Você me chamou de que?

10.

– Eu realmente te entendo, Eren. – Armin tornou a dizer e Eren riu sem humor. – Eu entendo pois passei por tudo isso e até por um pouco mais... Afinal, eu sou um homem trans... e entendo perfeitamente cada coisa que você sente.

O de fios castanhos piscou algumas vezes e ergueu o rosto, Armin ainda mantinha um sorriso bonito nos lábios e ao encarar profundamente aquelas orbes azul intenso dele, Eren soube que o rapaz realmente o entendia. Então foi por isso que Levi me trouxe até aqui? se perguntava mentalmente ainda surpreso pelas palavras do loiro.

– Eren... – Arlert o chamou mais uma vez carinhosamente. – Eu entendo muito bem da sua dor. Eu já apanhei muito na cara por não ser da maneira que meus pais queriam, até mesmo acabei sendo expulso de casa por, segundo eles, ser uma aberração... – ele mudou um pouco sua expressão, já não sorria mais. – É por isso que eu insisto em lhe dizer isso, entende? Nós transexuais sofremos muito preconceito dessa sociedade imunda, eu sei o quanto é ruim, desconfortável, chato e doloroso sofrer uma transfobia... e ainda mais quando são as pessoas mais próximas que o fazem. Levi me contou a sua história, não o culpe pois eu insisti muito para ele contar. – riu fraco com a expressão emburrada que Levi fez. – Você é muito forte, Eren, de verdade. Não pense que eu estou dizendo isso apenas por dizer, você é realmente um guerreiro por aguentar toda essa opressão não só da sua família mas de outros também. Muitas pessoas trans acabam se suicidando ou até mesmo já tentaram tirar a própria vida por não suportarem o sufoco que é viver nesse mundo tão sujo, confesso que... até mesmo eu já tentei e me arrependo disso, pois se eu tivesse morrido não teria a chance de vencer tudo e todos.

Jaeger estava sem palavras para tudo aquilo, tinha em sua frente alguém que havia passado por tudo aquilo que estava passando, de maneira ainda pior. Já nem segurava mais a vontade de chorar por isso deixou com que as lágrimas escorregassem por suas bochechas, Levi as secando num dizer mudo de "estou aqui com você".

– Você é capaz de vencer tudo isso também, Eren! Acredite em você mesmo. Sinta-se amado pelas pessoas que te respeitam e te apoiam, busque pelo seu bem e trate de passar por cima das palavras desses idiotas com orgulho de si mesmo. – Armin resolveu se aproximar dele e assim que sentou-se ao seu lado, lhe segurou as duas mãos. – Você é humano, merece ser feliz até consigo mesmo.

Eren sorriu em meio ao choro baixo num misto de emoção e alegria pelas palavras do loiro que abraçou-o fortemente transpassando-lhe suporte enquanto que o Ackerman silencioso lhe acariciava as costas gentilmente. Eren só se afastou quando sentiu que estava cem por cento mais calmo, nunca soube de quem puxara esse lado tão emocional assim.

– M-Muito obrigado, Armin... – agradeceu dando uma fungadinha ainda sorrindo. – Eu prometo fazer tudo isso, o que eu mais quero é vencer!

– Ótimo, Eren. – Armin deu uma risada contente e beijou a testa do moreno com carinho, Levi atrás dele torceu o nariz. – Agora me deixem levar essas xícaras para a cozinha, volto logo!

O rapaz se levantou para pegar a bandeja sobre a mesinha de centro e seguiu para a cozinha, Eren aproveitou-se do momento para virar-se e encarou o Ackerman que sem entender nada apenas encarou-o de volta. O garoto repentinamente pulou em cima do baixinho e o abraçou com toda a força que possuía fazendo Levi reclamar pela falta de ar, estava feliz por ele ter o trazido para conhecer e conversar com alguém que o entendia plenamente. Não que Levi não o entendia, apenas quis dizer que a ideia de fazer Eren conversar com alguém que se sentia do mesmo modo e até mesmo já passara pelas mesmas coisas que si era algo deveras bom para ele.

– Obrigado, Levi... – Jaeger riu abafado com o rosto afundado no pescoço alheio.

– Tch, não precisa agradecer, pirralho. – disse simples mas o sorriso de canto em seus lábios denunciava a satisfação.