Nove.

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O roteiro estava pronto bem antes do que você possa imaginar. O meu, no caso. Estava lá, esperando pelo momento certo. A explicação viria depois, direta e clara, como um soco. Mas, por hora, era necessário fazer algumas coisas sem sentido. Encará-las e fazê-las, porque é o que desejam. Eles desejam. Eu tive que fazer, porque eu não sou louco de quebrar o destino.

— É hoje, você sabe — minha vó disse, um tom de voz completamente diferente. Palavras que doíam nela como eu nunca tinha ouvido antes. Aquilo me deu medo, era estranho demais. Eu não a reconheci. Ela pelo menos me explicaria?

— Está sabendo sobre a entrevista, é isso? Vai me ver na TV hoje?

— Sim, verei. Você não tem noção, Luther?

— Do que? — eu esperava que ela começasse a me xingar para o dia começar como deveria ser.

Ela colocou um pouco mais de café na xícara que usava e me observou. Ela parecia paciente, como se aguardasse durante muito tempo por isso.

— Na TV Aberta, no Canal Aberto, escala Nacional, propriedade do governo. Jair Cobalto em análise. Você estará mais do que na terra dele, na frente dele.

— O que? — minhas mãos vacilaram.

— Eu esperei muito tempo por isso. Fui uma filha da puta com você, eu sei! E vivi muito mais do que você sabe, nossa família vive. Seguimos o sangue do destino, todos nós, os Moniz, prosseguimos sem falta. E você já conhece nosso lema. Que tudo seja melhor com o saber que passeia.

Eram muitas palavras, um momento bizarro, aquela mulher não era minha avó. O que estava acontecendo? Eu não disse nada, só ouvi. Porque eu sentia que ela treinou inúmeras vezes para não esquecer nenhuma palavra, parecia queria ter tempo suficiente para contar todas as letras, passar todas as informações. Eu nunca prestei tanta atenção nela como antes. Nunca prestei tanta atenção em nada que eu já tenha visto quanto agora.

— Você não gosta de mim, eu sou trouxa, sim. Eu entendo. Mas você conhece nossa família. Isso é importante, isso será explicado quando for a hora, em outra hora. Na outra hora. Entende que tudo deve ser abdicado, que tudo continuará como quer, que as coisas prosseguem, mesmo que mudem, elas continuem iguais. Um pouco. Iguais o suficiente para provar que você continua sendo você, independente das andanças, com os saberes que for colhendo no passeio. Aqui não sou eu, mas continuo sendo Agnes. Tudo será explicado, eu prometo. Contudo, você tem que tomar isso em mãos, já está escrito. Você é a mão que guia, a esperança da Liga, a bomba da minha terceira estadia. Tudo está confuso, mas tudo fará sentido. Então tome-a e leve-a e use-a.

Ela tirou do colo uma caixa preta, e abriu em direção a mim e revelou que existia mais do que só pano preto tampando, uma arma reluziu em brilho metálico. Meu coração apertou, eu nunca vi uma tão de perto que não fossem as dos policiais. Aquilo significava poder, aquilo significava desobediência. Aquilo significava responsabilidade e atrocidade.

— Destrua o Cobalto, Ataque, Incendeie Apedreje, qualquer coisa, só tente levar o caos ao Cobalto! — ela proclamou, ficando de pé e terminando seu pedido.

— Quer que eu atire nele?

— Se for possível, mate.

— Quer acabar com minha vida, é isso?

— Só faça! Eu farei o que deve ser feito, você não precisa se preocupar. Confie.

— Não está louca?

— Estou mais sã do que nunca. Você também está como eu, eu sei!

Eu cruzei os braços e observei a arma. Muitas coisas passavam por minha cabeça, muitas, mesmo, como um flash. E eu peguei o objeto e coloquei na minha cintura.

LUTHER | Temporada 1Onde histórias criam vida. Descubra agora