Homem de Gelo e os Novos Mutantes (Marvel 717 1)

Novos Lares

Bem, eu tenho temido mudar

Porque eu construí minha vida a sua volta

Mas tempo te deixa mais corajoso

Mesmo crianças envelhecem

E eu estou envelhecendo também

Landslide — Fleetwood Mac

06 de março de 2020

Foi um mês difícil, para dizer o mínimo. Desde a reportagem sobre os corpos no esgoto, o Instituto começou a encher de pais desesperados para encontrar seus filhos, e até Nathaniel estava tendo dificuldades para ajudar a coordenar tudo. Vinha tentando ajudar Bobby ao máximo, por saber o nome de todos os integrantes e conseguir levar todos aos seus pais com facilidade, mas ainda assim, foi difícil. Bobby teve de começar a agendar horas com os pais, pois nem todos Morlocks queriam voltar para casa, e ainda haviam aqueles cujos pais nem apareceram. Nem mesmo para buscar o corpo. O Instituto financiou os enterros daqueles cujas famílias não apareceram depois de algum tempo e apenas agora, em março, as coisas começavam a entrar em algum tipo de ritmo possível de acompanhar.

Nathaniel, Juna, Santino e Riya tinham se voluntariado para serem os últimos a terem a situação resolvida por Bobby. Nath não conseguia deixar de sentir-se culpado pelo que os outros tinham passado, e assim se consistia sua forma de tentar ajudar, tentava afastar os outros do trauma do ataque e de suas consequências o mais rápido possível. Eles tinham escapado de tudo. Podiam esperar.

E com isso, só em março Nath foi chamado para a sala de Bobby para conversar. Nesse meio tempo, o mutante tinha suspendido todas as aulas do instituto e tinha mandado todos os professores de férias para a casa. Dava para ver como o caos tinha o deixado cansado. Nath bateu na porta devagar, mesmo ela estando aberta, para chamar a atenção de Bobby.

— Ah, olá! — O Homem de Gelo cumprimentou, com um sorriso cansado, mas feliz, no rosto. — Sente-se, por favor.

O telefone de Bobby estava sobre a mesa, aberto em um aplicativo que convertia fala em texto. Nath sabia porque estava ali. Era para regularizar sua situação. Bobby vinha fazendo isso com todos os mutantes já há um mês, eventualmente sua hora ia chegar. Ele sentou na poltrona, um pouco receoso, e aguardou enquanto Bobby clicava algumas coisas em seu notebook.

— Nathaniel... Nathaniel... ah, achei. Nathaniel Taylor, é você, correto?

O garoto concordou, lendo uma ou outra palavra no celular. Tão próximo de Bobby não era assim tão difícil de ouvir, mas o celular ajudava bastante. Nath Tinha ajudado o mutante a fichar todos os Morlocks pelo nome, até para poder gerenciar as coisas. Não sabia quanta pesquisa Bobby tinha feito a respeito deles a partir de seu nome, mas considerando como ele vinha dando conta de tudo, julgava ser uma boa quantia.

— Você fugiu de um orfanato? — Bobby perguntou, rolando alguma coisa na tela do computador.

Nathaniel deu de ombros. Não era seu momento mais glorioso.

— Olha, eu morei lá a vida inteira, nunca conheci meus pais. E isso nunca me incomodou, exatamente. Quer dizer, deve ser horrível perder os pais quando se os conhece, mas eu? O orfanato era minha família, a vida que eu conhecia. Até eu começar a mutar. Ninguém me queria lá mais, estavam com nojo, deu pra ver. Então, é, eu fugir sim.

Bobby abriu um sorriso pequeno.

— Tudo bem, Nath. Não estou te repreendendo por isso.

Não estava? Oh. Nath relaxou um pouco a postura, começando a bater o pé devagar no chão, ansioso. Vários dos Morlocks tinham voltado para suas casas à força, obrigados por pais que os odiavam mas não queriam ser vistos como pais ruins. Bobby bem tinha tentado convencer esses pais a deixar os filhos ficarem, mas não eram muitos dispostos a deixar os filhos naquele — como ouviu um dos pais dizer —, "antro de bicho esquisito". Agora, na sua situação, não fazia ideia do que iria acontecer. Não tinha pais para exigir seu retorno para casa, se fosse obrigado a voltar para o orfanato, provavelmente, fugiria de novo, como tinha certeza de muitos mutantes forçados a voltar para suas casas acabariam fazendo.