Mantive tudo aqui dentro
E mesmo eu tendo tentado, tudo desmoronou
O que isso significou para mim será eventualmente
Uma memória de um tempo quando
Eu tentei tanto e cheguei tão longe
Mas no fim, isso nem mesmo importa
Tive que cair, que perder tudo
Mas no fim, isso nem mesmo importa
In The End — Linkin Park
12 de março de 2020
O olhar de Luke tinha se voltado na direção da purificadora capturada, mas estava perdido, focado em nenhum ponto em particular, acompanhando os devaneios de sua mente distraída. Conseguia entender a lógica daquele momento. Sua mãe biológica estava presa em amarras no chão da sala de controle. Ela tinha o abandonado quando criança, e o menosprezado mais uma vez agora, depois de encontrá-lo já adolescente. Ele devia estar triste, decepcionado, talvez solitário, mas não sentia nada disso agora. Não sentia nada.
Aquela sensação de apatia, de olhar a mulher e ter por ela os mesmos sentimentos direcionados a qualquer inimigo capturado em batalha bagunçavam os pensamentos de Luke. Não parecia correto que nem mesmo algum tipo de rancor ocupasse seu coração agora, mas ao mesmo tempo, parecia perfeito. Afinal, não tinha a conhecido por toda sua vida, tendo sido entregue para a família que o criou logo depois do parto. Tinha tido mãe, pai e até irmãos, sendo assim muito mais afortunado que várias crianças de sua idade poderiam se gabar de ser. Talvez, pensou, fosse isso. Talvez ter tido uma família o fizesse ter pela sua mãe biológica a mesma apatia que ela tinha por ele.
Estava sentado em uma das cadeiras do local, de costas para o computador e esperando Juna terminar a busca que precisava fazer. Ele ouviu o ruído de rodinhas arrastando, e pela primeira vez desde o fim da batalha desviou os olhos da mulher, vendo Heather se sentando ao seu lado. Ao contrário de Luke, ela parecia preocupada; era uma boa metáfora da situação, ter uma garota completamente desconhecida para a mulher se afetar mais com todo o ocorrido que ele próprio.
— Luke? Você está bem?
Ele deu de ombros. "Bem" não era uma descrição precisa, mas talvez fosse a melhor forma de colocar em palavras como se sentia agora para outra pessoa entender.
— Estou. De verdade.
— Entendi... É que... Bom...
— Eu sei, é uma coisa muito doida não é? — Luke respondeu, dando um sorriso meio sarcástico e meio incrédulo para a amiga. — Não sinto nada, Heather. É como se fosse uma completa estranha. Se sinto alguma coisa agora, é saudade dos meus pais e irmãos de verdade. Desde que tudo isso começou, eu mal voltei em casa pra visitá-los. Eles sequer sabem que eu tenho namorado agora.
Ela franziu a testa, apoiando-se contra o encosto da cadeira. Parecia confusa e pensativa, e Luke a viu abrir e fechar a boca duas vezes, provavelmente pensando no que falar em seguida. Deu a ela o tempo necessário, e a garota acabou puxando as pernas para cima do assento, abraçando os joelhos e apoiando o queixo neles.
— Eu nunca conheci meu pai — ela comentou, enrolando o dedo distraída na barra do vestido. — Ele abandonou minha mãe quando descobriu que ela estava grávida. E depois minha mãe também não me queria, então foi embora quando eu tinha pouco mais de um ano e nunca mais voltou. Tudo que eu conheci pela minha vida inteira foi um carinho de avó. Ela me criou. As pessoas dizem que eu sou mimada por causa disso. Talvez seja verdade.
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Homem de Gelo e os Novos Mutantes (Marvel 717 1)
FanfictionBobby Drake tem sido o Homem de Gelo há vinte anos. Nesses anos, ele viu guerras e festas, fez amigos e perdeu outros, e descobriu, já adulto, que é gay. Quem ouve Bobby falar sobre sua vida não imagina que ele possa estar sentindo falta de alguma c...