Cap 2 - Diferentes

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O pai saíra do trabalho tarde, de forma que quando chegou em casa as meninas já haviam se arrumado. Cierra saltitava no quarto enquanto Ann pegava o lenço. O coração do pai doía toda vez que olhava em seu rosto para cobrir os fios prateados: Qualquer menina gostava de pentear ou arrumar o cabelo para sair, mostrá-lo para os outros... O que era uma coisa que a filha mais velha não fazia há anos. E, por mais que tentasse disfarçar, sua família sabia que ela se importava, nem que fosse só um pouquinho.

Havia uma multidão reunida na praça da cidade e em suas ruas ao redor. Os nobres ficavam dentro do grande círculo, com seus trajes exuberantes e o nariz empinado. A maioria dos aldeões estavam nas ruas ao redor, onde não poderiam passar pelo outro lado por conta dos guardas que vigiavam as passagens para a praça.

Cierra vestira um vestido bordado de vários tons de azul, onde caía uma única fita que amarrava a cintura do vestido e caía graciosamente nos metros de tecido que a cigana Jade fizera para ela de aniversário no ano passado. O cabelo tinha uma flor na lateral e por onde ela passava, olhares de admiração se formavam. Havia um tom escuro nos lábios – o que uma menina de 13 anos nunca usaria... Mas Cierra era Cierra. E mesmo assim, ficara maravilhoso.

Ann estava de preto, com os cabelos presos em um lenço majestoso de tom escarlate, laranja e amarelo – se parecia com fogo. Os detalhes do vestido estavam no espartilho e na renda vermelha que formava as longas mangas até o pulso. Sem babados, sem tutu... nada além do próprio vestido. Apesar da irmã insistir muito, não havia batom em seus lábios. O rosa leve e natural se apagava um pouco com o resto da roupa, mas era o único toque que fora realmente ela que decidira.

A roda de dança logo começou e Cierra pegou West na hora. Os dois, a princípio fora de sincronia,foram tomando espaço entre a roda popular – as pessoas os conheciam. Elas basicamente se dividiam em três grupos: Os que chegaram há pouco tempo e somente o viam, os que sabiam dos rumores e lendas mas não se importavam e os que sabiam, conheciam e talvez até presenciaram o acontecido do domador... Mas que por conhecerem mais do que a versão da realeza, não tocavam no assunto.

Ann pegou um copo de vinho e parou para observá-los, os pés se moviam um pouco com o som da música. Ela nem sequer viu que iria ser atingida no ombro com o braço de outra pessoa. O copo caiu e derramou o conteúdo no chão.

- Mil perdões Senhora. – Ela abaixou os olhos antes que ele pudesse olhá-la. Mas observou suas mãos. Amarelas, de um tom não encontrado aqui e com dedos longos. – E não vi para onde estava olhando.

Ela mordeu o lábio e balançou a cabeça.

- Eu lhe pago outro.

- Não precisa.

- Se não fizer nada agora, é como se estivesse lhe devendo. Seria até falta de educação para com a senhora.

- Então só pare com o “senhora”. Não sou tão velha. – Ela pensou por um segundo com os olhos baixos se deveria ou não continuar a conversa. – É só Ann.

-Então... Senhorita Ann, muito prazer. – Ela se virou para frente, apertando a mão com o dobro do tamanho da sua. Quando de repente o rapaz se abaixou e olhou para ela. – Lee Hyong... – Ele parecia querer acrescentar alguma coisa, mas se conteve. – E agora vejo que é muito jovem para beber vinho.

Eu não fico bêbada.

- Você também não parece tão velho para usar esse tom com as pessoas. – A menina deu uma rápida olhadela no rapaz que teria no máximo 19 anos. Ele tinha o cabelo liso arrepiado em um corte baixo, com os olhos puxados á mostra. Negros, como os dela. Mas seja por sorte da escuridão da noite ou por ele não ser da região, ele não notou os rasgos vermelhos em seus olhos.

Ele riu e levantou a sobrancelha.

- Touché.

Houve um som de trombetas e as pessoas se juntaram ao redor da praça. A irmã mais nova se virou para chamar a mais velha. Mas abriu um sorriso travesso para Ann e puxou o pai para outra direção.

- O que está acontecendo?

- É o espetáculo de entrada para o príncipe.

- Espetáculo?

- A senhorita não soube? – Soldados chamaram por Lee metro á frente – De qualquer modo, eles prometeram ser divertido. Você vai ver?

- Provavelmente.

- Que bom. – Ele abriu um sorriso educado – Será fácil achá-la no meio da multidão.

E correu em direção aos guardas de armadura. Ann pensou que a indireta fosse por conta de seus olhos. Ou talvez ele tivesse visto alguma de suas mechas. Ela começou a ajeitar o lenço quando a irmã a puxou correndo.

- O que foi?!

- Vamos embora – West esperava na esquina anterior á praça. Ele rangia os dentes e amassava um papel nas mãos.

- Porque? Você nem dançou direito... – Cierra parou abruptamente e olhou para a irmã. As íris marrons estavam frenéticas – O que foi?

- Ann, o espetáculo é de uma bruxa prisioneira.

E, antes que a surpresa também invadisse o rosto da garota pálida, uma das ruas se fecharam e a multidão que ali estava se apressou para passar naquela rua. Elas empurraram as meninas e West parecia gritar para elas. Elas seguravam com força a mão uma da outra e, quando conseguiram parar e tentar voltar para trás, as vaias e gritos começaram.

A bruxa fora trazida para a praça.

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