Capítulo 16

1K 41 2
                                    

Eu fiquei no inferno por dois dias. Veronica não deu notícias e não atendeu meus telefonemas. Não comi, não dormi, não vivi. Perambulei pela casa, arrasada. chorando, esperando. Fui chamada para me apresentar na empresa de turismo, porém disse que estava doente e não fui. E estava mesmo doente, de amor e desespero. Não podia pensar em Hermione lodge que me enchia de ódio. Como ela pudera me pedir para intervir a seu favor, sabendo que era para tirá-la de mim, que era para continuar naquela relação doentia com a própria filha?

Cada vez eu me convencia mais de que ela armou tudo para fazê-la se enfurecer comigo, como havia acontecido. Era um jeito de me tirar da jogada. Na noite do segundo dia, fiquei na cama, cochilando, olhando para as paredes, apavorada com medo que Veronica não voltasse mais. Lembrei-me do filme
Em algum lugar do passado e me senti como o personagem no final, morrendo de saudade e de amor. De madrugada, me recostei nos travesseiros, quase sentada, e deixei uma luz suave acesa. Fiquei olhando para o nada, despenteada, sentindo-me fraca, mais sozinha do que já me senti na vida.

E foi assim que Veronica me encontrou, quando entrou no quarto e parou na porta. Por um momento pensei que fosse imaginação minha, fruto do meu desejo de vê-la. Mas então nossos olhares se encontraram e senti como se levasse uma sacudida. Só então voltei à vida, meu coração bateu rápido, meu corpo se aqueceu. Minha primeira reação foi a de levantar e correr para ela. Entretanto me controlei a tempo, com medo de afastá-la de novo. Assim, fiquei quietinha, apenas olhando-a, enquanto ele terminava de fechar a porta e entrava devagar. Eu me embebedei com sua presença. Apesar de continuar linda e estar elegante com calças escuras e camisa azul clara, ela parecia um pouco abatida. Enchime de amor e ternura, e de vontade de abraçá-la bem forte.

- Pensei que estivesse dormindo. - Sua voz saiu fria. Parou perto de uma mesa de canto, largou suas chaves, celular e Bolsa. Não se dirigiu à cama, onde eu continuava imóvel, acompanhando-a só com o olhar. Andou até a poltrona e se sentou. Então seus olhos claros se encontraram os meus. Senti as lágrimas subindo, mas me controlei ao máximo. Falei rouca:

- Não consegui dormir. Você está bem?

Veronica não respondeu. Ficou só me olhando. Segurei o lençol com força, muito nervosa. Tinha medo que ela me informasse que realmente havia acabado. Eu não aguentaria.

- Senti sua falta, Toni.

Não acreditei em meus ouvidos. Então soltei o ar e senti as lágrimas descendo livremente por meu rosto. Chutei com força o lençol para o lado e corri para ela, me jogando em seu colo sem cuidado, abraçando-a com força, beijando todo o rosto dela com desespero.

- Pensei que eu fosse morrer sem você, Veronica. - Sussurrei, passando as mãos por seu cabelo, seu rosto, seus ombros, beijando em todo lugar que eu via, agarrando-a. Veronica me segurou firme e me beijou na boca. Nós fundimos nossa língua em uma dança louca de saudade, desespero e reencontro. Depois de um beijo longo,
gostoso, nós nos abraçamos e me enrosquei em seu colo,com a cabeça em seu ombro.

- Vou contar tudo, Toni. Mesmo que deixe você chocada.

- Não vou ficar chocada. Nada do que disser vai diminuir o que sinto por você.

Ela suspirou, como se não acreditasse. Então começou a falar:

- Meu pai morreu quando eu tinha seis anos. Ataque cardíaco fulminante. Minha mãe ficou arrasada, quase morreu com ele. Mas tinha a mim, a cópia de seu amado e falecido marido. Eu era sua única filha, a única pessoa que ela tinha no mundo. Acho que ali começou sua obsessão comigo.

Acariciei seu peito ternamente. A voz dela saía impessoal, como se apenas narrasse um fato. Porém eu via a veia em seu pescoço latejando, demonstrando sua agitação interior.

A coleira • LopazOnde histórias criam vida. Descubra agora