YUTA ⇾ Os Sete Tons do que Sinto por Você

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Ontem eu sonhei que estava em um funeral outra vez. Não consigo enxergar o rosto da foto impressa na lápide, também não sei quem é, mas tenho a sensação de que estou vazio toda vez que acordo. Faltava um mês para eu me formar quando um desses sonhos aconteceu pela primeira vez. Lembro de que naquele dia eu estava voltando para casa após o treino de futebol. Chovia muito, e mesmo de guarda-chuva não adiantava já que ventava demais. A algumas quadras da minha rua, eu a vi parada no meio da calçada olhando para o céu. Parecia distraída com o guarda-chuva abaixado. Eu não fazia ideia a quanto tempo ela estava ali, mas tive uma noção, visto que se encontrava completamente encharcada.

— Sakurai Nijiko-san?

Apenas me olhou quando me aproximei mais um pouco.

— O que está fazendo?

Nenhuma resposta, ela simplesmente voltou a olhar para cima. Tive medo de deixá-la sozinha, por isso aguardei até que tivesse vontade de falar, cobrindo-a com meu guarda-chuva também.

— Olhe. — Ela apontou para o alto.

Havia um arco-íris pouco nítido no céu. Afastando-se em dois passos ela ergueu o próprio guarda-chuva voltando-se a mim.

— Nakamoto-san, você acredita que podemos encontrar um tesouro ao final do arco-íris?

Franzi a testa sem perceber.

— Arco-íris não tem fim.

Acho que ela estava me analisando, ao menos parecia pela maneira em que me encarava os olhos. Era desconfortável.

— Um arco-íris se forma quando a luz do sol se dispersa nas gotas de chuva formando um espectro de cores. Para que o arco-íris seja visto ele precisa estar em um ângulo certo, se aumentar ou diminuir esse ângulo o arco-íris deixa de existir para você, mas para outra pessoa que esteja no ângulo correto ele ainda vai estar lá.

— Sempre leva as coisas ao pé da letra?

— Na verdade só citei o que li em um livro. Mas não faz muito sentido, por que teria um tesouro lá?

— Você não entendeu.

Juntei as sobrancelhas claramente confuso, porém notei que os lábios dela estavam arroxeados.

— De qualquer forma, por que tomou chuva se está com um guarda-chuva?

Nijiko resolveu caminhar se calando novamente. E eu a segui, iria para o mesmo lado, de qualquer jeito.

— Nunca te vi andando por aqui.

— Estava procurando algo.

— O quê?

— O tesouro da minha mãe.

Não sei porquê prendi o ar por alguns segundos, mas tentei esconder minha apreensão evitando contato visual.

— Conseguiu encontrar?

— Ainda não.

Por mais que estivesse mantendo a conversa, sentia-me nervoso vendo-a tremer de frio. Eu deveria ter dado meu casaco a ela, mas não tive culhões o suficiente, Nijiko me trazia uma sensação diferente. Isso me dava medo.

— Você está bem?

Essa frase pareceu indefesa antes de sair da minha boca. Muito tarde para me arrepender agora. Ela pareceu ter se fechado ainda mais.

— Você vai voltar para o colégio? — Tentei mudar de assunto. — O pessoal sente sua falta.

— Sim, claro. — Revirou os olhos.

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