. Talvez eu consiga mesmo seguir em frente. Uma pequena migalha de esperança começa a surgir em meu peito.
A noite já começa a cair durante meu retorno para casa. Algumas luzes estão acesas no jardim e a casa está parcialmente escura. O som de leves batidas na água aguça a minha curiosidade. Vem da piscina.
A noite está fria, mas a água aquecida da piscina deve está bem agradável. Da varanda eu consigo enxergar o vai e vem do Hugo na água. Ele parece um nadador profissional. Parece estar em uma competição. Produz braçadas rápidas e ritmadas, uma performance e tanto. Não se cansa, faz vários percursos de ida e volta, sem sequer parar para descansar. Eu não ouso me aproximar. Após um tempo, comigo ainda escondida em meio à penumbra, ele para ao lado da borda. Daqui dá para escutar sua respiração ofegante. Dos braços que apoiam seu corpo do lado de fora, eu consigo perceber uma tatuagem. Não dá para identificar exatamente o que é, mas desce do ombro para parte do braço. Não parece aquele homem todo alinhado em suas roupas formais. Nesse momento ele parece outra pessoa, mais jovem, mas levado e muito, muito sexy. Ele decide sair e aí está mais um assombro para mim. Ele se senta na borda, coloca os braços para trás e fica observando o céu escuro. A posição é perfeita para eu analisar o seu corpo nos mínimos detalhes. Ele veste uma calça de natação azul escura, novamente de nadador profissional. Ela é um perigo para a minha sanidade porque parece que ele está sem nada. A calça cola completamente em sua pele e não deixa espaço para a imaginação. Cada contorno, e que contorno! São perfeitamente visíveis. Seu peito e ombro são largos, bem definidos e o abdômen, que neste momento está sendo banhados por gotas e mais gotas de água, é possivelmente a coisa mais extraordinária que eu já vi em um homem. É claro que você tem que levar em conta que eu não tenho qualquer experiência com homens, além de Edu, alguns amigos dele e o que os filmes e internet me apresentam, mas isso aqui, ao vivo e à cores, está me deixando nervosa. Como aquele homem consegue esconder tudo isso de forma tão despretensiosa? Os movimentos da respiração em seu corpo estão quase me deixando hipnotizada. Estou me sentindo uma adolescente deslumbrada aqui escondida, devorando o seu corpo com os olhos. Posso não ser uma adolescente, mas com certeza, ver Hugo sem suas roupas elegantes, com esse corpo apetitivo, prendeu a minha atenção e provocou um incêndio tão inesperado que me deixou de pernas bambas.
Eu me assusto quando ele se levanta e pega uma toalha na cadeira ao lado. A calça agarra tanto suas pernas, quadril e bunda que parece tão desconfortável quanto as minhas entranhas que começaram a se remexer. Só sei que não é nada desconfortável de olhar. Ele vem se aproximando e eu me encolho atrás da coluna da varanda. Patético, na penumbra espionando um homem quase nu desfilar... Ele está mais próximo, passa a toalha pela cabeça. O movimento faz com que seus músculos contraiam ainda mais. Quando foi que eu fiquei fascinada por pedaços de corpo masculino? Ele passa ao meu lado e eu me abaixo rapidamente para que ele não me veja. Minha bunda bate no vaso fazendo-o despencar no chão. Que desastre! Hugo se assusta com o barulho.
— Sarah? — agora já era. Nem me procure nos achados e perdidos porque minha situação é irrecuperável. Aqui jaz Sarah Schmidt.
Ele volta para onde o vaso caiu e me encontra abaixada no chão. Conseguem encontrar algo mais constrangedor?
— O que faz aqui, Sarah? — Eu me levanto mais rápido que posso, engulo seco e busco qualquer desculpa e nada vem na minha mente.
— É... eu...
— Estava me observando? — Seus olhos têm um ar divertido.
— Eu... — a proximidade é muito grande e meus olhos desviam para o seu peito nu. Uma pele morena com leves pelos pretos roubam a minha atenção. Algumas gotas ainda passeiam despretensiosamente do peito em direção à barriga, meus olhos teimosos acompanham essa viagem lenta e ousada até o cós da calça. Nesse ponto o volume abaixo é qualquer coisa proibida porque ele toca o meu queixo e levanta as minhas vistas para o seu rosto. Deixa eu olhar desgraça!
— Tudo bem? — pergunta com um sorriso de lado, daquele jeito que faz a sua covinha aparecer e me diz que ele sabe exatamente o que eu estava fazendo. Espiando e babando, vergonhosamente babando por seu corpo espetacular.
— Eu... estava escuro, não vi o vaso — isso deve servir para justificar a minha cara patética. — eu acho que tem outra tatuagem escondida ali do lado — aponto para a lateral do seu corpo. Ele continua segurando o sorriso atrevido para não se transformar em uma risada. É verdade, se não me engano tem outra tatuagem escondida na lateral do cós.
— Sarah...— ele me alerta fazendo aquele biquinho, ai meu Deus! Pensa Sarah, pensa!
— Ia perguntar o que faríamos para o jantar — graças a Deus uma ideia aparece do nada.
— Acho que vamos sobreviver, temos congelados — ele brinca e depois se vira voltando a caminhar em direção à casa.
— Ah, ótimo — meus olhos continuam acompanhando seus passos. Porque eu sou tão patética? — que desenho tem a outra tatuagem? — cala a boca, Sarah!
— Vou tomar um banho e volto para colocar algo no micro-ondas. —ele sorrir descaradamente e me deixa no vácuo.
— Eu também farei a mesma coisa, é...quer dizer, tomar banho — vai logo para o banho e vê se apaga esse fogo e para seu bem, esquece que esse momento existiu.
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Minha Alma - Degustação ( Livro Completo No Site Da Amazon)
RomanceDuas pessoas marcadas pelo destino. Uma atração irresistível em meio a todas as impossibilidades. "Às vezes a vida nos dá uma rasteira. Acabamos caindo em abismos que parecem não haver mais saída. É nesse momento que o mais improvável sentimento faz...