Capítulo 2 - Segunda Parte

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Marina

No caminho até à empresa, penso nas atitudes que venho tomando em relação a ela. Sei que estou sendo falha nesse quesito. E muito. Sei que estou sobrecarregando meu avô que não tem culpa de absolutamente nada.

Assim que chego, me dirijo até a sua sala. Entro em silêncio e encosto no batente da porta. Fico observando-o. Ele está tão concentrado em seu computador que nem nota a minha presença. Meu avô é um homem bonito, assim como meu pai também era. Seus cabelos estão um pouco grisalho - consequência dos seus 70 anos. Seus olhos parecem ainda mais cansados e ver isso, é como levar soco no estômago. Como pude ser tão egoísta? Sou uma inconsequente. Me afundo em minha própria dor e não sou capaz de olhar ao meu redor para o que vem acontecendo. Meus avós além de estarem velhos e cansados, eles perderam seu único filho naquele acidente e além disso, tiveram que lidar com minhas rebeldias e falta de compromisso. Mas isso vai mudar. Está mais que na hora de mudar minha postura, pelo menos em relação a empresa. Darei aos meus avós o descanso que eles tanto merecem. Guardarei minhas dores para mim e fingirei estar bem.

- Bom dia, vovô. - digo e ele desvia os olhos da tela de seu computador.
- Bom dia, minha querida. Como você esta?
- Bem vovô. - Na verdade ainda continuo destroçada, arrasada, mas não direi isso a ele, não mais.

- Fico feliz, e que bom que você veio.
- Eu disse que viria, vovô. Mas enfim, ao telefone o Sr. parecia apreensivo e com uma certa urgência, o que aconteceu? - Ele suspira profundamente..

- Marina, eu sei que você ainda sofre, que ainda não se recuperou totalmente, mas eu preciso muito de sua ajuda agora. Estamos lançando uma linha nova, totalmente voltada ao publico teen. Pesquisas mostram que eles são um publico promissor e lançaremos desde sabonetes até a perfumaria e isso nos dará um grande trabalho. -ela dá uma pausa e fixa seus olhos nos meus.

- Minha filha, sua avó está com a saúde debilitada.

- O que a vovó tem? - pergunto alarmada.
Minha cabeça gira, minha vó doente e meu vô se desdobrando e eu vivendo uma vida inconsequente e achando minha dor é a maior de todas? Mas isso ficou para trás, eu vou me esforçar e fazer de tudo para ajuda lo.

- Sua avó, foi diagnosticada com alzheimer, ainda está no primeiro estagio, só alguns apagões, mas a doença não tem cura e tende a piorar, eu estou providenciado uma enfermeira para ficar com ela, mas vai chegar o momento em que precisarei cuidar dela - ele me explica tudo e eu apenas fico estática no lugar

- Sinto muito, minha filha, mas não temos para onde correr, preciso prepara-la para assumir a empresa, claro que você poderá sempre contar com a minha ajuda, mas em breve não poderei me dedicar em tempo integral. - respiro profundamente

- Não tem o que sentir, vovô, o Sr esta coberto de razão. Eu estou aqui agora, e te prometo prestar atenção em tudo e aprender o que a empresa precisa para que o sr possa cuidar da vovó como ela merece. - ele sorri fracamente.

- Eu sabia que podia contar com você. Obrigado minha filha.

- Não vovô, eu quem deve agradecer por sua força, compreensão e paciência comigo.
- Eu sou o seu avô e te amo, Marina. Não jogaria essa carga em suas costas se as circunstâncias fossem diferentes. - forço um sorriso e aproximo-me dele.

- Não se preocupe, estou aqui e vou ajudar no que for necessário e mais um pouco.
Ele sorri ternamente e pelo seu olhar, meu avô finalmente acredita em mim.

***

E assim a semana passou. Entrando e saindo de reuniões, participando das criações, das jogadas de marketing, consegui ver o porque de meu avô estar tão cansado. Trabalhar aqui, é exaustivo, mas para mim esta sendo uma distração bem vinda.

Destinos TraçadosOnde histórias criam vida. Descubra agora