Capítulo 02

1.9K 97 30
                                    

Antoinette Topaz point of view

Alguma coisa me perturbava. Eu sabia que devia acordar logo. Um alerta de perigo soava em minha mente. Mas eu me sentia confusa e desorientada. O que estava acontecendo? Mexi-me, sentindo-me deitada em um colchão macio, com lençóis perfumados. Abri os olhos pesados, lutando contra a dormência. Parecia que eu tinha dormido por horas. Sentia frio. O ar condicionado estava ligado e minha roupa parecia gelada contra a pele.

Fixei o olhar na parede branca. Havia penumbra, mas luz o suficiente para perceber o quadro pintado por uma criança. Meu quadro. Eu o pintara aos sete anos, acho. Com minha avó.

Franzi o cenho, confusa. Aquele quarto. A casa dos meus avós. De repente, lembrei-me de tudo e o pavor me engolfou. Assustada, tentei me levantar rapidamente. Sentei-me na cama de supetão e quase perdi o ar quando algo repuxou o meu pescoço e ouvi barulho de metal.

Algo rodeava meu pescoço. Respirei irregularmente, sentindo o cora acelerado de medo. Levei as mãos ao pescoço. Uma argola de metal o rodeava. Uma corrente saía dela e prendia-se no ferro do espaldar da cama. Empalideci.Eu estava presa.

- Uma coleira. - A voz fria e severa, aveludada do jeito que eu lembrava, veio de um canto perto da janela.

- É assim que se impede um cão de fugir. Ou uma cadela.

Prendi o ar, olhando naquela direção. As cortinas estavam fechadas e havia uma poltrona perto da janela. Pude ver o vulto dela ali, sentada de pernas cruzadas, quase engolido pelas sombras. Porém sua presença era muito real.

Minha pele se arrepiou toda. Fiquei imóvel, mal ousando respirar. Eu sentia o olhar dela penetrando em mim. Lembrei-me do modo que eu reagira a ela pela primeira vez, fora de mim, trêmula, fascinada. Aquilo nunca acontecera de novo. Agora se repetia. Permeado e aumentado pelo meu medo. Tentei pensar. Eu precisava manter a calma. Precisava ser inteligente. Mas era difícil. Ela esperara por seis anos para se vingar. Não esquecera. Fora rápido. O ódio dela poderia ter aumentado todo aquele tempo?

Como eu poderia ter calma estando presa, acorrentada, à mercê dela? O que eu poderia esperar além de sofrimento, vingança, estupro e talvez até morte? Arfei, soltando o ar dos pulmões. Tremia tanto que devia ser visível. Mantive o olhar fixo na direção dela, embora tivesse vontade de deitar, me encolher e chorar. Minhas narinas ardiam. Meus pensamentos se embaralhavam. Foi então que pensei na minha prima. A preocupação com ela me deu forças para murmurar:

- O que você fez... com Clara?

- Essa é uma pergunta confusa. - Vi-a descruzar as pernas e se levantar.

Mantive-me imóvel, dura, apavorada, enquanto ela se aproximava da cama lentamente. Por fim ela parou, quando sua perna encostou no ferro da cama. A parca luz de um abajur incidiu sobre ela. Olhava-me fixamente, como da primeira vez.Meu coração acelerou tanto que eu sentia-o bater no pescoço. Um frio percorreu minha barriga.

Além do medo, eu reconheci aquela estranha fascínio da primeira vez. Veronica Lodge estava ainda mais bonita e perturbadora, como se fosse possível. A aura de poder e virilidade estava presente, tornando-a ainda mais perigosa. Lutei com aquela sensação que me descontrolara quando eu a vira da primeira vez, como se ela tivesse um estranho poder sobre mim. Agora eu a temia mais do que tudo.

Seus olhos castanhos brilhavam como de um animal no escuro, com pupilas dilatadas. O cabelo pretos como sempre e o rosto comprido sombreavam suas feições. Seu lábios não sorriam. Mas eu podia sentir o ar de cinismo que erguia os cantos de sua boca. Ela estava toda ali. Engoli em seco, contudo tentei disfarçar meu medo. Não recuei nem chorei. Continuei olhando-a e repeti a pergunta:

A coleira • LopazOnde histórias criam vida. Descubra agora