A Princesa De Gardélia

Capítulo 13

O capítulo que vai acabar com 1/10 da minha alma.

Ava

Simplesmente não dormi. Todo o cansaço se acumulou e fiquei ainda mais mal humorada.

Deixei Charles dormindo,  e fui até a masmorra.  Aquela mulher estava lá,  acorrentada e suja, os cabelos desengrenhados.  Havia dado um tapa no rosto dela, meus dedos estavam desenhados perfeitamente.

Apertei discretamente o casaco de Charles contra mim, sentindo o calor e o cheiro que tanto amava.

- Não consegue dormir, Vossa Majestade? - pergunta, sarcástica.

- Alguma coisa não me tira da cabeça, que eu te conheço!

- Hooo, então permaneci na sua mente, cabelo de menstruação? - e então, tudo fez sentido.

Camila, a garota do ensino médio, princesa de Acrybe, um país pequeno e muito distante de Gardélia.  Na época, príncipes e princesas estudavam no Saint Forest, então, ela foi enviada para Gardélia num ato diplomático do seu pai. O Colégio nunca mais foi o mesmo. Bullying para todos os lados, Camila era a típica princesa rebelde e encrenqueira. Meu apelido era cabelo de menstruação. Não que eu ligasse muito, duvido que alguém no Saint Forest não se lembrasse dela.

Ela desapareceu anos depois, havia boatos de que tinha enlouquecido e seus pais a internaram, mas ela fugia constantemente, até que até os próprios reis a perderam de vista.

- O que aconteceu com você? - pergunta, com pena.

Camila parecia mesmo louca. Piscava o olho esquerdo com frequência,  e forçava o direito pra fora, ria do nada e virava a cabeça de um jeito diabólico.

- Você me roubou tudo! - profere.

- Do que está falando? - segurei na grade, bem perto.

- A culpa foi toda sua! - agora, sussurrava.

- De que raios está falando?

- Ele me deixou por sua causa!

- Está falando do Charles?  - meu nariz agora entrava na cela, de tão perto que eu estava.

- Ele se apaixonou por você, me abandonou por sua causa!

- Você o conheceu primeiro, você sumiu anos depois, quando apareceu de novo, Charles já era meu pretendente. Nem sabia da sua existência!

- Ele me deve a vida! O mínimo que deveria fazer era se casar comigo! - altera o tom.

- Do que diabos você está falando agora?

- Com 5 anos, ele me chamou para brincar no lago congelado, o gelo rachou e ele caiu. Eu pulei para salvá-lo, e onde você estava? Ele me amava! Dizia que Não me abandonaria!

- Vocês eram crianças!

- NÃO IMPORTA! - E então, ouvi o barulho das correntes de seus pulsos que estavam atrás do corpo até então se abrirem, e ela levantou correndo até minha direção.

- AVA! - Charles me puxou pela cintura e me girou, ficando de costas para Camila, ouvi um gemido de sua parte.

- Charles? - chamo, preocupada. Então o fito, curvado, com uma adaga presa na lombar... - não....Charles!

- Você está bem? - me pergunta.

- NÃO! NÃO! CHARLES, ME PERDOA. ERA PRA ATINGIR ELA. EU SINTO MUITO. ME PERDOA.

- Se atingisse ela, eu mesmo...te mataria.. - e então caiu de joelhos.

Eu estava em choque!

- GUARDAS!

************************************

As crianças ainda dormiam. Charles precisou ser levado para uma cirurgia. A adaga retirada estava enferrujada e se partiu dentro dele, em certos momentos, alguns membros da equipe de Parker saiam e então voltavam, o próprio Parker saiu uma hora depois e me deu informações.  Ele estava bem, não corria nenhum risco, só precisava descansar e estava me chamando.

Eu entrei apressada depois de murmurar um obrigada. Charles estava deitado, quando muito, enfaixado.  Aquele abdômen que eu tanto amava passar a língua, agora, machucado...por minha causa.

- Eu sei o que está fazendo, morango! Não foi sua culpa!

Causei tanto mal a alguém que me conhece tão bem por pura infantilidade e insegurança.

- Se eu não tivesse ido...

- Não importa mais...eu estou aqui, não vou a lugar nenhum! Vai ter que me aturar mais um pouco!

- Vou te aturar minha vida toda, até você virar aqueles vovôs pelancudos e eu uma velha rabugenta e insuportável!

Beijei sua boca, sentindo a paz invadir meu ser.

Charles

- Amor...Morango...

- Humm... - levanto, sentindo câimbras no meu braço. Dormi apoiada neles, sentada ao lado de Charles.

- Não vai descansar direito assim. Vá dormir! Vou ficar bem!

- Preciso ver nossos filhos... - digo, coçando os olhos.

Olho para Charles. Ele está sorrindo. Um sorriso agradecido.

- O que foi?

- Você fica igual a Nanda quando coça os olhos com sono. Uma verdadeira criança.

- Eu vou ver nossos filhos e volto!

- Tudo bem! Eu te amo!

- Eu também te amo!

Beija minha boca, morde meu lábio inferior e suga o de cima...meu Deus, que mulher...

- Eu não estou bom pra coisa agora, mas assim que eu melhorar, você não me escapa!

- Então melhore logo. - sussurra no meu ouvido e pego pelo meio do seu cabelo, entranhando meus dedos em seu couro cabeludo...estava excitado.

Ela saiu pela porta, na mesma hora Parker entrou.

- Pelo sorriso dela, você não contou! - fechou a porta e se apoiou na mesma.

- Contar que Camila veio aqui com o propósito doentio de matar ela com uma adaga envenenada, com um veneno sem antídoto que agora está tomando conta do meu corpo? Não, nao contei! Vou dar um jeito! Ela já se culpa pela facada. Se eu contar isso, vai pensar que, caso eu morra, a culpa vai ser dela. Você não pode contar! Caso eu morra envenenado, não pode contar a ela!

- Charles, que desculpa vou dar?

- Descubra uma doença, invente qualquer coisa, menos a verdade!

- Charles...você já pensou se você realmente morrer?

Parei... meus olhos encheram de lágrimas. Meus filhos, minha mulher...o Amor da minha vida, que eu queria estar junto pra sempre...agora, muito provavelmente teria que deixá-la... Nanda, Dandara, Dominic...meus amores...

- Vai dar tudo certo! Sua equipe vai achar uma cura. O que a Camila disse?

- Como foi você quem levou a facada, ela está colaborando. Disse que não tem antídoto, e que quem tem contato com a toxina, vai definhando pouco a pouco, acabando morto em 3, 5 meses no máximo!

- Então temos tempo! Vai dar certo!

Depois de anos, olha quem tá de volta? Não se empolguem.  Vou sumir novamente.