Algumas horas antes, tudo o que Jisoo era capaz de pensar era em sua cama; no sossego do seu quarto, mas como seguir pensando nisso quando se descobre que sua voz estimula o cérebro de uma pessoa que está em coma há longos e torturantes quatorze anos?
— E então, doutor, como isso funciona? — Jisoo perguntou. Era por volta das quatro horas da manhã quando o doutor conseguiu arrumar tudo para o novo tratamento de reanimação cerebral com ultrassom.
— É uma técnica não-invasiva que usa pulsação de baixa intensidade para agitar os neurônios. As ondas sonoras serão direcionadas para o tálamo, que é a parte do cérebro responsável por funções como regulação de consciência, sono e estado de alerta e, se tudo der certo, essas ondas despertarão a paciente.
— Eu só preciso...falar? — Jisoo perguntou repuxando o canto da boca. O doutor sugeriu fazerem isso pela tarde do dia seguinte, mas Jisoo disse que teria que estar no hospital em seus horários de prática. Boah, com medo de perder q oportunidade, pediu ao médico que fizesse o quanto antes e que dinheiro não seria problema.
— Apenas converse com ela, já sabemos que ela te ouve. Só vou levar Boah para assinar alguns papéis. Se importa de esperar? — Jisoo negou.
— De jeito nenhum. — Ela respondeu, bocejando no momento seguinte. Estava, de fato, morta de cansaço, contudo, também se via ansiosa.
— Certo . Com licença. — Ele pediu, saindo com Boah. Jisoo suspirou e caminhou até a cama de Chaeyoung novamente.
— Olá de novo Chae. — Jisoo disse, analisando com atenção cada detalhe da garota. Suas sobrancelhas eram finas e, apesar do aparelho que mantinha sobre o rosto para ajudá-la a respirar melhor, Jisoo conseguia ver sua boca delicada e o nariz fino. Ela parecia estar dormindo m; Jisoo se atreveu a tocar a mão de Chaeyoung com cuidado. A pele estava um pouco fria e Jisoo decidiu fazer algo em relação a isso. — Está com frio?
Perguntou por perguntar, afinal, o doutor já havia falado que pacientes nesse estado não sentiam nem calor e tampouco frio. Começou uma carícia lenta e gentil da sobe e desce na pele da menina, no intuito de aquecer a região.
— Seu médico me contou um segredo. — Jisoo disse rindo. — Ele disse que você gosta da minha voz. — Jisoo deu um pulo quando sentiu o anelar de Chaeyoung se mover. — Oh meu deus! isso foi um sim? — O dedo voltou a se mover e Jisoo abriu a boca em completo espanto.
Boah precisava saber disso, era a única coisa que Jisoo pensava.
— Certo, vamos tentar de novo. — Jisoo disse sorrindo. — Eu comprei alguns caramelos no caminho para cá esta manhã. Você gosta de caramelos? — O dedo voltou q tremer e Jisoo sorriu ainda mais empolgada. Você está indo muito bem. — Jisoo disse animada. — Você sabe onde está?
Jisoo esperou e alguns segundos depois, quando ela já pensava que não obteria resposta alguma, o dedo voltou a mexer, porém desta vez duas vezes.
— Duas vezes seria um não? — O dedo voltou a se mexer uma vez e Jisoo sorriu. — Bem, estou fuçando realmente boa em entender você. — Ela disse em um suspiro. — Eu não sei por que justo a minha voz te atrai, mas estou feliz por isso. É bom se sentir útil as vezes. Meu chefe não me dá sinais de que eu seja boa em algo, então obrigada por isso, Chaeyoung. — A mão de Chaeyoung apertou a de Jisoo, fazendo Jisoo se surpreender. — Uoou, você realmente gosta que eu diga seu nome, hmm? — O dedo se moveu uma vez e logo em seguida a porta foi aberta.
— Demoramos? — O homem perguntou.
