Capítulo 10

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Acordei de manhã sozinha na cama, nua e com o corpo todo dolorido, como se tivesse tomado uma surra. Ouvi barulho no banheiro e me movi com cuidado,sentando na cama, corando ao lembrar de tudo que tinha acontecido naquela noite. Olhei em volta, percebendo que o quarto estava limpo, sem o carrinho com a comida do jantar e sem roupas espalhadas pelo chão. Eu dormira tão pesadamente que nem ouvi quando possivelmente Aurora tirara tudo dali. Naquele momento aquela mulher alta e fria veio do banheiro e me olhou.

- Senhora. Bom dia. Quer ir ao banheiro?

Esfreguei os olhos e me levantei nua, acenando que sim. Nem tinha mais vergonha dela. Aurora soltou a ponta da corrente, me seguiu até o banheiro enorme, todo de mármore, com uma
hidromassagem bem no meio. Prendeu a corrente no boxe e saiu em silêncio.

Depois do banho e da higiene, senti-me mais alerta e sem tanta dor pelo corpo. Mesmo assim meu ânus e minha vagina estavam levemente doloridos. Enrolei o corpo em uma toalha branca e chamei Aurora, que veio logo e pegou a corrente. Voltamos ao quarto e ela já tinha trocado os lençóis e refeito a cama. Veronica momento a porta do quarto abriu e Sina apareceu, olhando para mim.

Senti um baque no peito só de vê-la. Estava espetacular, descalça e com top uma calça branca de pijama, amarrada em seus quadris. Seu corpo tomava conta da porta. Seu cabelo loiro estava levemente despenteada. Fiquei com água na boca com a visão maravilhosa e viril dela.

- Pode deixar comigo, Aurora.

- Claro, senhora. Posso servir o café agora?

- Sim. Já estamos descendo.-Esperei Aurora sair e indaguei:

- Estamos?

Ela se aproximou de mim. Senti o coração disparar, mas fiz o possível para demonstrar uma calma que estava longe de sentir, não desviando o olhar até que ela parou à minha frente.

- Bom dia, Toni.

- Bom dia.

- Eu ganho ao menos um beijo?

Eu mal ousava respirar, sem saber se ela brincava comigo. Veronica sorriu suavemente, como se notasse minha desconfiança. Seu olhar desceu por meu rosto até meus lábios. O desejo veio tão avassalador que quase gemi. Surpreendendo-me, ela enfiou os dedos entre meus cabelos molhados, segurou meu rosto e me beijou na boca.

Recebi seus lábios e sua língua, emocionada. Pus minhas mãos sobre as dela e retribuí o beijo gostoso, totalmente envolvida por ela, minha alma enlevada por sua presença, pelo simples fato dela estar ali comigo. O beijo foi lento, quente e lânguido.

Algo dentro de mim se contorceu, se intensificou, me deixou tão
abalada que tive vontade de agarrá-la e nunca mais soltá-la. Em questão de segundos eu ficava na ponta dos pés e a abraçava pelo pescoço, me colava nela, me entregava como se fosse morrer longe dela.Gemi em protesto quando ela parou de me beijar e seus olhos lindos, pungentes mergulharam nos meus. Uma emoção forte nos envolveu e eu percebi que ela existia quase como uma força viva.

E era tão intensa que não vinha só de mim, mas nos cercava, nos ligava como energia pura, além de nossos corpos. Procurei em seu olhar se ela notava, se ela sentia. Veronica era muito boa em não demonstrar, contudo seus olhos brilhavam tanto que tive certeza que ela também estava ligado a mim por algo mais forte do que sexo. Tive medo de acreditar, medo de me enganar. Por isso me calei e apenas senti.

Ela me soltou devagar. Quieta, não o agarrei novamente, embora fosse a minha vontade. Seus dedos foram até a corrente fina em meu pescoço e a percorreram sem pressa, até parar no pequeno encaixe de onde saía a corrente, que naquele momento se arrastava até o chão.

Ela me olhou novamente, enquanto tirava um molho de chaves do bolso da calça e soltava a coleira em meu pescoço. Imóvel, senti quando ela tirou a coleira e a largou no chão junto com a corrente. Não ousei me mexer, paralisada pelo significado daquilo. Eu estava livre. Sem uma palavra, sem que eu pedisse, ela me soltou. A alegria não me invadiu. No lugar dela, senti um medo atroz.

O desespero veio lento, porém tão intenso que meus joelhos quase se dobraram. Ela me mandava embora? Havia acabado?

- Veronica... - Murmurei como se pedisse que ela negasse, sem mesmo perceber.

- Você não usará mais essa coleira, Toni.-Engoli em seco, procurando me controlar. Por fim consegui perguntar:

- Estou livre? Acabou?-Seu olhar era agudo, afiado e fixo.

- Ainda não vou deixar você ir.

Mordi os lábios, o alívio me inundando. Não quis analisar ali aquela loucura, como eu poderia preferir ser prisioneira dela do que ter minha vida de volta. Eu só sabia que era assim.

- Não entendo.

- Ainda quero você, Toni. E você vai ficar.

- Mas a coleira...

- A casa está cercada de seguranças e muro eletrificado. Não tem internet. Os únicos telefones são o meu, o de Aurora e o de Jonas, marido dela. Você não terá acesso a eles. Não tem como você fugir.

- Eu já disse, Veronica. Posso ser sua amante. Só não quero ficar presa.

- Não confio em você. Quando eu julgar que já me pagou o que deve, vou te soltar. Mas não faça nenhuma besteira, Toni.

- Não vou fazer.

- Certo. Vamos descer e tomar café.

- Estou de toalha. Preciso de alguma roupa.

- Aurora disponibilizou algumas para você. Estão ali, em meu closet.

- E o meu quarto?

- Seu quarto agora é esse. Vai dormir comigo.

Senti uma pontada de alegria, mas fiz de tudo para não demonstrar. Saí do quarto seguida por ela, usando um leve e curto vestido estampado e sandálias rasteiras. Enquanto descíamos as escadas em silêncio, me dei conta que estava muito feliz.

Tomamos café da manhã em paz, conversando amenidades. Tudo estava delicioso e ela parecia relaxada, sem a agressividade de antes. Fiquei desejando ardentemente que aquilo não fosse um sonho, que não acabasse.

- Hoje vou ficar aqui, mas amanhã tenho que viajar para o Sul. Adiei demais os negócios para estar aqui com você.

Eu a olhei rapidamente, perguntando logo:

- Quando você volta?

- Em um ou dois dias. - Veronica se recostou no espaldar da cadeira, largando o guardanapo sobre a mesa. Estávamos sozinhas.

- E eu?

- Vai ficar aqui, esperando por mim. - Ela arrastou a cadeira para trás e se levantou, estendendo-me a mão.- Vem, vamos aproveitar o dia.

A coleira • LopazOnde histórias criam vida. Descubra agora