Dez

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 Hiroki

Estava sendo como devia ser, mas jamais imaginou ter um dia uma família. Acostumado com o que ganhou depois que foi basicamente raptado doas braços cruéis daquela mulher que se dizia sua mãe, sonhava acordado enquanto Akumi brincava na parte de cima da casa de Ino.

Foram dois dias sem qualquer tipo de noticia, mesmo que seus pais não tivessem permitido que ajudasse e mesmo que eles tivessem liberado que participasse, não sabia realmente até onde Kurenai ainda tinha controle sobre sua vida.

Sentado ao lado da porta, imaginou que seus pais haviam sido pegos como sua mãe. Não conseguia pensar em ter uma vida longe de Sakura e a possibilidade disso o fazia ficar completamente enjoado, o amor que ela demonstrava e o carinho que sempre dava a ele mesmo não sendo realmente filho dela era algo que não se via mais sem.

No dia anterior houveram terríveis barulhos de explosões, Hiroki abriu a porta com tanta rapidez que Sai quase não conseguiu detê-lo, o marido de Ino o segurou com tanta força enquanto se debatia em meio ao choro que dormiu depois de tanto esforço.

Agora Hiroki se sentia tão inútil quanto no dia que soube de seu sequestro, tentou ao máximo não imaginar as coisas que Kurenai podia fazer com sua mãe. Sabia do que aquela mulher era capaz e não queria na verdade saber o quanto ela poderia estar machucada.

Kurenai sempre foi cruel e não era diferente com ele, Hiroki não costumava fazer qualquer coisa que a irritasse ou sequer a chateasse. Qualquer motivo era o suficiente para que ela descarregasse a raiva em suas costas, houveram dias que não haviam motivos e como já sabia que ele sempre estava em casa esperando por ela, acabava recebendo a descarga de raiva do seu dia difícil.

Tentou fugir dela apenas uma vez, e nessa única vez conheceu Kakashi e achou por todos os deuses que ele seria seu pai já que Kurenai nunca deixou conhecê-lo. Já ouviu diversas vezes vozes de homens e como sempre estava preso dentro do quarto, nunca chegava a ver o rosto de ninguém. Kurenai gostava de descontar a raiva nas pessoas que levava para casa e quando não saía satisfeita, mandava a pessoa embora aos berros e destrancava a porta de seu quarto.

Hiroki deixou o ar sair com calma de seus pulmões, esperando que seus pais conseguissem resgatá-la e se nada adiantasse, não negaria a própria vida para que ela pudesse voltar. Conhecia Kurenai bem demais para que se sentisse confortável com sua mãe presa com ela.

O barulho alto das pessoas soou como um grande estrondo, Hiroki se levantou e abriu a porta sem se importar se eram os guardas intimando as pessoas e as matando sem motivo. Viu as pessoas subindo a rua estreita da vila em direção ao pátio, era um grande alvoroço e todas as pessoas que estavam dentro de suas casas saiam e se juntavam a pequena multidão que se formou para subir a rua.

O medo tomou conta de cada pedaço de seu corpo em uma das historias que Ino contou enquanto Akumi dormia, disse que Kurenai começou a fazer com que as pessoas que não pagavam os impostos a pagar com sua vida. Então montava uma grande forca e mandava com que eles se jogassem do alto degrau que deixava abaixo dos pés deles.

A única coisa que vinha em sua mente naquele momento eram seus pais e seu corpo tomou vida própria, desceu os pequenos degraus da entrada da casa num pulo e subiu correndo a rua. Hiroki se esgueirou entre as pessoas e empurrou diversos braços e corpos para conseguir passar e enxergar ao menos onde ia.

Deixou a dor nos pés de lado e subiu no banco no canto do pátio, não haviam barracas de comerciantes, apenas a multidão tomava conta de todo o espaço ao redor de um grande e bagunçado monte de madeira. Os gritos soavam com tanto fervor que se esqueceu por um momento de procurar seus pais. Hiroki passou os olhos em volta do monte e os cabelos claros iguais aos seus arrastava um corpo inquieto.

Seu peito saltou para a garganta e o sentiu bater em seus ouvidos, o eco abafou o som dos gritos ao redor do pátio e tão devagar, como se quisesse ver cada um dos segundos que se passavam ali, Hiroki viu os cabelos negros sendo amarrados e puxados para cima. A madeira larga que prenderam o cabelo preto e comprido foi erguido, Kurenai mantinha os braços para trás enquanto a corrente de ferro dava voltas por todo o seu corpo.

A sua ausência de roupas mostrava a vergonha que ela jamais admitiria passar, e seus pais tinham um sorriso amargo no rosto. Hiroki sentiu seu coração falhar, não havia visto os cabelos róseos de sua mãe em lugar nenhum entre a multidão. Seu peito doeu e se segurou firme para não deixar suas pernas falharem, mesmo aliviado por saber que Kurenai não machucaria ninguém, sua mãe não havia aparecido.

