VIVA A PRINCESA

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Dezembro de 1988
Mônaco

Faziam alguns meses do baile de pré-coroação e eu estava fingindo muito bem que minha vida estava ótima. Nos dias que se sucederam, Viviane, Leonardo e até mesmo Dona Neyde haviam ligado para saber se tudo estava ok comigo. Era inacreditável que Ayrton tivesse a coragem de tentar me ligar a todo custo depois do que houve no último GP daqui. O ignorei por meses e por não aparecer em mais nenhum GP europeu, a mídia já soube de prontidão que Ayrton e eu era passado. Várias teorias conspiratórias mas nenhuma havia acertado o real motivo do término. Ele era bom moço demais, eu era tonta demais para trair. Quem desconfiaria que uma coisa dessas iria atingir o casal pop da década? Uma princesa e um atleta que era bonito, educado e dedicado ao que fazia.

Nelson morando em Mônaco, virou um dos meus alicerces para tentar superar Ayrton. Afinal, Katherine chutou sua bunda assim que viu que Nelson não ganharia aquele maldito campeonato. Piquet por sua vez, se transformou de certa forma dependente emocionalmente de mim e eu dele. Nossa relação de amizade era complicada. Sempre que eu falava algo de Ayrton, ele revirava os olhos ao me ver chorar e rebatia com um "jura que vai chorar por aquele viadinho?*" ou "um homem de verdade não lhe trataria desse jeito". Muitas vezes, dormia em seu sofá depois de uma incansável sessão de choro e acordava em seu quarto, com ele dormindo no carpete e eu dormindo na cama. Se eu não estivesse quebrada por dentro, eu daria uma chance à ele, pelo simples fato dele me tratar bem. Porém era ali que morava o perigo. Nelson me tratava bem, gostava de mim até certo ponto mas era divorciado. Um divorciado doze anos mais velho que eu e com uma filha à caminho. Uma filha bastarda, mas que ele assumiria e tentaria ficar com a mãe dela.

Pelo menos essa foi minha mentalidade até eu finalmente transar com ele na noite anterior. Não que eu estivesse completamente arrependida, mas eu sabia que não passaria daquilo. Não era justo com Sylvia e muito menos com a bebê que estava vindo a caminho que Nelson implorou para Sylvia colocar o nome de Kelly. Diz ele que para me homenagear. Já que era meu terceiro nome, que em homenagem ao sobrenome da minha mãe, virou Kelly.

Acordar com um homem diferente depois de 3 anos e meio em sua cama é diferente e estranho. Ayrton acordava com o raios de sol em seu rosto e geralmente, durante a noite inteira de sono, não me soltava. Nelson depois do sexo, não tocou em mim além de me limpar ou fazer um carinho no meu rosto antes de cair no sono. O sexo em si com e outro era totalmente diferente. Em um sentia devoção e outro apenas se saciar. O pior de tudo era sentir falta de Ayrton depois de tudo o que fez.

Eu nunca pensei que em algum momento da minha vida eu tivesse que resistir a vontade de ligar para um traidor e pedir para voltar. Mas era tarde demais até para me humilhar.


Na noite passada, antes do sexo selvagem com meu amigo Nelson, ele me mostrou uma fita que um de seus amigos brasileiros trouxe para Mônaco. Como era dezembro, a maioria dos programas já fica na pilha de serem natalinos á toda hora, o que pessoalmente já considero uma merda. Piquet colocou em sua TV meio que contragosto e a imagem dele descendo as escadas de branco me gelou a alma. Eu não prestava muita atenção na loira oxigenada com ele, mesmo sabendo que era a Xuxa, minha atenção era somente nele e em sua voz. Seu sorriso, seu jeito e sua atitude ao lado daquela mulher de roupa minúscula ao lado de crianças.

- "O que você quer de natal?...Presente de natal..." - Xuxa perguntou e então ele fez uma pausa, que por um segundo esperei que fosse sair algo que prestasse dele.

- "Olha o que eu realmente quero não posso falar no... aqui mas..." - Seu sorrisinho era sem graça e tímido

- "Por quê não?" - Ela o provocou, dando outra risadinha.

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