SHOTARO ⇾ Lua de abril

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Aquele, definitivamente, não era um dia comum. Acordei empolgada e pela primeira vez consegui ver uma manhã clara de temperatura amena, aconchegante, através de um raio de sol abundante que invadiu a minha janela logo cedo.

Embora não fosse necessário nenhum elemento que pudesse me despertar naquele dia tão especial. Afinal, era primeiro de abril. O extasiante dia em que eu finalmente apresentaria Osaki Shotaro, meu atual namorado, formalmente aos meus pais.

Saí de casa muito cedo, sendo banhada pela brisa suave de uma primavera marcada. Recebida pelas flores de cerejeira que despencavam dos singelos jardins, arquitetados engenhosamente para esconder a crueldade consequente à uma industrialização afoita, das verticais ruas acinzentadas da cidade de Seul. Foram as pequenas flores de fantasia primaveril que me passaram a impressão prematura de que aquele seria um excelente dia. Os tons pastéis rosados das pétalas prestigiaram uma tonalidade vívida e vibrante para a composição da vista, tão bonita que beirava à utopia, diante dos meus olhos excessivamente esperançosos.

Tinha altas expectativas para que toda a paisagem esplendorosa fosse algum tipo de sinal positivo dos céus, por isso me enchi de ânimo. Acreditei fielmente que aquele bendito dia, que se iniciou tão charmoso quanto uma cascata de arco-íris, seria o suficiente para apagar mágoas e vestígios dolosos, manchados de sangue inocente, que nem mesmo o tempo foi capaz de ocultar.

Vocês podem me julgar, afinal, era realmente muito sonhadora. Talvez sem noção.

Apressei meus passos então, para logo chegar no mercadinho do agradável senhor Jung, um simpático homem de idade, que mantinha uma pequena loja de variedades, passada de geração em geração por sua família.

— Os legumes parecem extremamente viçosos neste dia! — exclamei contente e em voz alta, para que ele notasse a minha presença em seu estabelecimento, enquanto fazia questão de demonstrar a minha alegria transbordante.

— Esses são novos, acabaram de chegar. Experimente também levar o café em grãos que veio diretamente do Brasil, de ótima qualidade! — O senhor Jung ressaltou, antes que eu me afastasse até o setor de carnes.

O mais agradável do mercadinho do Jung era a sua apreciação por produtos frescos e de qualidade, sempre garantindo para si os melhores lotes nas importações, mesmo que os preços costumeiramente fossem menos atrativos. Mas não fazia mal gastar um pouco mais nesse dia, afinal, pretendia preparar a melhor refeição possível para tornar aquele encontro em família mais-que-perfeito.

— A senhorita parece ainda mais bonita hoje. — Jung crispou os olhos enquanto me admirava, tentando descobrir o que estava tão diferente na ocasião. — Está usando maquiagem?

É felicidade, senhor — expliquei. — A melhor maquiagem é aquela que vem de dentro — depois brinquei, com um sorriso atravessando o rosto de um lado a outro. De um jeito que era, só um pouquinho, brega e romântico demais.

— Não é só isso, a senhorita está apaixonada! — Jung constatou, observando-me atentamente e notando minhas duas bochechas coradas. — O amor é a razão da sua felicidade, acertei?

Jung estava mais que certo.

Lembrei-me imediatamente de Shotaro e me perguntei qual seria a sua reação ao descobrir que por sua causa eu estava, aos poucos, me tornando uma romântica tão antiquada quanto ele.

Tudo era muito diferente, antes de conhecê-lo. Achava que pessoas como Shotaro não poderiam gostar de pessoas como eu, que tínhamos de manter uma ferrenha distância um do outro.

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