Capítulo 1

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Segure-se;

Aguente;

Não tenha medo;

Você nunca mudará o que aconteceu e o que já passou...

:Oasis – Stop Crying you heart out

Marina

Eu chego ao velório e os três caixões estão postos lado a lado fechados, os corpos ficaram irreconhecíveis e não foi permitido que os caixões fossem abertos, eu sinto como se uma faca estivesse sendo enfiada em meu peito quando vejo aquela cena, mas nada se compara quando me aproximo do pequeno caixão do meu irmão, eu me debruço sobre ele e grito, grito até minhas forças se esvaírem...

 

 

Sou retirada do meu pesadelo pelo barulho do meu celular tocando, estou molhada de suor, toda noite é assim, toda noite o mesmo sonho me atormenta nas poucas horas que eu durmo.

Olho o visor do meu celular e é o meu avô, atendo sem vontade, mas atendo, para eles eu estou sempre disponível.

- Alô.

- Bom dia minha querida!

- Bom dia vovô, que horas são?

- Ainda cedo, mas você não pode perder a hora hoje, temos uma reunião importante na parte da manhã. – Ele suspira profundamente. – Eu sei que você não quer nada disso Marina, mas é necessário, você precisa aprender a lidar com as coisas da empresa eu não sei até quando vou estar aqui... – Só a menção de perder mais alguém me deixa tensa.

- Entendi vovô, sem problemas, já vou me levantare depois vou para a empresa.

- Tudo bem querida, até mais!

Levanto-me evou até o banheiro, quando olho no espelho minha imagem me assusta, estou cheia de marcas de mordidas e chupadas pelos meus seios, minha bunda, o cabelo totalmente bagunçado, lábios vermelhos e inchados, fruto da noite anterior, regada a muita bebida e sexo, era assim quase todas as noites e ontem não foi diferente, eu fui a um clube onde o sexo é o atrativo principal, onde você consegue encontrar todo tipo de perversão que se quer, sem compromisso, sem amarras, e era isso o que eu queria o que eu procurava dia após dia, eu usava o sexo para amortecer as minhas dores e ontem ela foi amortecida em um ménage à trois com dois desconhecidos, eu estava flertando com o perigo, pois sai do clube com eles e fomos a um motel e a noite foi longa, todo tipo de loucuras foram praticadas ali naquele quarto, até eu não aguentar mais, até eu me cansar de ser penetrada em todos os lugares por aqueles dois homens, depois me levantei e fui para casa, tomei um banho e dormi, bom pelo menos tentei dormir, todas as noites eu dormia no máximo umas 4 horas antes que os sonhos viessem me atormentar.

Eu fazia tudo para que a o dor passasse, mas ela não passava, era tudo momentâneo, no outro dia eu acordava ainda pior e quando eu me lembrava de tudo que eu fazia eu me odiava, mas era um círculo vicioso e eu não tinha forças para sair.

Entro no chuveiro e tento lavar toda essa sensação, me sinto suja, culpada, sempre me sinto culpada eu deveria estar naquele carro, deveria ter morrido com a minha família. Esfrego meu corpo violentamente para tirar toda a sujeira que estou envolvida, mas no fundo sei que não adianta, que a noite vai chegar para me atormentar e eu vou repetir tudo novamente...

Daniel

Aos 23 anos de idade eu tinha tudo que um homem poderia ter, dinheiro e tudo o que ele podia comprar uma saúde de ferro e a companhia de várias mulheres belas, e estava feliz assim, desde que me formei em direito e peguei minha OAB eu fui trabalhar no escritório do meu pai, Dr. Alberto Medeiros um dos advogados mais famoso de São Paulo, um homem de pulso firme, de coração de pedra, um homem duro, mas um ótimo profissional o que o levou ao sucesso em sua área.

Minha mãe era uma mulher doce e dedicada a família e quando ela ficou doenteeu vi a minha família desmoronar, foram dois anos de sofrimento com um câncer que se instalou primeiro no útero e depois se espalhou, dois anos em que vi meu pai fugindo de suas responsabilidades e caindo na farra, dois anos em que fiquei ao lado da minha mãe enquanto o marido dela saia com outras mulheres, dois anos em que vi meu irmão mais novo Caio se tornar um rebelde, e eu segurei tudo, até o dia que ela se foi, e então eu resolvi mudar minha vida, deixei tudo para trás e parti para o mundo em trabalhos voluntários, onde precisava eu estava lá, viajei pelos países mais pobres do mundo, lidei com a fome, com doenças, a falta de água tratada, ajudava na arrecadação de alimentos, tentei ao máximo que pude levar um pouco de conforto para aqueles que mais precisavam, foi a minha maneira de me livrar da minha dor eu ajudei o próximo, eu até tentei levar o Caio comigo, mas meu pai não permitiu e no fundo ele não queria também, Caio era diferente de mim, era um bom menino, mas gostava das mordomias que o dinheiro do meu pai oferecia, jamais que dormiria em alojamentos sem nenhum conforto, não conseguiria lidar com toda a dor que a pobreza traz. Meu pai ficou extremamente bravo comigo por escolher esse caminho, mas eu não me importava mais com a opinião dele não depois de tudo que ele fez minha mãe passar nos últimos anos da vida dela, ela dizia não se importar, mas sabia que no fundo não era bem assim, ela sofreu e muito e ele a abandonou quando mais precisava e eu não conseguia perdoá-lo.

Agora quatro anos após essa minha jornada pelo mundo eu resolvi que era hora de voltar, sempre que falava com Caio ele me pedia isso, meu irmão se meteu em muitas confusões nos últimos anos tantas que eu nem mesmo sabia as dimensões, pois meu pai acabava abafando as coisas e no fundo eu sabia que era pela perda da nossa mãe, eu também sofria muito, mas cada um lida com a dor de uma maneira diferente, então resolvi voltar e ajudar meu irmão, retomar a minha profissão,uma nova vida, um novo recomeço...

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