Meu Nome

42 4 2
                                    

Ryos POV

A noite nos mercenários sempre foi calma. Embora todos pareçam sem ordem, o grupo sobrevive de lutas e sempre se deparando com imprevistos. Então existe uma lei não escrita de nunca baixar a guarda. Durma quando precisa dormir, para quando existir uma horda de monstros repentina, não lute cansado. Pois isso poderia custar sua vida.

Não existem festas noturnas e muito menos bebedeiras ou madrugadores. Além do plantão habitual. E essa noite não foi diferente, sendo silenciosa. 

Larguei minha capa de corpo inteiro em cima da cadeira ao lado, então ajustei o colarinho da minha camisa de cor negra.

Me sentei na minha cama, fazendo um rangido das molas velhas. A tênue luz da vela estava queimando quase até o fim, mas continuei a encarar a carta nas minhas mãos, com os olhos frios. 

Abri um sorriso sombrio. 

"Os Turtle Shetyw serão invocados para a cidade das luzes. As preparações com o papa ainda estão em andamento. Continue com o relatório de observação até tudo estar pronto."

Foi uma frase curta. 

E esmaguei a carta com um punho fechado. 

Observar, você diz...?

Eu quase a matei. Podia ter largado tudo e finalizado isso de uma vez por todas. Por que preciso continuar com essa farsa?

Como se ironicamente o destino estivesse brincando comigo, comecei a sentir uma dor que começou no meu coração.

- Ugh...

E se espalhou como raízes de uma árvore, indo para meus braços e pernas. Dolorido como uma brasa que se estende por todo o caminho, comendo e deixando um rastro.

A minha respiração ficou errática, como se o ar me escapasse. Arregalei meus olhos quando o suor frio tomou meu corpo. 

Ergui minha mão para a minha bolsa que deixei jogada ao lado da cama.

- Ack... 

Fechei um punho em cima do meu peito, a minha mão tremula agarrou a bolsa de couro. A puxei e tentei abrir. Está amarrado num nó muito firme, e a dor ficou mais forte.

- Arg...!

Franzi as sobrancelhas e com as duas mãos a abri impaciente, a dor enfraqueceu minha força e o conteúdo de dentro da bolsa caiu no chão, vários frascos de vidro se espalharam. 

Minha visão começou a ficar turva. Com pressa, agarrei um desses vidros e o líquido preto dentro chacoalhou. Arranquei a tampa e virei tudo na minha goela. O gosto repugnante e amargo preencheu o meu paladar. Tão horrível quanto o seu cheiro forte. Parecia o aroma de um cadáver em decomposição, tão nojento que logo meu corpo começou a reagir para vomitar.

Ergui meu rosto para cima, fechei os olhos e tampei a boca com força com a palma. Sinto toda a minha pele eriçar e um tremor de rejeição. Calafrios surgiram até a ponta dos meus pés.

O frasco é pequeno, seu líquido tem a quantidade para meio gole, ainda assim, é tão forte. 

Logo, a dor em todo o meu corpo começou a dissipar. Meus olhos desfocados encararam o teto. Quando me acalmei, tombei a cabeça para frente meio curvado.

- Haha... -abri um sorriso.

Me senti patético. Não sabia se sentia revoltado com a pessoa que me fez assim, ou se sentia repulsa pelo meu corpo ter se tornado desse jeito. Mas um grande sentimento de impotência surgiu dentro de mim. Olhei para a bagunça de frascos no chão, iluminados pela luz fraca.

CaminhantesOnde histórias criam vida. Descubra agora