15 • Promessa

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Música: Good goodbye, Lianne la Havas

(a música está na mídia e na na playlist "Café com Suga" E também em uma playlist especial que fiz para o capítulo "good goodbye", as duas no meu perfil do Spotify - @mclarah. Bem, escolham sua música triste e vamos lá!)


 Bem, escolham sua música triste e vamos lá!)

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Promessa

Taebaek, setembro de 2018.

Quinze horas de avião, duas escalas, 6 horas de carro, duas crises de ansiedade e um comprimido de rivotril depois. Sinto o aperto da mão do manager Kim no meu ombro e noto que falhei em me despedir quando ele se distancia, balbuciando algo que sou incapaz de compreender. Mesmo assim, maneio com a cabeça, sentindo o universo em câmera lenta enquanto volto os olhos para a construção à minha frente. Salmão, verde água e branco são as cores descombinadas das paredes de cimento daquele conjunto comercial, em muito já descascadas e sujas pelo descuido e pelo tempo. Respiro fundo fitando a escada que me levaria à sobreloja, sentindo o ar me faltar no meio, e me esforço para pegar minha mala do chão, em uma subida apressada, como se esse minuto fosse compensar tudo que já perdi.

Quando preciso respirar mais uma vez sou detido diante da porta pelo medo. Sinto medo de tocar na madeira, medo de passar pela porta, medo do que vou encontrar ali dentro, desde a disposição dos móveis, suas cores, seu estado de conservação até a quantidade de cômodos do apartamento. No fundo, não é nada disso, mas minha cabeça ainda tenta me proteger do que de fato me espera. O medo me congela por segundos e só noto que estou segurando o ar quando sinto minhas mãos formigando. Aperto os dedos contra o punho e, como se meus braços pesassem toneladas, toco na porta branca, os olhos tão apertados quanto os punhos, enquanto espero pelo som da maçaneta que não vem. Queria ter tido a ideia de pegar meu celular no bolso da calça e fazer uma ligação, mas meu punho direito se abre até girar a maçaneta em um movimento quase reflexo, sem muito compreender quando o pequeno apartamento de Mirae se projeta  para mim, por trás do portal de madeira branco.

O cômodo é, em partes, como imaginei: único, apertado, poucos móveis, cozinha conjugada, uma porta ao fundo que exibe o banheiro pela porta entreaberta, as paredes claras, piso de madeira gasto e um sofá creme que destoa de todo resto, e não porque é a única coisa que parece nova ali, mas é porque é sobre ele que Miyoung dorme. Encolhida, braços cruzados na frente do corpo coberto por uma camiseta branca larga, sua cabeça encostada sobre uma almofada, os cabelos caindo sobre o rosto num balançar discreto, pelo qual o ventilador de pé no canto do cômodo é responsável, ela dorme.

Entro com cuidado, levantando a mala do chão para não acordá-la, e fecho a porta atrás de mim que range discretamente. Tiro os sapatos e antes que pudesse encostar a mala na parede, meus movimentos são travados pelo que vejo disposto ao lado da televisão, sobre o aparador de madeira escura. Desejo conseguir engolir o nó que se forma na minha garganta enquanto meus olhos vacilam entre o objeto e Miyoung, dormindo a poucos metros de tudo o que restou da sua mãe.

Café com Suga • Min YoongiOnde histórias criam vida. Descubra agora