Capítulo 06

2K 77 25
                                    

Todo meu corpo doía e minha cabeça latejava. A garganta estava seca, rascante, dolorida. Eu sentia frio e sede. Abri os olhos devagar, confusa. Era fim de tarde e a luz natural ainda não deixara o quarto escurecer. O ar condicionado, ligado de novo, causava o frio.

Eu vestia apenas a camisola branca, curta e fina, que Aurora me entregara naquela manhã. Aurora. Gemi de dor e raiva ao lembrar tudo. A desgraçada me nocauteara. E lá estava eu novamente naquela cama, presa pelo pescoço, machucada e vestindo a droga daquela camisola.

Sentei na cama, tonta. Meu corpo formigava, ainda um pouco trêmulo pelos choques que ela me dera. Meu pescoço doía, onde o aro fora puxado com força. Levei a mão à ponta do queixo dolorido e percebi ali um pequeno curativo A safada ainda cuidara de mim.

Tentei desanuviar a cabeça e passei as mãos pelos cabelos despenteados, morrendo de sede. Na mesinha ao lado da cama havia um jarro de plástico com água e um copo também de plástico. Sorri sem vontade. Nada de vidro, pra eu não quebrar e tentar me matar. Ou matar alguém.

Despejei água no copo e bebi sofregamente. Minha garganta latejava com o movimento de engolir. Mas continuei em frente, sedenta. Pus o copo no lugar Recostei-me nos travesseiros amontoados no espaldar da cama, com as costas e a cabeça sobre eles.

Ajeitei a camisola que mal chegava ao meio das coxas e estiquei as pernas. Fiquei quieta, sem ter o que fazer Então era assim. Eu era uma fracassada, que não conseguira nem fugir de uma mulher com o dobro da minha idade. Porém dura como uma rocha. E com treinamento militar, lembrei. Agora, além de tudo, estava machucada e com o orgulho no chão E o pior: ainda presa.

Eu nem sentia mais vontade de chorar, tamanho o meu desânimo. Fiquei ali, arrepiada de frio, quieta, cansada até para pensar. Os minutos se arrastaram. A tarde foi se acabando e a noite chegando. Por fim a porta se abriu e eu saí daquele marasmo quando Veronica entrou no quarto e acendeu a luz.

Ela estava mais linda do que nunca num elegante terninho azul, Seus olhos brilhavam perigosamente e seus cabelos pretos estavam meio despenteados. Meu coração bateu forte ao vê-la, acelerando bruscamente em meu peito.

- Você está louca, Toni? - A voz dela saiu baixa, fria, fitando meu queixo com curativo e meu pescoço, que parecia estar marcado pelo aro.

- Por tentar fugir? - Fiquei com raiva porque minha voz saiu trêmula. - Ou por ficar aqui, presa como um animal?

-Vocês poderiam ter se machucado gravemente naquela escada. Até quebrado o pescoço!

- Imagino que te daria um grande trabalho explicar tudo as autoridades, não é?

- Não seja debochada. - Ela se aproximou, furiosa. Não me encolhi. Pelo contrário, encarei-a sem desviar o olhar.

- Você merece uma surra para deixar de ser idiota.

- Não sou idiota! Estou presa aqui, olhando para as paredes o dia inteiro, sem poder fazer o que quero! - Gritei.

- Espera que eu ache isso normal e aceite? Mesmo com você escondendo minhas roupas e meus documentos, vou continuar tentando sair daqui!

- Cale a boca, porra! Vai só se ferrar e se machucar se continuar assim!

- Problema meu!

Veronica inclinou-se para mim e agarrou um punhado do meu cabelo.

- Se já não estivesse toda arrebentada, eu mesmo me encarregaria de te dar uma boa surra, Toni!

- E por que não dá? - Segurei a mão dela, me ajoelhando na cama, tentando me soltar.

A coleira • LopazOnde histórias criam vida. Descubra agora