Capítulo 24 - Alinhamento

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Julie continuava sem acreditar no que tinha acontecido. Ela e Daniel se beijaram. Mas, claro, o mundo reserva surpresas. Ela queria dizer o que aquilo significava, pois no caminho para casa os dois ficaram em silêncio, falando sobre outras coisas. E no dia seguinte ela é recebida com a notícia de que a mãe passaria aquela semana em casa, enquanto o pai viaja. Daniel, assim como Martim e Félix, pareciam ocupados com alguma coisa, que ela estava curiosa para saber. Quase não via eles, limitando suas interações a saudações pelos corredores da casa.

Ela não sabia que os fantasmas tentavam seguir todos as tarefas pedidas na lista para chamar a atenção de outro fantasma que poderia ajuda-los a manter Demétrius longe. O mundo espectral era vasto e cheio de segredos que nem mesmo ela ou seus amigos poderiam imaginar, ainda que eles tivessem trinta anos vivendo como espectros.

- Esse é o último. – Félix marca no papel.

- Pelo menos cantar Janis Joplin vai ser legal. – Martim ajeita o baixo.

- Eu espero que a tal apareça. – Daniel faz aspas com os dedos para destacar "a tal", visivelmente incrédulo.

A música é Maybe. Esperaram que fosse ruim, pelo contrário, a noite estava perfeita. O céu limpíssimo salpicado de estrelas, vento suave passa por eles. É como se as árvores os aplaudissem, ainda que fossem somente as folhas balançando nos galhos. Eles não contavam com alguém realmente os observando. Ela é jovem, tem cabelos curtos, escuros como as roupas (Martim se lembrou da Dark Willow, assemelhava-se, a não ser pelo casaco vermelho) e apesar de um pouco pálida, seu rosto não demonstrava tratar-se de um fantasma. A ilusão era boa, seja lá como fosse feita.

- UHUUUUL. AMEI, amei demais! Vocês foram um dos melhores que já tive a oportunidade de ver. – Aplaude, assovia e levanta as mãos. Os amigos se entreolham com os olhos arregalados, era verdade.

- Você é... – Martim fracassa em formular uma sentença coerente.

- Aquela que vocês estão chamando a atenção, invocando, perturbando, sei lá. Sou eu. Podem me chamar de Kim.

- Disseram que você era mais... – A expressão desconfiada de Daniel demonstrava que ele ainda tinha dúvidas se aquilo realmente funcionara.

- Velha? 800 anos nas costas, queridão! Não gosto de me gabar.

- Eu ia dizer mais fantasmagórica.

- Nós precisamos de ajuda, manter um fantasma longe ou pelo menos nos defender dele. – Félix foca no assunto principal.

- Conhece o Demétrius, não é? – Martim pulou para perto dela examinando seu cabelo com os olhos semicerrados.

- Ah, sim. – Ela olha para algum lugar longe, como se lhe viesse uma lembrança.

- Como pode nos ajudar? – O guitarrista levanta o queixo, desconfiado.

- Eu vou aumentar aquilo que nós chamamos de poderes espectrais, aquilo que vocês usam normalmente. – Mexe com as mãos algumas folhas que se soltaram das árvores.

- A gente já sabe algumas coisas, outros fantasmas nos ensinaram. Qual o seu diferencial? – Félix cruza os braços.

- Querido, vocês só sabem as coisas básicas, vão por mim. A maioria se limita a fazer sustos e sofrer por aí. Eu vivo o momento. – Senta em uma cadeira que faz aparecer.

- O "vivo" foi uma graça. – Daniel ri com deboche.

- Essa sua habilidade tem a ver com a sua aparência não tão fantasmagórica? – Félix está intrigado

- Isso e outras coisas. Preciso que venham aqui, tenho que ler vocês. – Estende a mão, esperando que façam o pedido.

- Ler? – Martim recua.

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