Capítulo 9

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Daniel

Foi assim que parti e deixei Marina estática, no meio da rua. Foi um movimento arriscado eu sei, mas no momento em que ela deixou escorrer aquela lágrima, eu pude perceber o tamanho de sua dor e eu mais do que ninguém sei que cada um tem sua própria maneira de superar os traumas. Forçar não ajudaria em nada, sem contar que ela deixou claro que não estava aberta a relações e com certeza não estaria preparada para o que tenho em mente para ela. Por esse motivo, decidi me afastar. Talvez por um tempo, talvez... para sempre.

A sexta correu bem e como de costume, depois do trabalho passei na casa do meu pai e dessa vez decidi passar à noite por lá, com Caio. Foi bom ficar por lá com ele. Passamos um tempo agradável assistindo ao canal de esportes, tomamos algumas cervejas e batemos um longo papo. Aos poucos decido falar sobre ele buscar ajuda, e agora parece um bom momento.

- Acho que você poderia procurar um terapeuta. – Digo a ele.

- Que papo é esse, Daniel? Eu não preciso de terapeuta! - Ele diz com tanta veemência, que se eu não o conhecesse, acreditaria.

- Sim. Você precisa!  - respiro profundamente - E você sabe disso, nos dois sabemos disso. - ele olha para o nada e tenta disfarçar, mas eu sei que ele sabe.

- Ah, Daniel, corta essa! Você não sabe de nada! Na verdade, você nem imagina o que passei nos anos em que você ficou fora. - ele parece tenso agora, como se ele estivesse se lembrando de algo.

- Não me venha agora se fazer de o irmão mais dedicado do mundo e achar que pode resolver todos os meus problemas, porque infelizmente maninho... você não conseguirá. – Ele me responde de uma forma sarcástica. - solto um ar pesado e tento me controlar, afinal, tenho que ir devagar, já que isso é uma doença no qual ele tem que aceitar se tratar.

- Caio... eu, eu não falei por mal. Acredite, eu só estou preocupado com você, com sua saúde. Eu não quero te perder, você é o que sobrou da minha família, a única pessoa no mundo que amo incondicionalmente. - encaro-o nos olhos - Não estou tentando bancar o melhor irmão do mundo, porque sei que fui ausente durante muito tempo, mas eu só quero o seu bem. Eu não sei o que houve em sua vida no passado de tão grave que o fez ir atrás das drogas, mas quero que saiba que pode se abrir comigo. Não irei julgá-lo! Apenas preciso entender. - ele fecha os olhos como se sentisse dor. - estou de mãos atadas, eu não sei mais o que fazer!

- Desculpa, mano eu me estressei e acabei descontando em você. Os dias aqui preso dentro desta casa tem sido cansativos e estressantes. Papai não tem facilitado as coisas para o meu lado e o tempo todo faz questão de demonstrar como eu sou um estorvo em sua vida.

- É por isso que  eu quero que você se trate, Caio. Quero que você se recupere e que possa seguir seu próprio caminho longe da ditatura do nosso pai. Quero que você venha trabalhar comigo no escritório, quero te ver andando com suas próprias pernas. - ele parece pensativo com o que disse.

- Você está certo meu irmão. Obrigado por me apoiar. Eu quero sim procurar uma terapia, grupo de ajuda ou algo do tipo. O problema vai ser convencer o papai. - ele diz me fazendo suspirar de alívio. Fui malmente ele aceitou ajuda.

- Quanto a isso não se preocupe. O mais complicado era você querer ajuda. Com o nosso pai pode deixar que eu resolvo.

- Você fez falta aqui todos esses anos, mano! – Ele diz se recostando no sofá.

- Eu sei, me desculpe, mas agora estou aqui e você pode contar comigo para tudo.

****

Saí da casa do meu pai no sábado, por volta das quatro da tarde e nada do meu pai aparecer. Segundo Caio, com  certeza ele devia estar em algum resort espalhado pela redondeza com Ana - sua namorada. Por ai, já da para ver o quanto ele se importa com sua família.

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