Capítulo 07

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O dia seguinte foi uma tortura e a noite pior. Eu não podia mais sair do quarto e Aurora me tratava como leprosa, levando-me ao banheiro e trazendo comida sem tirar os olhos frios de cima de mim. Acho que se tivesse tentado qualquer movimento brusco, ela me espancaria até quase morrer Mas não tentei nada.

Só falei o necessário, comi pouco, fiquei remoendo minhas mágoas e raiva, olhando para as paredes. Ela deixou alguns livros no quarto, uma TV e um aparelho de som, contudo eu nem toquei neles, sem vontade, desanimada.

Não vi Veronica desde a noite anterior, quando ela saiu com sua modelo. Devia estar se divertindo com ela, pois não apareceu naquela noite. Eu quase não dormi ansiosa, imaginando-a com a desconhecida, fazendo com ela o que fazia comigo. E com raiva de mim mesma por me importar com aquela desgraçada, que tinha um prazer perverso em me humilhar.

Sua putinha particular. Eu queria matá-la! Na outra manhã acordei desanimada. Depois de ter tomado banho e feito minha higiene pessoal, fiquei deitada na cama sob o edredom, olhando o céu pela janela. A depressão ameaçava me derrubar e nem quis comer.

Aurora trouxe e levou os pratos intocados. Passei o dia todo cochilando, tendo alguns sonhos confusos, olhando para o nada. Pensei muito em minha mãe e na vida tranquila que ela me dera na Riverdale. Eu ainda poderia estar lá, protegida. Mas era tarde para lamentar.

A segunda noite chegou e um pouco da minha letargia passou. Fiquei ansiosa, esperando Veronica chegar a qualquer momento. O pior é que eu sentia uma falta absurda dela. Disse a mim mesma que era normal, pois além de Aurora, era a única outra pessoa que eu via.

Entretanto, eu sabia que o desejava desesperadamente. E que estava a ponto de enlouquecer. Ela não apareceu. Foi mais uma noite mal dormida. De manhã eu estava exausta, cansada até para ir ao banheiro quando Aurora chegou. Tomei banho e fiz minha higiene automaticamente. Vesti uma camisola azul, de seda, que chegava até os joelhos.

Aurora prendeu a corrente na cama e foi abrir as janelas. Eu já ia me deitar novamente quando risadas de mulher, vindas lá debaixo, chamaram minha atenção. Aurora foi pegar a bandeja com café da manhã sobre um carrinho. Depositava-a sobre a cama, quando perguntei:

- Quem está lá embaixo? - A corrente deixava que eu chegasse até a beira da janela e me dirigi para lá.

- É uma convidada da senhora Lodge. Está na casa desde ontem à noite. - Ela respondeu com uma ponta de satisfação na voz.

Ignorei-a, olhando ansiosamente para baixo. Senti um baque no estômago ao ver uma mulher de cabelos loiros sentada na beira da piscina, com os pés balançando na água, rindo e dizendo algo para Veronica, que se erguia de dentro d'água, toda molhada, apenas de sunga, e sentava-se ao lado dela. Fiquei imóvel, fitandoos.

Ela parecia se divertir também, passando o braço em volta de sua cintura fina, dizendo algo em seu ouvido. Ela riu alto novamente e abraçou-a pelo pescoço, oferecida, beijando-a na boca.

Engoli em seco, magoada, não aguentando ver aquilo. Entrei logo e fechei a janela e as cortinas. Disse à Aurora:

- Não quero tomar café. Pode levar.

- Mas a senhora não comeu nada ontem. Fiz...

- Como se vocês se importassem se eu morresse de fome ou com qualquer coisa que se refira a mim. - Respirei fundo. - Por favor, leve a bandeja e me deixe sozinha.

Ela deu de ombros e obedeceu. Deitei na cama e não me cobri, pois o ar condicionado estava desligado. Encolhi-me de lado e fechei os olhos. A imagem das duas lá embaixo não me deixou em paz, mas eu me recusei
a chorar. No entanto, a agonia, a raiva e a mágoa se revolviam dentro de mim. A sensação de mal-estar era horrível, chegava a doer.

A coleira • LopazOnde histórias criam vida. Descubra agora