Maus Presságios

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Me acorde

Você não vai me acordar?

Eu estou preso em um pesadelo

Presa em um pesadelo

Me acorde

Eu quero sentir o sol

Eu estou preso em um pesadelo

Presa em um pesadelo

Bad Dream — Ruelle


04 de fevereiro de 2020


Estava escuro.

Não deveria ser estranho, era sempre mais escuro nos esgotos, mas daquela vez a sensação era diferente. O escuro parecia sufocante, poderoso. Juna sentia um arrepio na espinha, uma sensação assustadora de estar sendo observada.

A garota franziu a testa. Nenhum de seus amigos estava ali. Não havia ninguém ali. Aquela sensação não fazia o menor sentido. Ela caminhou, ouvindo sons molhados das poças de água sendo pisadas pelos seus pés. Apesar do escuro, Juna conseguia ver relativamente bem. Estava no palanque usado pelos Morlocks como acampamento, mas o lugar estava estranhamente vazio. As barracas não estavam ali, nem as prateleiras, e nem as pessoas. Nada.

Juna atravessou o local, ainda tendo como seu único companheiro o ruído da água do chão sendo pisada. Não gostava de estar sozinha daquela forma. A garota olhou para a parede, ao fundo do palanque e conseguiu visualizar algumas coisas brilhando, presas ao cimento.

A garota se aproximou, pouco a pouco, o brilho se revelou como vindo de belíssimas adagas de cristal, transparentes e presas à parede, uma ao lado da outra. Pareciam formar um desenho específico, algum padrão contra o concreto. Ela desejou poder visualizar a imagem, e nesse instante, as luzes do esgoto se acenderam. Juna arregalou os olhos, surpresa, e voltou o olhar para o padrão. Agora, com a visão da parede inteira, pode ver que as adagas formavam uma palavra:

"Mutada".

Ela engoliu em seco. A forma pejorativa usada pelas pessoas para se referir aos mutantes a machucava muito. Sua já baixa autoestima era facilmente afetada por esse tipo de coisa, e a garota começou a chorar, levando as mão ao rosto para tentar esconder as lágrimas escorrendo sobre sua pele deformada.

Juna caminhou para trás, afastando-se da parede, desejando se colocar o mais distante possível dos cristais. Sentia a palavra a ferindo quase fisicamente. Chegava a doer. Não queria ver aquilo, não mais...

Ela virou de costas, abaixando a cabeça. Devagar, Juna abriu os olhos, contendo soluços de choro e limpando as lágrimas no canto dos olhos. No mesmo instante, ela se arrependeu de tê-lo feito.

Juna conseguia agora ver a água que pisava sob seus pés, e não era água. Era sangue.

A mutante gritou.


Juna acordou gritando de verdade, sentando-se de uma vez em sua barraca e tentando conter os soluços subindo por sua garganta. Os pesadelos estavam ficando piores a cada dia. Já tentara de tudo para fazer aquilo parar. Chás calmantes, músicas, ficar acordada jogando até enfim dormir de cansaço... Nada surtia efeito. Estava constantemente atormentada por imagens violentas como aquela, e não fazia ideia do que poderia fazer sobre isso.

Homem de Gelo e os Novos Mutantes (Marvel 717 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora