Apenas... Talvez Não

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Lucy POV

Assim que saímos daquela vila, fomos direto para a estação de trem. Demorou um pouco para voltarmos todo o nosso caminho, pois era uma vila afastada. Rogue já ia ficando com uma cara esverdeada só de imaginar que o futuro depois de sair de uma carroça, era enfrentar outro veículo.

- Tern, você vai gostar da nossa guilda -fui declarando, de bom humor enquanto esperamos a chegada do trem- Eu tenho certeza que você consegue invocar alguma magia, vou pedir para o mestre Kyle te deixar ficar conosco e...

- Lucy... -Tern me cortou, ele parecia estar constrangido- Muito obrigado por tudo que fez por mim, Lucy... Mas eu não quero precisar ser dependente de alguém -ele respondeu.

- Como assim? -franzi as sobrancelhas.

- Do que você está falando? -a voz fria de Rogue manifestou, enrugando a testa.

Mesmo sem palavras, eu tenho certeza que esse mago das sombras está pensando algo como: Ela quer te dar uma casa, um lar para você começar a sua vida! Que resposta mal agradecida é essa?

Os olhos exasperados dele me fazia adivinhar facilmente sua revolta.

- A verdade é que... -Tern engoliu seco, mordendo o lábio inferior- Eu quero me redescobrir. Minha mãe depositou fé em mim, eu quero sair em uma jornada para descobrir o eu, que o meu avô e minha vila tentaram reprimir. Eu sempre soube que algo dentro de mim era diferente, mas sempre fingi que nunca existiu porque não queria ser diferente das pessoas da vila -ele sorriu amargo- Mas parece que eu nunca poderia fazer parte deles desde o começo.

Eu o olhei firmemente, e o menino continuou com sua decisão.

- Eu fico muito feliz pela intenção de vocês. Não... Por tudo que fizeram por nós e por tudo que quiseram fazer a mais por mim. Mas não quero depender de ninguém para saber quem eu sou. Quero saber mais sobre esse mundo com minhas próprias mãos.

- Tern... -Rogue deu um passo na frente, porém eu segurei a mão do Cheney.

- Você tem certeza? -minha voz falhou um pouco. Não posso mentir que estava sentindo decepção.

- Sim, eu tenho -assentiu ele- Já passei por muitas dificuldades, sei que sou jovem, mas tenho certeza que vou saber me virar -ele riu- Sobrevivi bem em um lugar que todo mundo estava contra mim.

Aqueles aldeões preconceituosos... Senti meu coração sufocar.

O sorriso dele era tão confiante, que me calei. Me aproximei e lhe dei um abraço. Tern parecia uma criança. Tern parecia alguém que precisava da minha ajuda. Era pequeno e seus ombros cabiam nos meus braços.

- Eu vou ficar bem -riu ele, como se pudesse ler meus sentimentos.

- Se achar que precisa de nós, venha para a nossa guilda. Sabertooth. Estarei sempre de braços abertos para você.

- Sim -sua voz soou um pouco tímida.

E foi tudo o que eu pude fazer. Com Rogue me seguindo, junto com Frosch, entramos no trem. A ultima coisa que vi pelas portas pesadas que se fechavam, foi o sorriso do garoto.

- Ele vai ficar bem -Rogue me disse, tranquilizador. Assenti com a cabeça, querendo acreditar no moreno dos olhos de rubi.

Uma vez dentro do trem, nos sentamos estrategicamente para que o Cheney encostasse a cabeça nas minhas coxas e ele fechou os olhos. Frosch se acomodava confortável na cadeira de couro vermelho da nossa frente, que ficava virado para nós.

Passei um tempo pensando se eu fiz certo deixar o menino para trás. Eu não deveria ter insistido mais?

Quando o sono estava começando a me possuir, ví de relance o que estava prestes a acontecer.

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