Capítulo 4

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Para as Corujinhas de plantão, mais um capítulo!

<3

Marina

No sábado, levanto-me cedo. Prometi ao me avô, que passaria o sábado com eles.  Eu queria apoiá-los nesse momento tão complicado, assim como eles sempre fizeram comigo, estando sempre ao meu lado mesmo quando eu dei todos os tipos de trabalho possíveis. E eu me faria presente nesse momento em que eles precisam tanto de mim, meus avós são tudo o que restou da minha família. Os negligenciei muito e já passa da hora de mudar.

Mesmo que tivesse que lidar com meus demônios que me atormentavam noite após noite, eu me levantaria no dia seguinte e vestiria minha “armadura”, e seria forte por eles. Mesmo que por dentro eu estivesse destruída, eu não demonstraria. Meus pesadelos são algo constante em minha vida desde a perda dos meus pais. Pormais que eu fugisse desses pensamentos durante o dia, à noite eles apareciam para me atormentar. A mesma cena dos caixões, com exceção dessa noite, essa noite meu tormento foi outro: Daniel.  E por mais que eu tenha ficado incomodada da maneira que ele havia se infiltrado sob a minha pele, tenho que confessar que foi uma boa distração, foi bom não acordar com meu desespero habitual.

Minha terapeuta me diz que, toda essa minha tensão noturna, se deve ao fato de eu não me permitir desabar. Depois do dia que enterrei meus pais e meu irmão eu nunca mais chorei, sempre procurei outras maneiras de extravasar, o que incluía: Rebeldia excessiva, uso de drogas, bebidas e sexo, muito sexo. Segundo ela, eu pulei todas as fases do luto, mascarei a dor e por isso ela nunca vai embora. Mas eu simplesmente não consigo chorar, não consigo me aliviar e deixar a dor ir, ela já faz parte de mim, do que eu sou e sinceramente, não sei se eu saberia viver sem ela. É estranho, eu sei, mas é assim que eu sou.

Por volta das dez da manhã, entro pelos grandes portões da casa de meus avós. Eles viveram nessa casa durante uma boa parte da vida deles. Ainda me lembro de brincar por esses jardins quando eu era criança, época em que tudo era extremamente simples. Lembro de esperar ansiosamente pelas férias escolares, pois meus pais me deixavam dormir aqui nesse período e eu era muito mimada pela vovó que fazia todas as guloseimas que eu adorava.

Eles se mudaram para o interior quando meu avó passou os negócios para o meu pai, queriam uma vida mais sossegada. Sempre íamos visitá-los nos finais de semanas e em datas comemorativas, com exceção daquele natal, que eu não fui, e bom, aconteceu toda aquela tragédia. E depois da morte dos meus pais e vovô precisando assumir novamente a empresa, eles voltaram a morar aqui em São Paulo.

Assim que estaciono o carro na garagem, já avisto minha avó vindo em minha direção.

- Marina, meu amor, que bom que você apareceu! – Ela diz e vai me abraçando e afagando meus cabelos. Retribuo o abraço com outro ainda mais apertado e sinto todo seu carinho por mim. São nesses momentos que eu me sinto ainda mais miserável e culpada por ser tão egoísta.

- Olá, vovó, também estava com saudades. – Respondo quando nos afastamos, dou uma boa observada e ela continua linda, mesmo com a idade tão avançada, ainda tão cheia de vida e o fato dela estar doente me deixa com um nó na garganta. -  A senhora está linda! – completo.

- Ah, bobagem menina, linda está você! - sorrio fracamente.

- Obrigada, vovó!

- Apesar de estar um pouco magrinha, tem se alimentado direito? - Bem coisas de vó.

- Tenho sim, é que a genética é boa e não engordo com facilidade.  Ela me olha atentamente e sei bem que não a engano.

- Bom, que seja, hoje fiz tudo que você gosta de comer, risoto de camarão, aquela salada californiana que você tanto ama e de sobremesa aquele bolo de chocolate com cobertura de brigadeiro que eu sei que você adora!

- Oh, Meu Deus! É hoje que minha dieta vai para o espaço! – Digo com um sorriso enorme no rosto. É tão bom estar aqui, tão bom sentir esse carinho que me permito um sorriso genuíno e verdadeiro.

- Dieta para que? Está magra até demais para o meu gosto. Vem, vamos entrar.

O dia passa agradavelmente, vovô está empolgado e elogia meu desenvolvimento na empresa. Como até me empanturrar das comidas e sobremesas que a minha avó preparou e a noite já havia caído, quando decido ir para o meu apartamento. Sinto uma sensação boa em dividir esse tempo com eles.

Durante meu percurso até minha casa, meus pensamentos vão para Daniel. Será que o encontrarei no clube hoje?

Assim que chego vou direto para o banho, tomo um tempo me lavando e relaxando, depois escovo meus cabelos e faço uma maquiagem bem marcante. Confesso que estou ansiosa o que não é normal para mim. Por isso repito a mim mesma mentalmente: é só mais um cara, Marina, um cara quente como inferno, é claro! Mas é somente um cara e você fará o que sempre faz, sexo. Vai se satisfazer e ir embora sem olhar para trás. Essa tensão vai passar e você voltará a seus casos habituais de uma noite apenas. Você já fez isso várias vezes e sabe como funciona.

Separo um espartilho preto, as cintas ligas e as meias ¾ . Visto por cima, um vestido igualmente preto que se ajusta ao meu corpo e um pouco mais curto dos que costumo usar. Calço scarpins  também na cor preto de saltos altíssimos. Para finalizar, passo em meus lábios, um batom vermelho sangue que combina perfeitamente com a minha pele.

Quando vejo meu reflexo no espelho, não me reconheço. É tudo diferente do que uso habitualmente, mas essa noite também será diferente.

E que o jogo da sedução comece...

Destinos TraçadosOnde histórias criam vida. Descubra agora