Capítulo 2 - Nosso Som

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Julie

Faz cinco dias que me apresentei para audição. Consegui ser uma das selecionadas para o Festival de Música da escola. Como é um trabalho da disciplina de artes, todos que participamos temos pontos garantidos, mas o que mais nos empolga é a energia das apresentações, cada um de nós tem um talento que quer mostrar. Não que agora eu seja 100% segura de estar num palco, mas a audição me fez sentir melhor.

Eu tenho só outro probleminha. Na verdade três: Daniel, Martin e Félix. Talvez eu esteja um pouco paranoica, não existe um manual de convivência com fantasmas. É esquisito ir pegar alguma coisa na edícula ou ter que preparar algum lanche na cozinha e lá está um deles. Por exemplo, ontem Martin queria ver Buffy, A Caça-Vampiros, no meu notebook. Eu nem sei como ele aprendeu tão rápido a mexer na internet, nem sei como conheceu Buffy, já que a série estreou depois da morte deles.

- Martin, eu sei que você gosta de passar tempo no pós-morte, mas não pode entrar no meu quarto assim, é meu espaço!

- Desculpa, Julie. Eu realmente não tinha terminado a 5ª temporada, e vai por mim, ela estava muito boa. – Fez uma cara de súplica.

- Temos que ter limites. Não mexam nas minhas coisas. Na minha frente, vocês sempre vão ficar visíveis. Nada de brincadeiras.

- Acho que você vai ter que confiar na gente, querendo ou não – Um sorriso surgiu no canto da boca do Daniel logo depois de dizer.

- Muito engraçado! Sorte sua não estar vivo, ou eu cortaria esse seu cabelo durante o sono. – Ele me olhou como se dissesse, você não teria coragem.

Morte, aqui estou eu falando de morte, como se fosse um passeio de carro pela cidade. Queria entender na verdade o que os trouxe para a situação atual. Prefiro me manter fora, não temos tanta intimidade. Se eles quiserem, que falem.

- Julie, queríamos te pedir uma coisa, aliás. – Quem dizia era Félix, botando as mãos na nuca, parecendo um pouco envergonhado.

- Dependendo do que for.

- Podemos tocar aqui?

- Por que você tá pedindo permissão dela, Félix? Nós moramos aqui há mais tempo. - Afirma o guitarrista.

- Seria rude da nossa parte chegar, fazer barulho e atrapalha-la, ou o pai dela.

- E tem como vocês fazerem barulho? Quero dizer, os instrumentos não são de verdade. – Fico intrigada.

- Os instrumentos estão ligados a gente, de alguma forma – O guitarrista diz.

- Já tocamos antes, então sim, o som deles é emitido. – Félix completa.

- Sério mesmo? Quero dizer, isso é muito legal! Vocês poderiam tocar alguma coisa pra eu ouvir? Meu pai tá no trabalho ainda, ou seja, barra limpa.

- Claro! – O baterista diz, já com as baquetas entre os dedos. Eles estão animados, e posso jurar que Daniel sorriu, rapidamente.

Os meninos se ajeitam, e os instrumentos aparecem num passe de mágica em suas mãos. Menos a bateria do Félix, essa aparece na sua frente. Eles contam o tempo e começam. A melodia enche o ambiente. Realmente são muito bons, não só a música. A energia deles é maravilhosa.

- Eu não sei o que é isso que vocês fazem, só sei que eu seria fã de vocês com toda a certeza.

- Deve ser o nosso charme – Martin não se aguenta.

- Eu diria talento – Completa Daniel.

- Queria que tivessem falado isso na nossa época – Suspira Félix. Tem alguma coisa aí, porque logo que fala, Daniel o repreende com um olhar.

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