Cap 1- irmãs

125 6 0
                                    

Havia três coelhos abatidos no chão, ao lado do pequeno javali com uma flecha na cabeça. O homem sentado perto do leito do rio com sua caçada esperava pacientemente no meio da floresta. O cabelo crescera depressa e pegava no pescoço - esperaria o verão chegar para cortar de novo. Olhos escuros, feições duras. Era difícil imaginar a primeira vista como aquele caçador sorria. Era um dos fatos que fazia West Haregora famoso na região.


Um farfalhar de folhas o fez virar instintivamente a cabeça para trás.


- Demorou dessa vez.


- O frio fez um estrago na horta. - A sombra ainda envolvia a silhueta que caminhava em sua direção.


A garota que carregava uma cesta com raízes e alguns outros vegetais cerrou os olhos quando os raios de Sol se mostraram depois da sombra. O cabelo prateado cintilou brilhantemente por um instante antes dela se sentar ao lado do caçador.


- Vai melhorar depois Ann.


- Poderia me deixar caçar também. Teríamos muito mais carne pra compensar.


- Isso dá pra nós três.


- Eu só... pensei que daria pra vender. - O homem suspirou fundo antes de olhar para a menina ao seu lado. Cabeça baixa e o cabelo cobrindo um pouco o rosto. Se tornou costume da filha andar desse jeito. - Não aqui perto. Talvez mais longe... Bem dentro da floresta.


Ele entendia a necessidade de uma renda extra para ajudar. Mas o motivo maior para Ann querer caçar era para poder olhar para cima. Para frente, como qualquer outra pessoa. Mas ambos sabiam que ela não era como qualquer pessoa, não importava a proteção do pai ou o que quer que fosse.


Quem a visse não pensaria nela como um ser humano.


- Tudo bem... Eu vou ver se tem algum jeito de proteger melhor as plantas. -Ann se levantou e ajeitou a cesta, apoiando-a na cintura. O pai pegou os coelhos e o javali e os dois andaram em silencio até um chorão. Essa era a marca que eles fizeram: as pessoas podiam ver daquele ponto em diante. Colocaram a carne e os vegetais em bolsas separadas e a garota se encostou á árvore, pegando algo em seu bolso.


Os cabelos foram erguidos em um coque frouxo com um elástico e um lenço preto os amarrou por cima. Os dois caminharam pela estrada até ela se tornar de pedra. Pessoas foram aparecendo e, com elas, o rosto da linda menina fora abaixando.


Havia sim, pessoas que conseguiram olhar para ela, notar os riscos vermelhos ou algum cabelo prateado sair dos lenços ou capas que a filha mais velha do domador de cavalos da cidade usava. Mas, seja por culpa, por desinteresse, ou por simpatia com aquela família, os aldeões sabiam manter segredo da realeza da cidade.


A casa de madeira, com janelas sempre fechadas fora onde eles pararam. Eles entraram em silencio até um par de botas descer correndo do andar de cima.


Uma menina, de 13 anos, os cabelos curtos que pegavam no pescoço não precisavam de nenhum enfeite. O rosto suave, com a pele saudável e os olhos de um marrom escuro com apenas alguns pontinhos minúsculos de cor escarlate no olho esquerdo. A filha mais nova, Cierra Haregora, tinha o sorriso e a cabeça erguida de uma pré-adolescente como qualquer outra.

Red EyesOnde histórias criam vida. Descubra agora