Capítulo 17

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Capítulo 17


Agosto chegou ao fim. Setembro e outubro passaram voando. Eu agia de forma como se fosse um autômato. Acordava no meu quarto no alojamento, levantava, fazia a minha higiene pessoal , bebia um café, me arrumava, assistia às aulas e mergulhava nos estudos. Quando eu me lembrava eu ia ao refeitório almoçar. Eu ia para o estágio e executava as funções com concentração e precisão. Ia para casa e quando eu tinha muito o que estudar eu acabava dormindo sobre os livros. Quando não tinha muito o que estudar eu deitava e chorava com pena de mim mesmo até que eu dormisse.

Eu havia emagrecido uns bons quilos. Todas as minhas roupas estavam largas. Como eu não queria desperdiçar o dinheiro da minha poupança para comprar roupas novas, eu tive que improvisar cintos com barbantes.

Tomás havia cumprido com a sua promessa e não tornou a me procurar. Ele evitava os meus horários no CPEER. Quando ele tinha algo para me dizer mandava um memorando formal ou um recado impessoal por Alice.

Um lado de mim estava furioso com ele, porque eu queria que ele lutasse por mim até as últimas consequências. As vezes eu via sua caminhonete passando perto de onde eu estava, mas eu sempre desviava o olhar antes que ele chegasse mais perto.

Naquela manhã nós quase colidimos ao cruzarmos um com o outro nos corredores vazios da faculdade de engenharia. Eu olhava pra ele com cara de espanto e ele olhava para mim igualmente surpreso. Ele estava muito magro. Se eu estava tão horrível e miserável quanto ele, estava explicado a cara de espanto com qual ele me olhava.

-Oi Leo! - disse ele num sussurro.

-Oi! -Ficamos parados olhando um para o outro sem nos movermos, sem falar nenhuma palavra.

Eu queria tanto saber dele, ouvir sobre ele, levar ele para o meu quarto e deitar a sua cabeça no meu colo até que ele dormisse. Queria alimentar ele até que ele voltasse ao peso normal.

- Você está uma merda. - Droga! Eu não acredito que eu disse aquilo.

-Me desculpe eu não deveria ter dito isso- Falei abaixando a cabeça. Eu já ia me virando para ir embora quando ele segurou o meu braço, olhou nos meus olhos e com uma expressão séria e triste disse:

- Tudo bem! O que você disse é verdade. Eu sou a mais pura merda quando estou sem você.

Me desvencilhando do seu braço, eu baixei a cabeça e em murmurio quase inaudível falei:

- Com licença eu estou atrasado para a aula.

Caminhei pelo corredor quase em uma corrida até que cheguei na sala de aula. Meu coração batia de forma alucinada.

Aquela noite eu não consegui dormir. Fiquei a noite inteira pensando em Tomás.  Era evidente que o seu sofrimento era tão grande ou maior que o meu. Eramos os dois miseráveis. Eu estava tão confuso. Tudo parecia tão sem lógica.

A madrugada quase terminava quando eu havia chegado à brilhante conclusão de que o mal que a separação de Tomás estava me fazendo era milhares de vezes pior do quê a dor da traição.

Eu não queria mais sofrer. Eu queria esquecer tudo. Eu queria Tomás de volta.

De madrugada na solidão da cama era mais fácil tomar essa decisão, porém na luz do dia era como se as coisas deixassem de ser uma fantasia e a voz da realidade falasse mais alto.

Um lado de mim, mais perverso estava satisfeito em ver que eu não estava sozinho no meu sofrimento. Tomás,  aparentemente sofria tanto quanto eu.

Um Amor DiferenteOnde histórias criam vida. Descubra agora