Cap 11- Esperancas de sonhos que nunca existiram

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Ann estava debaixo de uma coberta, escutando silenciosamente os passos do pai. As duas irmãs haviam se deitado mais cedo e esperavam West tomar sua xícara de chá de camomila e ir dormir.


Mais alguns passos e ela ouviu o ranger da cama quando seu pai se deitou.


- Ele dormiu mana, vamos. - Cierra se ergueu de seu cobertor e se pôs de pé com um sorriso alegre no rosto.


- Vamos esperar mais um pouco.


- Ele não vai acordar. - suas mãozinhas tiraram um pacotinho que estava debaixo do travesseiro - achei isso na caixa junto com os vestidos. É erva-do-sono.


- Que maldade...


- Ei, não era eu que estava mentindo descaradamente lá na cozinha mais cedo.


As duas sorriram e se levantaram para sair sorrateiramente de casa.


O plano delas até agora havia funcionado.


Ann ficara vigiando a porta mais cedo, enquanto Cierra ia até um pequeno espaço entre a gaveteira de seu pai e a cama.


Se arredado o armário, era possível ver uma pequena abertura por entre as tabuas de madeira. Era onde a familia guardava as coisas de sua mãe - dois livros de contos de fadas, algumas ervas que ela cuidava ressecadas e uma caixa larga e baixa, que tinha algumas roupas mais chiques que Seraphine possuía.


Cierra pegou dois vestidos da caixa.


Estavam muito empoeirados e necessitavam de ser lavados. Ela correu e entregou as peças a irma, que os esfregou o máximo que pode, colocou sabão de ervas perfumadas dentro de duas panelas e enfiou cada um em uma.


Ela fez sopa com o aroma mais marcante possível para disfarçar o cheiro das outras panelas que esquentavam dentro do forno do fogão.


Quando terminados de serem limpos, Cierra os tirou de casa e os escondeu. Ela voltou correndo para casa - mas não antes de tropeçar e cair de cara na terra. Seus cabelos ficaram sujos assim como seu rosto. A sorte e que o telhado era empoeirado como o chão, dando uma bela desculpa a West.


As duas agora saiam no escuro de camisolas até uma cabaninha abandonada perto de sua casa. Atrás dela se estendia a divisa entre a floresta e a cidade. As duas abriram a porta, rangendo estridente as dobradiças velhas.


Os dois vestidos agora secos se penduravam em cabines de madeira improvisados amarrados a cordas no teto.


Um era em tons de dourado e rosa pastel. Ele possuía o corpete justo ate a cintura, onde se abria graciosamente em camadas de tecidos rodados, como uma rosa, alternando em nuances degradê de rosa claro na cintura para o escuro nos pés. as mangas tomara-que-caia possuíam detalhes em renda dourada. Cierra colocara seu tutu nele, dando mais volume e o deixando mais gracioso.


Já o de Ann era em tons de bege e dourado com as mangas tomara-que-caia curtas e rendada com flores em dourado nas pontas. Um pequeno decote expunha sua pele em um V nas costas. Havia uma pequena fita bordada abaixo dos seios, prendendo em um laço gracioso ao lado do vestido, estendendo as pontas ate os pés de Ann. Embora mais simples, essa peça possuía nuances em degradê de bege, terminando em seus pés em um bege escuro.


E o mais importante: ele mostrava mais, mesmo que ainda fosse pouco, da pele branca que a menina tinha. Ela pareceu, por um instante, com a sensação de liberdade de si mesma.


- Eu vou buscar o seu lenço. - Cierra desapareceu da cabana antes que a irma dissesse o que iria fazer.


Ela levantou a pequena bandeja que estava na mesinha velha até seu rosto. Respirou fundo e se concentrou.


Minha mãe, seu sorriso. Olhos vermelhos. Cabelo de prata. Entender os animais...


Ela sentiu um pequeno calor de sua garganta e engoliu. Abriu os olhos e...


Nada.


Seu cabelo continuava brilhantemente prata e seus olhos quase que por completo de tom escarlate. Nada mudou.


- Não, não, não... Respira Ann. Mais uma vez. - ela repetiu os seus pensamentos com mais força. Nada. - Mais uma vez... Por favor, funcione...


E de novo. E nada. Nem mesmo um calor.


Nada.


Sua visão ficou turva enquanto gotas salgadas caíam na bandeja, sujando a visão da linda menina de pele pálida, cabelo prateado e olhos vermelhos. Uma aberração


Uma aberração que nunca vai mudar... Você e a pessoa mais idiota do universo em achar que tinha alguma esperança, Ann Haregora!


- Ah meu Deus! Ann! - a bandeja fora tomada de suas mãos enquanto Cierra a fazia sentar numa cadeira ao lado da mesa. - Não e possível que você vai que nem uma toupeira cega pra festa!


- Eu não sou uma toupeira cega! - soluços a impediram de continuar. Eu sou um monstro!


- E igual a uma quando chora. Deixa eu dar um jeito nisso pra você. - Cierra se posicionou atrás dela e mexeu em seu cabelo. A irma soluçava em silencio agora. - Pronto. Olha só.


Ann ergueu de novo a bandeja. Havia de novo a mesma moça, mas com o rosto corado e levemente inchado e um lindo lenço da mesma cor de seu vestido prendia seu cabelo. Ele caia em seu ombro graciosamente.


- Acho que mamãe sempre tinha saída para tudo. O meu vestido também veio com um combinando. - Cierra depositou dois sapatinhos nas maos de Ann e a puxou para a porta - agora vamos que ainda temos uma festa pra ir.


- Eu arrumo seu cabelo no caminho.


- Quero tranças.


-Tudo bem... - saíram da cabana e pegaram a rota para a festa do príncipe. Estavam de botas de couro. Iriam calçar os sapatos quando chegassem ao local. - Cierra.


- Sim?


- Obrigada... Por tudo.

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