2 • We used to

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{recomento fortemente a playlist de lo-fi hip hop que está na mídia}

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We used to

Seul, maio de 2011.

— Eu pedi demissão. — disso depois de entrar um pouco esbaforido no restaurante e só fizera aquele sinal com a cabeça que significava que eu deveria encontrá-la nos fundos.

Sua respiração estava bem carregada, como se tivesse corrido ou melhor, pedalado a metade da cidade só pra chegar até lá e talvez fosse. Escorria um suor no canto da sua testa, onde caía aquela sua franja castanha curta bagunçada, ele usava a mesma camisa preta larga surrada, aqueles shorts engraçados meio curtos que me deixavam ver os roxos no seu joelho e os tênis de basquete que eram ótimos para dançar, palavras suas, mesmo que ele odiasse.

— Eles disseram que vamos debutar em 6 meses, no máximo. Não vou conseguir fazer as entregas da noite, os ensaios acabam tarde. — disse como se me devesse uma explicação e eu só consegui assentir com a cabeça, não consegui sorrir, na época estava longe de saber o que aconteceria. Mas eles não debutaram em seis meses.

—Eu... Eu venho te ver toda semana, temos uma folga nos domingos, vamos continuar nos vendo.— eu também não consegui sorrir depois daquilo e você não veio me visitar em nenhum dos domingos daquele ano.

O meses subsequentes foram tediosos. Sem noites em claro na portaria do apartamento dos meus tios conversando sobre qualquer coisa que fosse melhor do que o agora, que para ele só poderia ser o futuro. Sem cigarros partilhados nos fundos, eu estava fumando sozinha de novo.

No final das contas, achei até bom, pois tinha muitas coisas para estudar e precisava garantir uma vaga em alguma universidade com uma nota boa o suficiente para conseguir assistência estudantil. O que minha mãe me mandava mal dava para pagar o curso preparatório e eu não recebia mais que uns trocados naquele restaurante, pois ainda não tinha idade para estar empregada regularmente. E, além do mais, eu queria sair com urgência da casa dos meus tios. Afinal, morar de favor era uma droga.

Os dias se arrastaram e eu, secretamente, esperava o debut de um grupo do qual não fazia ideia do nome. Ainda assim, tentava esticar meu pescoço da bancada do Caixa para tentar ver na televisão se, por algum acaso, você não estava entre algum dos grupos novos. Todos eram magros, usavam maquiagens pesadas, roupas engraçadas, dançavam e alguns faziam rap, mas nenhum deles era você.

Chegou um tempo em que acreditei que ele tivesse desistido, voltado para a casa dos seus pais, mesmo que dissesse sempre que era a "vergonha da família" e que só voltaria quando tivesse alcançado os seus objetivos que eram, basicamente, produzir música, fazer rap e ganhar bastante dinheiro. Ser um idol nunca esteve no seu horizonte de pretensões, talvez por isso eu tenha ficado sem reação quando recebi a notícia, ou quem sabe, no meu inconsciente, eu já soubesse quais seriam as consequências.

— Você não está feliz? — o ritmo da sua fala era lenta, aquele ritmo sempre hipnotizante, do seu sotaque de Daegu, como se todas as coisas do mundo pudessem esperar até que ele terminasse tudo o que tinha para dizer. Me odiei quando vi o seu sorriso, antes discreto, desaparecer, mas eu não tinha que estar feliz ou triste com aquilo, a escolha não era minha. Yoongi deveria saber o que estava fazendo. — Eu vou ser rico e vou comprar aquela cafeteria pra você.

Ele me esmagou em um abraço diante da minha apatia que se reverteu em meus braços entrelaçando seu corpo que, à época, já era magro o suficiente pra mim. Eu não conseguia ficar inerte à sua proximidade. — Não é como esses grupos de idols, o PD-Nim me prometeu que eu poderia continuar produzindo minhas músicas, que vai ser mais focado no rap, não vão ter tantas coreografias...

—Um beijo de até logo? Rapidinho... Lee sunbaenim não vai ver... — como era comum, meu coração deu um pulinho. Ele não esperou a resposta ou conferiu se alguém de fato fosse ver ou não e colou nossos lábios. Afinal, o nosso "namorinho", como diria a cozinheira, já era mais que conhecido por todos os funcionários do restaurante. —Eu passo aqui no domingo, me espera depois do expediente, vamos tomar um café.

Foi o nosso último beijo naquele ano.

☕️

good night loves!

Como vocês notaram, a história é um pouquinho louca, cronologicamente falando, por isso, prestem atenção nas datas!

Espero que estejam todos bem e que estejam gostando!

Obrigada por estar aqui ❤️
Beijos da Maria

Café com Suga • Min YoongiOnde histórias criam vida. Descubra agora