Três.

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O trabalho foi apresentado e tiramos nota máxima. A solução? Já faz tanto tempo que não me lembro mais. Acho que a melhor opção era trazer as abelhas de volta, bilhões dela. Sim, essa era a melhor coisa a fazer. Ainda dava tempo.

Agora estávamos eu e Carlos, Bruno e Jonas andando no campus. Éramos amigos velhos, vindos do campo de onde meus pais ficaram. Morávamos em uma pequena cidade, uma vila, talvez. Mentira. Uma comunidade. E somos o fruto da nova geração e todos viemos juntos para a capital. É uma pena termos de vir para cá, mas ao mesmo tempo sou grato por muitos momentos aqui — todos eles se passam fora de casa.

— Minha família vai à praia esse fim de semana — Jonas disse. — Maicon já se vacinou contra a gripe e contra a covid, então vamos passar uns dias na casa de lá. Minha mãe me deu a ideia de chamar vocês pra virem conosco, se quiserem. É bem grande, e vocês sabem se comportar, não é? — ele sorriu enquanto semeava a ideia. — Vai ser legal.

— Parece ótimo. Estamos precisando, é fim de ano — Bruno respondeu. — Podemos chamar mais gente?

— Duas pessoas, no máximo. A alimentação vai ser por conta de vocês.

— Então não vamos, agradecemos pelo convite — Carlos disse de forma rápida e objetiva. Então ele começou a rir. — Brincadeira, pode deixar que pagamos nossa parte.

— Ótimo! — Jonas sorriu, aliviado. — Vai ser mais legal com vocês lá.

Jonas tinha a pele escura e vestia roupas floridas, como se vivesse na praia a todo instante — o que era verdade. — Ele andava sempre com um "chapéu de sambista", geralmente o de cor branca com uma fita preta. Exceto nas aulas, onde ele revelava um corte curto e com listras nos lados. Bruno era parecido, mas com alguns tons de pele mais claro, assim como eu, mas ele tinha os cabelos lisos e acastanhados e os olhos eram castanho-claros também. Era o mais alto do grupo, eu o mais baixo, mas não para tanto. Carlos tinha a pele mais clara e era loiro, mas o cabelo também era curto, penteado de lado e vestia roupas escuras. Nós somos ótimos amigos. Uma pena que um deles tocava violão.

Então eu fui para casa quando o dia acabou e dormi. Mal falei com Agnes, mal comi. Estava muito cansado, não sei por quê. Enfim, o sono seria ótimo se não tivesse um sonho.

E no sonho eu ouvia um violão tocar. E o pior, eu amava. E eu estava de boné por algum motivo, um boné escrito mélA. Sim, dessa maneira. E o violão parecia ótimo, ao mesmo tempo que o "meu eu de verdade" o odiava. E lá estava Eliot, outro menino da minha sala, que também era amigo meu, junto com Perla, e ele olhava para mim do jeito que eu olhava para as pessoas — segundo Perla. E ele disse: Que tudo seja melhor com o saber que passeia.

Então uma luz forte brilhou e eu acordei. Eu estava sobre um pano estirado no chão, um pano colorido com desenhos de conchas e pérolas, com tons de amarelo, vermelho e branco. E os meus pés tocavam sobre terreno quente e áspero. Areia. Então tirei meu braço de cima dos meus olhos e o sol me cegou as pupilas por um tempo. O vento soprou sobre minha face, quente, abafado, mas também com cheiro de maresia, e eu ouvi o som do mar.

— Estava sonhando? — Era Jonas, do meu lado, apenas de sunga, as pernas juntas e os braços em volta dela, sentado em outra toalha de praia, esta era verde e azul.

— Eu ainda devo estar. Quando que cheguei aqui?

— O que? — Jonas começou a rir. — O que aconteceu com você?

Então eu me levantei lentamente, a cabeça doía. E eu me lembrei de coisas que não me recordava.

Ontem, Jonas tinha me convidado a ir à praia com a família dele. Érica tinha sido vacinada, a irmãzinha dele. E no dia anterior, Eliot visitara minha casa e fizemos um trabalho sobre preservação de florestas devastadas e ele comeu bolo de chocolate no meu quarto de frente para janela, depois dormimos juntos.

Isso não tinha acontecido, mas aconteceu.

— Eu..., eu preciso de água, você tem água? — minha cabeça latejou mais.

Jonas olhou ao seu redor e não encontrou nada.

— Não aqui no sol, deve ter no freezer. Vai lá em casa e pega, depois volta e me conta o que está sentindo. Parece que você se perdeu na sua própria cabeça.

— Digamos que isso aconteceu mesmo.

Então eu fui coçar a nuca e ajeitar meu cabelo, e sobre minha cabeça estava o chapéu com o nome escrito: mélA.

Alguém começou a tocar violão não muito longe e meus ouvidos se deleitaram daquele som. Eu realmente estava gostando, de fato. O que está acontecendo comigo? Eu comecei a tremer, eu quis chorar. Parecia tudo normal, eu estava em transe. Eu quero correr. Muitos pensamentos. Tantos!

Olhei para cima, para o céu azul com poucas nuvens esbranquiçadas, o céu torando, a luz fatídica que me amolecia e vibrava o ar quente. Eu estava tonto, eu caí. E eu acordei, e Agnes estava bem acima da minha cabeça, me olhando com os olhos encolhidos e afundados na cara, ela parecia ter raiva, como sempre.

— Já é meio-dia. Por que está acordando tão tarde? Eu ouvi falar que quem depressão tem...

— Bom dia. Aliás, boa tarde, vó.

Eu sentia meus pés ásperos pela areia que pisei a pouco. Mas eu realmente pisei?

LUTHER | Temporada 1Onde histórias criam vida. Descubra agora