Capítulo 27 - Testes

53 5 1
                                    

Pedrinho está chateado porque não consegue andar de bicicleta. Martim e Félix tocados pela situação cômica e trágica do garoto, pensam se devem se meter. Não faria mal uma ajudinha do além, ainda mais se eles não estivessem ocupados. Por isso tomam para si a missão de ensiná-lo.

- Ah, eu inventei esse aparelho, ele me ajuda a manter equilíbrio. – Diz orgulhoso de seu novo invento.

- Não parece muito eficaz, já caiu três vezes. – Martim põe as mãos nos bolsos na calça.

- Está em fase de testes.

- A canela ralada mostra bem isso – Félix aponta para o machucado.

- Deixa com a gente, garoto. – Martim joga um curativo.

- É, confia. – Félix faz sinal de positivo com os polegares.

...

A sala de aula, o lugar mais frequentado pelos estudantes, odiado por alguns, nem tanto por outros. É agoniante estar fazendo trabalho com alguém que já foi - quase - seu namorado. E pensando na possibilidade dele a odiar seja grande. Havia dias que não se falavam, um dia até conseguiu acenar, a resposta não foi tão empolgada. Sabia que uma hora teria de encará-lo.

É notável ainda o seu desânimo (de modo fraco) ao se dirigir a ela. Ele mantém a pose formal, ajudando com os cálculos. Física, sempre os aproximando. Trabalhos com duplas planejadas pelos professores são as armadilhas mais ferozes de uma sala, podem juntar pessoas que se odeiam, que se dão bem, que mal sabiam que são ótimos juntos, e os mais diversos sentimentos possíveis dentro de uma escola.

- Você poderia, por favor parar de mexer a perna? Minha mesa tá tremendo. – Pede sem jeito o garoto, não consegue sustentar o contato visual, está fugindo.

- Ah, tudo bem. – Se ajeita na cadeira, parando o movimento rápido dos pés.

- Ok, agora você não para de apontar o lápis, daqui a pouco não vai ter como escrever. – Diz sem tirar a atenção do papel, não parece com raiva, apenas levemente incomodado.

- Aparentemente tudo em mim está te chateando. – Nicolas suspira. Se recompõe. Pode ser algum problema em casa, pondera, ou é ela mesma a culpada pela inquietação.

- Não é pra tanto. – Os ombros dele ficam menos tensos.

- Sinto muito, mas o que eu deveria pensar? Você nem tá falando comigo direito. – Começa a falar baixinho evitando uma possível bronca do professor.

- Não me parece que você tenha tentado antes.

- Isso porque eu não queria invadir seu espaço.

- Eu pensei que você quisesse espaço. – Ergue as sobrancelhas. Ela pensa um pouco. Por fim admite.

- Acho que eu precisava. – Coça um pouco a nuca.

- Tá vendo só. – Ele coloca a mão no queixo e volta sua atenção para o caderno.

- Não, não, você está precipitado. Não quer dizer que não quero mais te ver. Eu me importo com você, nós somos amigos!

- É, é isso que me incomoda, sermos só amigos.

- É um problema?

- Se eu for trocado por alguém que não existe.

- Você não... - Aguenta sua queixa interna, não seria interessante ficar nervosa nesse momento - ah, deixa pra lá. Vamos continuar nisso – aponta para o papel.

- Não pode achar que vai ser tão simples, não dá pra ser o que era. – Nem parece estar falando com ela, mas ela sabe.

- É, acho que sim. – Engole em seco, desanimada.

UNSEENOnde histórias criam vida. Descubra agora