Capítulo 15

975 40 4
                                    

Passei o resto do dia ansiosa, até esquecendo a alegria anterior que eu sentira pelo aparente sucesso na entrevista de emprego. Agora eu só pensava em como abordaria com ela onassunto de sua mãe. Após tomar banho, à noite, sentei na beira da cama para pentear o cabelo, usando apenas um robe branco e curto.

Veronica entrou no quarto, maravilhosa em um terninho creme. Sorriu ao me ver e se aproximou.

- Oi. - Ela se inclinou para beijar suavemente meus lábios. - Que bela visão em minha cama.

Meu coração disparou e a alegria me envolveu na hora. Acariciei de leve seu rosto e ela se sentou na poltrona em frente, tirando a gravata e largando-a a seu lado. Perguntou, passeando o olhar por meu rosto:

- Como foi a entrevista?

- Ótima. Acho que vão me chamar.

- Não era para você estar mais feliz? Aconteceu alguma coisa?

Mordi os lábios, sabendo que devia falar logo para ela ou continuaria atormentada. O problema era arranjar coragem.

- Toni?

- Tenho que falar uma coisa, mas tenho certeza que você não vai gostar.

- Diga.

Fitei seus olhos claros, ligeiramente
semicerrados. Respirei fundo e disse rapidamente:

- Quando saí da entrevista, fui almoçar em um restaurante e sua mãe veio falar comigo.

Ela não se moveu. Seus olhos continuaram fixos nos meus. Contudo algo mudou. Pude sentir uma energia
ruim, pesada, parecendo nos envolver. Tentei explicar:

- Eu não queria me meter, Veronica. Ela insistiu, pediu que apenas a ajudasse a ter uma oportunidade de pedir perdão a você, de conversar. Não tive coragem de...

- O que ela te contou? - Sua voz era extremamente fria. Seu olhar gelado me arrepiou.

- Nada. Só queria que eu falasse com você que ela precisa pedir perdão e...

- Você a ouviu. Almoçou com ela?

- Não.

- Aquele dia em que ela veio aqui, eu não a deixei entrar. Você sabia disso. E mesmo assim a ouviu, conversou com ela.

- Mas...

- Está aqui fazendo o que ela pediu. Intervindo a favor dela.

- Veronica, não é isso. - Larguei o pente na cama e a olhei implorante. - Ela é sua mãe. E parecia tão desesperada! Não tive coragem de ser grosseira!

Ela se levantou, correndo os dedos entre os cabelos. A fúria era óbvia em seus movimentos contidos, no modo como me olhou, como se me acusasse de algo.

- Você não deveria dar ouvidos ao que ela tinha a dizer. Sua lealdade tinha que ser comigo. O que você queria Toni? Descobrir os segredos sujos de família? Ter algo para usar contra mim quando lhe conviesse?

- Meu Deus, não! - Eu me ergui rapidamente, desesperada. Fui até ela, mas Veronica fez um gesto com a mão para que eu parasse, seu olhar de raiva e desprezo me imobilizando.

- Juro que não quis te magoar! Eu fiquei com pena dela! Pensei que...

- Pena? - Ela riu sem vontade. - Sabe quem é aquela mulher? Sabe do que ela é capaz? Guarde sua pena para si mesma!

- Por favor, Veronica, me perdoe. Não pensei que a deixaria assim! Não toco mais nesse assunto. Se ela chegar perto de mim...

- Sabe o que eu acho, Toni? Que sempre tive razão quando só fodi com as mulheres. É isso que dá deixar uma perto demais. - Sua fúria me deu medo. Não que ela me machucasse fisicamente, mas da mágoa e da raiva em seu olhar.

A coleira • LopazOnde histórias criam vida. Descubra agora