10 - Roma

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Clementine Marrie – 7, Janeiro de 2020

Então eu postei uma foto, e por algum motivo isso tem que significar alguma coisa, para minha mãe significou alguma coisa, então eu ouvi sem contestar, os cinco minutos de Clarissa dizendo que achava impressionante, eu me envolvendo de verdade com as pessoas, dando uma chance, tentando de verdade, me abrindo. Eu não planejei isso, ainda assim funcionou muito bem.

Mas na minha cabeça era só uma foto.

A foto que tirei dele em um museu, estava muito bonita, claro, eu que tirei segundos antes de tentarmos tirar uma foto fingindo tomar chá na mesa de exposição e sermos expulsos, então como estamos voltando agora eu pensei em postar, e foi o que fiz, e só.

"Não, mas eu fiquei muito bonito nessa foto." Calum disse virando para mim e mostrando o celular, sorri voltando a olhar para o lado de fora, onde as árvores pareciam correr para o lado oposto do trem, apesar de perfeitamente no lugar e eu que tinha a urgência em voltar para casa, nem entendo porquê. "Certo tem alguma coisa errada com você, porque eu estava aqui vangloriando minha imagem e você não fez nenhum comentário sarcástico sobre isso."

"Eu estou incrivelmente bem." Calum tirou os fones, indicando sua hora de me irritar e respirei fundo trazendo à tona toda minha paciência.

"Pode dizer, vai morrer de saudades não é? Por isso está triste? Roma é nosso último destino. Eu entendo, Clem, de verdade." Olhei para ele, pendendo a cabeça um pouco para a esquerda, tentando entender se ele falava mesmo sério. Olhei para o celular dele sobre a mesa, com a foto aberta, e abri um sorriso meio antipático.

"Se você se achar bonito mesmo com esse topete terrível acho que sua autoestima está no lucro." Ele sorriu.

"Essa é você, mas não adianta fingir mais, o que tem de errado?" Eu tenho a opção de ignorar? Não? Não, ele veio se sentar ao meu lado, sem saída para essa. "É só falar, use as palavras, pacientemente, comece com 'bem Calum, eu estou triste porque' pode terminar com 'nossa viagem está acabando.' Ou seja lá o que estiver te deixando assim."

"Calum, o que está me deixando triste nesse momento é essa sua tentativa falha de me fazer conversar com você." Ele revirou os olhos se apoiando na mesa e me olhou esperando outra resposta. "Sério? Deus você é... Impossível. Eu não sei explicar o que é, Hood, é como quando você sai de casa com a sensação de que esqueceu algo e então passa o dia inteiro pensando sobre isso e agoniada por não conseguir lembrar, e quando percebe era algo importante como o aniversário da sua mãe ou só uma janela aberta."

"Você esqueceu o aniversário da sua mãe?"

"Não... Não eu só, não sei. Sinto que não fizemos o suficiente, falta algo, não conhecemos lugares o bastante, nem sei se conseguiu o que queria nessa semana aqui, ou se eu consegui o que eu queria."

"O que você queria?" Que pergunta interessante.

"No fundo eu acho que nada muito diferente de você, inspiração, ou algo assim, queria algo novo na minha vida, mas eu procurei isso em lugares velhos então... Eu não sei, não queria estar voltando para esse mesmo lugar de sempre, encarar as paredes como se meu cérebro fosse inventar algo magnífico, único e inspirador de uma hora para outra." Calum encarou as mãos por alguns segundos, por isso eu nunca começo a falar sobre algo, eu não consigo parar e compartilho demais. Se virou para frente, abriu a boca para dizer algo e desistiu, fez isso umas duas vezes e suspirou voltando a olhar para mim.

"Eu gostaria de poder dizer mais palavras motivadoras, mas você nunca nem deixou eu ver um dos seus desenhos para eu poder dizer que eles são perfeitos, mas aposto que são, sua opinião não é muito confiável em relação a isso." Não, essa regra só se aplica para os outros, eu posso ser a juíza das minhas coisas.

Love you, goodbye - cthOnde histórias criam vida. Descubra agora