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– Conversar, Eren. Quero ouvir a sua história.

Com essa resposta, Eren apenas concordou silenciosamente e continuou a andar ao lado de Levi enquanto este bebericava seu café. De certo modo, era engraçado observá-lo fazendo isso pois a maneira que ele segurava o copo era um tanto que exótico.

Esse cara tem cada uma. o amorenado pensou segurando um riso que se escapasse, seria seu fim.

Depois de uma caminhada nem tão longa assim, Eren e Levi chegaram a uma praça que para o de olhos verdes não era desconhecida. Ele lembrara de já ter brincado por ali quando era pequeno, sua mãe sempre o trazia aos finais de semana.

O Ackerman escolheu um banco e sentou-se esperando que o garoto fizesse o mesmo, o feito Eren colocou seu querido skate encostado no banco e suspirou. Decidiu que esperaria por alguma pergunta de Levi para que assim iniciasse uma fala.

– E então, Eren... – Levi quebrou o silêncio após um tempo deixando o copo vazio entre suas pernas, iria jogar fora assim que encontrasse uma lixeira. – Quer me contar a sua história agora?

O baixinho manteve o olhar ao longe, para ser mais exato no parquinho onde poucas crianças remelentas brincavam, esperando uma resposta do mais alto. Já Eren, questionava-se por onde deveria começar a falar.

Pelo começo, certo?! molhou os lábios antes de tudo.

– Tudo bem... – iniciou esfregando a ponta dos indicadores uma na outra. – Desde pequeno eu me sentia diferente. Eu nunca me reconheci como uma menininha, eu não gostava das roupas que a minha mãe me comprava, dos vestidos que ela me fazia vestir e muito menos dos enfeites que ela colocava no meu cabelo. Eu gostava mesmo era de estar entre os garotos, de pensar e agir um tiquinho como eles, era confortável. E mesmo das vezes que eu me forçava a ser como a minha mãe queria, soava falso eu dizer que eu era uma menina. Tudo piorou mesmo quando meu corpo começou a mudar... eu me senti extremamente desconfortável quando meus seios começaram a crescer, era como se eles não se encaixassem em mim. Eu me olhava no espelho e não me reconhecia de jeito nenhum, eu não entendia o que tinha de errado comigo. Eu odiava aquilo e ainda odeio pois me faz sentir repulsa e vergonha... – Eren cerrou os punhos e mordeu o inferior antes de prosseguir. – Após eu descobrir sobre a transexualidade através de uma professora substituta, eu vi o quanto aquilo me representava e foi então que passei a pesquisar muito sobre o assunto em todos os sites que eu encontrava, e no fim aquilo realmente me pareceu familiar. No entanto, eu fiquei com medo das reações da minha família e amigos sobre aquilo afinal como seria se eu chegasse e mandasse um: "Ei, por favor, me entendam. Eu nasci no corpo errado e quero muito que vocês me apoiem. Eu não sou uma garota e sim um garoto, então usem o pronome masculino comigo, cuidem de mim e me respeitem." meio bizarro, não acha?

Eren respirou fundo e jogou lentamente a cabeça para trás, sorrindo pouco ao que encarava o azul intenso do céu. Levi apenas escutava tudo em silêncio ainda mantendo o olhar longe, porém totalmente atento.

– Bom, teve um dia que eu não aguentei mais. Eu já tava exausto de guardar aquilo pra mim e cada vez que eu escutava os pronomes femininos se referindo a mim era extremamente chato e desconfortável. Então eu puxei meus pais para uma conversa e me assumi pra eles, porém, a reação deles foi uma porcaria... – riu sem humor nenhum ao se lembrar da reação de seus pais. – Eles acharam aquilo uma baboseira estúpida e sequer deram atenção, disseram simplesmente que era uma fase boba de adolescente que não tem o que fazer. Certo, eu aguentei calado. No outro dia, no colégio, eu resolvi que ia fazer o mesmo só que para os meus amigos. Na minha mente eu tinha certeza de que eles iam me apoiar em tudo... errado. A reação deles foi ainda pior do que a do meus pais, a Annie, o Jean e o Reiner acharam graça de tudo aquilo e para melhorar, ainda fizeram piada. Eu fiquei perdido? – o Jaeger questionou a si mesmo. – É, fiquei! Minha vida foi uma saco desde então. Sempre que eu chegava no colégio e encontrava meus amigos, recebia uma piadinha transfobica de merda como: "Minha nossa, Eren, você é tão 'lindo' só te falta um pau." ou "Você nunca vai fazer o que um homem de verdade faz.", já em casa eu tenho que aturar os meus pais me tratando como uma princesinha indesefa e delicada que precisa de um príncipe para cuidar de si. Eu já agradeço aos céus por minha mãe não encanar tanto com as minhas roupas...  mas é um inferno não ter seu pronome respeitado.

Você me chamou de que?Onde histórias criam vida. Descubra agora