Café com Suga • Min Yoongi

11 • Pluto ('134340)

Música: Make it out alive, Nao feat. SiR (a mídia segue não funcionando, mas a música está na playlist do Spotify de mesmo nome da história!)

• 11 •
Pluto ('134340)

Itaewon, Seul, 10 de julho de 2020.

O sol estava no meio do céu. Meus olhos estavam focados no teto de gesso branco, enquanto estava deitada a um palmo de Yoongi.

Puxei o lençol fino para cobrir meu corpo e, inevitavelmente, olhei para o lado. Suspirei fundo. Lá estava ele e suas costas curvadas e magras. Suspirei mais uma vez ao encarar o desenho das suas costelas e decidi me virar para o lado oposto. Talvez dormir não fosse uma má ideia, quem sabe assim meus pensamentos me dessem uma folga.

Meu corpo, porém, não obedecia aos meus comandos, e, ainda extasiado, me recordava que há poucos minutos era nesse outro corpo em que eu me afundava, nesse mesmo corpo que agora, paradoxalmente, fazia questão de demarcar certa distância.

Estar sobre a mesma cama que ele, me enroscar sobre lençóis, nossos corpos nus adormecidos. Essa imagem era tão familiar que seria difícil explicar a sensação ambígua de, após quase oito anos juntos, não conhecer mais o seu corpo, de não mais  conhecê-lo. E, lamentavelmente, não era a primeira vez que me sentia dessa forma.

Nossos encontros têm sido tão esparsos que não era incomum que Yoongi já estivesse com uma cor de cabelo diferente e, na mesma frequência, variava o seu peso que, a depender da agenda do grupo, apresentava desvios absurdos do que poderia ser considerável saudável, como agora.

Ainda que praticamente todo o resto do mundo estivesse em calamidade pública, cidades paradas, pessoas trancadas em casa, hospitais cheios, vidas perdidas, a sua vida de idol não parava. E, ironicamente, no espaço deixado pelo cancelamento dos shows do BTS, ele conseguiu o tempo que precisava para terminar de produzir sua segunda mixtape e até mesmo gravar o MV da faixa principal. Ao menos o nosso governo parecia estar fazendo um bom trabalho para conter o alastramento da pandemia, de forma que o isolamento social aconteceu em bairros específicos e por períodos relativamente curtos, quando comparado a outros lugares.

Sendo sincera, minha vida também não havia mudado tanto, pois desde o início do ano eu já estava isolada em casa estudando para a prova do mestrado. Recém formada, eu vivia com o dinheiro que ganhava dando aulas de coreano para estrangeiros por vídeo-chamada e revisando trabalhos acadêmicos. Raramente, no meio dessa rotina monótona, eu via Yoongi. Nos falávamos por mensagem, uma ligação por dia e, ao menos uma vez por mês, tentávamos nos encontrar.

Geralmente, estes encontros duravam um fim de semana inteiro, na janela pequena entre os seus compromissos, e não era incomum escolhermos fugir para alguma casa alugada no interior em busca de privacidade e paz.