22 - Ninguém disse que seria fácil

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Clementine – 14, janeiro de 2021 18:03

Foi o inevitável momento da queda. Deveria ter atingido com menos força, visto que já sabia que ia acontecer, mas só fez parecer ainda mais doloroso, como um sentimento que se arrastava por todo o meu corpo levando com ele qualquer outra motivação de apenas estar de pé aqui e agora. Parecia ofensivo tentar me reerguer agora, queria que me deixassem nesse chão sujo pelas próximas décadas ou meses da minha existência.

Calum não havia me soltado, e tenho medo do que aconteceria se ele o fizesse, eu já havia desmoronado, não existe nada pior do que o agora, do que eu tinha medo exatamente?

"Isso não é real, é?" Tinha medo de abrir os olhos, tinha medo de que cada segundo que eu reconhecesse que aquilo era real, eu quebrava mais um pouco.

"Eu sinto muito, Clem."

Esperei chorar agora, esperei que as lágrimas saíssem descontroladamente, enchessem o lugar e me afogassem junto com qualquer boa memória que não conseguia recolher agora. Mas apenas doía, e eu tive que manter a dor para mim porque nada saia.

Ao colocar um pé no chão novamente para me levantar, pensei que não conseguiria andar para fora do estúdio. Alessandra pediu para que eu levasse minhas irmãs, ela queria que eu contasse. Ela tem noção do que me pediu?

Segurei com um pouco mais de força a jaqueta de Calum e nós dois paramos em frente a porta.

"Eu não consigo fazer isso." Com as mãos tremulas, passei meu celular para ele, pedi para que ligasse para Aria e Anna. É pedir demais, eu entendo, mas eu não conseguiria. Tive que me desprender dele para isso, levei meus segundos para recuperar o equilíbrio e me sentei no sofá, encarando os bolinhos que Aria e Clarissa tinham feito ontem a noite.

Eu não estava com raiva, e a tristeza me rodeia em tamanho tão absurda que nem a sinto, parece só um velho sentimento que ando de mãos atadas há um tempo, mas agora ela me consumiu por inteira, e foi tão natural.

Pensei por um segundo que poderia rir, quebrar algo, gritar, colocar em palavras ou gestos o que estava acontecendo, mas como algo que sempre foi impossível para mim agora era meu inferno particular.

Calum apareceu dizendo que elas iriam para o hospital, Aria estava com Anna, ele ligou para ela primeiro, e que nós dois devíamos ir também.

Assenti sem realmente ter prestado muita atenção, percebendo isso, Calum apenas guiava o caminho. Pedi para que lembrasse das flores, repeti isso algumas vezes.

A floricultura em que paramos estava cheia, estranho para um período de inverno onde você não vai encontrar as melhores ou mais bonitas. Ela não vai poder ter as flores mais bonitas. Minha mãe ama a primavera, foi quando ela começou com sua pequena floricultura, e ela não vai poder ter as melhores flores hoje.

"Estas?" O rapaz perguntou para mim com um falso sorriso estampado nos lábios e eu neguei.

"Flores roxas que não sejam lavanda, que não sejam tulipas e que não sejam orquídeas!" Falei acrescentando esse arranjo horrível que ele me trouxe e o rapaz mais uma vez saiu. "Pelo visto é verdade que se quer algo bom tem que fazer sozinho."

Fechei os olhos por mais alguns segundos, sentindo a mão de Calum cobrir a minha e apertar um pouco. Talvez ele pensasse que eu fosse perder o controle agora, talvez esteja pensando nisso desde que saímos. Talvez, eu realmente vá perder o controle a qualquer segundo. Eu sinto ele pendurado por um fio.

"Temos..."

"Perfeita." Peguei as flores das mãos deles, hortênsias, e saí. Acredito que Calum está com minhas coisas, certamente demorou mais para voltar para o carro pois estava pagando. Então respirei fundo mais uma vez. "Ela gostava de hortênsias. Não sei qual era na verdade a obsessão com flores roxas."

Love you, goodbye - cthOnde histórias criam vida. Descubra agora