Club de Meninas

121 16 6
                                    

Rogue POV

Uma memória borrosa se apoderou no meu sonho.

Um grande vulto apontou para mim, como se me julgasse.

- Esses olhos horripilantes combinam com esse seu nome, Rogue.

Os olhos das pessoas cintilaram de todos os lados, como sombras negras, largas e altas.

- É um monstro! -a voz de uma criança gritou.

- Mamãe disse que Rogue é um nome de gente amaldiçoada! -berrou a outra criança, em resposta.

- Quem coloca o nome do próprio filho com significado de "mentiroso ou trapaceiro"? Talvez... -uma senhora falava alto, como se contasse uma fofoca interessante- Seja "monstro, maligno"?

De algum lugar uma pedra voou. Acertando um pouco acima do meu olho direito. Quando toquei, estava sangrando.

- Cuidado! Ele vai tomar o seu sangue! -escutei uma risada em algum lugar- Olha para os olhos dele! A cor deve ter vindo de tanto matar pessoas e ele foi amaldiçoado!

- Que olhos desagradáveis -os adultos concordavam.

- Sua pele é pálida igual um cadáver -alguém sussurrou- Essa coisa está mesmo viva?

Meus dedos tremeram e eu fugi para a floresta. O trapo que eu usava como roupa estava sujo e cheirando mal. Corri para me esgueirar na caverna em que eu chamava de casa. Antes de entrar limpei o rosto com a pequena bacia rachada com água que deixei na entrada.

O sangue já parou.

A água estava tão fria que não pude nem mesmo me enganar que tudo poderia ser um pesadelo. Encarei o meu reflexo infantil. Ao ver minhas orbes vermelhas, me senti frustrado, esse cabelo negro deixava minha pele mais branca, arfei e virei a bacia, com raiva. A água escorreu.

Logo percebi o que fiz. Era a pouca água que havia juntado, agora tudo se desperdiçou. Sentindo impotência, ergui outra vez a tigela no lugar. Teria que ir ao lago novamente depois, que fica meio longe daqui...

- Frosch? -chamei timidamente, entrando na caverna, com um suspiro.

Olhei para baixo e encarei meus braços finos de uma criança. Estava com hematomas que se coloriram para roxos.

- Rogue! -uma fofa bolinha verde veio voando com entusiasmo.

- Ugh... -ele me abraçou, mas doeu por causa de um machucado ainda fresco.

- Rogue? -o filhotinho de gato começou a lacrimejar- Está doendo?

Me senti cansado. Fiquei de joelhos em cima do amontoado de folhas secas que eu chamava de cama.

- Aqui -entreguei ao gato um pequeno pedaço de pão que consegui roubar hoje.

- E Rogue? -ele pegou o pão e me encarou preocupado.

- Eu já comi -sorri.

É mentira, meu estômago doeu de fome. Assisti feliz ele comer com alegria, mesmo que fosse pouco a nossa comida.

Logo me lembrei daquelas pessoas.

Me apressei em esconder o rosto com a franja que crescia selvagemente. Mas o cabelo rebelde escondeu apenas meu rosto direito. Meu coração ficou deprimido novamente.

- Rogue?

- É Ryos -murmurei, com o filhote de gato nos meus joelhos. Seus grandes olhos cintilaram puros e preocupados.

- Mas Rogue não é Rogue?

Mordi o lábio.

- Rogue é um nome feio -respondi- Agora é Ryos.

CaminhantesOnde histórias criam vida. Descubra agora