Capítulo 12

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Eu havia prometido a ela que não faria nenhuma besteira, mas já era o segundo dia que Veronica estava viajando e eu achava que ia enlouquecer naquela casa. Minha vontade era tentar escalar o muro, eletrificado ou não. Ver pessoas além de Aurora, trabalhar, me ocupar,
me sentir útil. Nada me distraía, nem livros, música ou televisão. Enjoei de ficar na piscina. Andei de um lado
pro outro, fiquei deitada, perguntei a Aurora se eu podia fazer algo na casa ou na cozinha, porém ela me expulsou friamente, como se eu estivesse querendo roubar seu emprego.

Sentia uma saudade absurda de Veronica. Não conseguia comer nem dormir direito. No fim do segundo dia, fiquei quase todo o tempo no quarto, só pensando nela. E me dei conta de como nossa relação era doentia, pois eu continuava privada da minha vida, dependendo das escolhas que ela fazia para mim. Por mais que eu a amasse, não suportaria muito tempo mais assim. Sempre fui dinâmica, trabalhei, gostei de sair e me divertir. Como poderia permanecer enclausurada ali como uma puta particular, uma escrava sem vida própria?

Aurora insistiu para que eu comesse. Por fim levou o jantar embora e me deixou em paz. Passei a noite dormindo e acordando, até que de manhã estava cansada, como se não tivesse feito nada mais do que ficar deitada. O terceiro dia sem Veronica foi pior. Ela havia dito um ou dois dias, mas era o terceiro e minha paciência havia acabado. Fiquei perambulando, fui até o portão da frente e vi os seguranças, que me ignoraram. Voltei para casa, pensando em um meio de escapar ou eu ia
enlouquecer. Entretanto não havia nada que eu pudesse fazer. Sentei na sala, já angustiada, quando Aurora se aproximou.

- A senhora vai almoçar na sala?

- Não quero almoçar.

- Mas ontem...

- Não quero almoçar, Aurora! Será que escutou agora?

Só percebi que eu gritava quando ela me olhou com cara feia. Saiu de perto de mim como se estivesse a ponto de me dar uma surra. E eu bem que gostaria de uma briga, mesmo que eu apanhasse como da última vez.
Pelo menos eu estaria me distraindo com alguma coisa. Estava tão descontrolada que enfiei o rosto nas mãos e comecei a chorar. De raiva, de saudade, de desespero. Eu não podia continuar daquele jeito, naquela semivida.

- Toni?

Assustei-me com a voz de Veronica e levantei do sofá de um pulo, olhando-a com lágrimas embaçando minha visão. Ela estava parado, olhando fixamente para mim, parecendo um pouco chocada. Deixou uma pequena maleta no chão e veio em minha direção.

- O que aconteceu?

- Não aguento mais ficar aqui! - Desabafei, sentindo que mais lágrimas se acumulavam e desciam, sem controle. Sentia-me nervosa, dividida entre a alegria quase sufocante de vê-la e o estresse dos últimos dias,enfurnada ali. - Você falou um dia ou dois! Fiquei três dias sozinha! Não tenho o que fazer, ninguém pra conversar, não...

- Xiiii... Calma. - Veronica segurou meus braços e me abraçou com força. Eu a agarrei com desespero, chorando sem parar. - Calma, Toni.

Fiquei lá nos braços dela, enquanto ela acariciava meu cabelo, até que o choro foi passando e eu me senti mais aliviada. Então, Veronica me fez sentar no sofá e se sentou ao meu lado. Segurou meu queixo e fitou meus olhos inchados.

- Durante muito tempo odiei você e a sua mãe. Jurei que o dia em que eu pusesse as mãos em você, faria pagar tudo o que me devia com juros. Posso ser implacável, Toni. Mas agora, não me sinto mais assim. Não quero ver você desse jeito.

- É horrível ficar sozinha. Não fazer nada. Eu gosto de trabalhar, de conversar, de...

- Eu sei. Acabou. Considere sua dívida comigo paga. Você está livre.

A coleira • LopazOnde histórias criam vida. Descubra agora