— Doutor, essa máquina é realmente boa. Ela já consegue mover a mão. — O homem franziu o cenho em confusão.
— A máquina não está ligada, Jisoo. Você tem certeza que ela se moveu?
— Sim, várias vezes. Veja... Chaeyoung, você poderia mostrar ao médico o mesmo que me mostrou? — O dedo anelar voltou a se mexer e Jisoo sorriu. — Viu?
— Isso é incrível, mas pode ser apenas reflexos. Eu quero muito que isso dê certo, Boah, mas não quero que crie expectativas demais ao ponto de se machucar caso ela não acorde ou tenha sequelas.
— Não se preocupe, eu sei. — A mulher disse tristemente, porém firme.
— Hey Chae... Sua mãe está linda agora. Ela está com saudades. Gostaria de abraçá-la? — O dedo, mais uma vez, se moveu uma vez e Boah sorriu, sendo inevitável segurar as lágrimas.
— Jisoo, apenas continue. Vou ligar a máquina. — O médico disse seriamente, caminhando até o aparelho e o ligando. Jisoo encarou intensamente Chaeyoung, pensando em algo que ela gostaria de escutar, porém não conseguiu pensar em nada, então decidiu dizer algo que gostaria de dizer.
— Eu gostaria de poder ouvir a sua voz, Chaeyoung. — Ela disse. Lá fora tudo estaria um caos, afinal aquilo era um hospital, no entanto ali dentro o silêncio era preenchido apenas pelos sons emitidos pelas cordas vocais de Jisoo. — Você gosta de ouvir eu dizer o seu nome, mas acho que ele deve soar mais bonito na sua própria voz. Poderia me ajudar com isso?
Um suspiro foi escutado, porém não fora de Jisoo, senão de Chaeyoung. A garota parecia estar realmente tentando.
— Não seu preocupe, eu sei que está dando o seu melhor. — Jisoo disse, desviando seus olhos para a mão delicada e imóvel de Chaeyoung. — Vou voltar a segurar a sua mão, eu posso? — O dedo voltou a se mexer e Jisoo sorriu, esbarrando delicadamente sua mão sobre a de Chaeyoung. — Quando o doutor te examinou eu reparei que seus olhos são lindos. Eu trocaria todos os meus caramelos por voltar a vê-los. — Disse um tanto envergonhada por estar revelando seus pensamentos em voz alta.
Boah sorriu, não um sorriso simples, pelo contrário, era um sorriso que enfeitava de orelha à orelha. Jisoo era doce; mesmo sem entender quais razões levaram sua filha a se aferrar à voz daquela moça, de qualquer forma estava contendo por isso.
Chaeyoung começou a se remexer inquieta na cama, fazendo Boah começar a chorar e Jisoo se assustar. O médico retirou o aparelho que a ajudava a respirar, afinal, ele havia percebido que havia sido por aquela razão que Chaeyoung se mexera. O aparelho a incomodava.
— Chaeyoung? Pode me ouvir? — O doutor perguntou em expectativa.
— Chaeyoung? — Jisoo chamou e, assim como ela pediu, os olhos vagarosamente começaram a se abrir. Jisoo simplesmente paralisou; a garota abriu os olhos bem em sua direção, como se tivesse feito unicamente para vê-la. A intensidade das suas orbes era assustadora, mas em momento algum Jisoo desviou os olhos
— Olá de novo. — Jisoo proferiu, deixando que um sorriso dominasse sua expressão. Os olhos piscaram pela primeira vez e o médico lhe olhou em expectativa.
— Os seus olhos também são lindos. — A voz saiu baixa, tímida e acompanhada de um pequeno sorriso. Era mesmo real, ela havia acordado
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Em um piscar de olhos - Chaesoo
RomancePark Chaeyoung tinha apenas apenas seis anos quando seus pais decidiram tirar as tão famosas férias em família. Iriam para a Tailândia, porém, o destino lhes foi cruel, causando o choque de um caminhão desgovernado contra o carro que estavam durante...