O grito desesperado fez com que olhasse na direção dos cabelos negros, Kurenai gritou enquanto as chamas começavam a tomar volume e consumir a parte baixa das madeiras fazendo com que o calor subisse. Hiroki invadiu a multidão e empurrou as pessoas que gritavam em quase uníssono que havia acabado o tempo de escuridão. Conseguiu passar por baixo das mãos e com esforço empurrou as pessoas que tomavam a frente do corpo erguido e aparrado da mulher que havia lhe dado a vida.

Kurenai mordeu os lábios e abaixou a cabeça para olhar em sua direção, conhecia os olhos avermelhados dela e sabia muito bem que ela mandaria que fizesse alguma coisa. Respirou fundo e antes que saísse qualquer som de seus lábios soltou de uma vez.

— Onde está minha mãe!?

Ela riu e jogou a cabeça para trás enquanto misturava com os sons de dor que as queimaduras faziam em seus pés.

— Filho... — Kakashi tentou.

— Onde está minha mãe!?

— Hiroki, volte para Ino... Não tem que ver isso... — Shikamaru se aproximou e se abaixou ao seu lado. — Não fique aqui. — Hiroki olhou em sua direção e o viu segurar com firmeza o cabo extenso de uma espada.

— Posso pegar isso?

Shikamaru soltou a mão e deixou com que pegasse a base da espada, ele se afastou de seu pai e se aproximou o quanto de daquela fogueira.

— ONDE ESTÁ A MINHA MÃE?

— Onde você deveria estar também, pedacinho de lixo.

Hiroki fechou os olhos com força e apoiou a perna direita para trás e segurando com firmeza lançou a mesma perna para frente aproveitando o peso do fio da espada, a lançou com força em direção ao corpo em chamas de Kurenai. O peso do ferro fez com que a espada tomasse impulso e perfurasse a parte baixa de sua barriga deixando a mulher ofegante enquanto tentava gritar pela dor das queimaduras.

Deixou os gritos dela ecoarem por sua cabeça e fez eles tomarem lugar de cada um dos gritos de dor que ele havia dado enquanto ela o castigava por ter dito qualquer coisa errada ou apenas por que sentia vontade de ouvi-lo. Deixou que limpasse cada uma das marcas que ela havia deixado em seu corpo, essas que ela fez com a mesma arma que usava para sentir prazer com os homens que vivia levando para sua casa. Ela nunca mais faria esse mal a ninguém.

— Onde está minha mãe? — Repetiu para si mesmo, rouco esperando que ela estivesse em algum lugar.

— Filho, ela está viva... Mas sabe o que acontece quando passam um tempo com Kurenai... ela não está em si... — O som forte da voz de Kakashi o fez abrir os olhos, sem o tecido que ele costumava usar para esconder o rosto tinha o rosto machucado além da marca em seu olho alguns cortes traçavam as bochechas e pegavam parte do peito e barriga.

Não era diferente com seu outro pai, que tinha manchas de sangue pelo corpo e parte do rosto.

— Onde ela está?

Viu ele engolir a saliva de sua boca e respirar fundo.

— Dentro do primeiro quarto do lado direito na parte superior do castelo.

Não se importava com a mulher que já não gritava mais, atropelou as pessoas que ficaram em sua frente e correu para os portões que guardavam a entrada do castelo. Subiu os degraus com pressa e logo empurrou as portas principais, os corpos no chão fizeram o sangue de seu rosto sumir. As poças de sangue tomavam parte do salão principal e se estendiam até parte da entrada do corredor do andar de baixo.

Hiroki olhou para cima e a leve claridade da primeira porta logo depois da escada lhe deu a força que os corpos sem vida no chão haviam tirado. Pulou cada um dos que estavam em sua frente e subiu as escadas com pressa, sua mãe estava logo ali e não havia nada mais que pudesse separa-los, não deixaria ninguém mais separa-los.

— Hiroki!! Espere!! —Não havia tempo para olhar para trás, mas a preocupação na voz de seu pai o fez estagnar no último degrau. — Ela não nos reconheceu, filho... Não sabe quem somos e não sei quanto tempo demorará para que ela volte a ser o que era.

— Eu não me importo!

Hiroki gritou com a voz embargada com o choro contido, avançou o último degrau e correu esbarrando na porta que irradiava a claridade. Encolhida na cama, sua mãe segurava com firmeza os lençóis e tinha os olhos tão fundos. Em toda a sua vida jamais desejou tanto poder reviver Kurenai apenas para que pudesse matá-la novamente.

— Mãe...

Ela olhou em sua direção com os olhos opacos, tão longe do que normalmente eram. O nó que segurava em sua garganta era tão forte que já não conseguia mais conter ali, ofegou e deixou o nó sair de forma dolorosa. Ela não disse nada e não houve qualquer reação de sua parte. Hiroki deixou de lado o medo que ela tinha nos olhos e correu se jogando em cima da cama colorida, afundou o rosto em sua barriga fazendo com que ela fosse obrigada a largar os lençóis.

— Hiroki! Não faça isso filho, irá assustá-la.

Mas não importava com qualquer coisa ali, o corpo magro de sua mãe ainda era quente e tinha o mesmo cheiro de quando ela foi levada. Deixou o choro sair liberando parte daquele maldito nó em sua garganta, o silencio na sala era apenas interrompido pelo barulho alto de seus soluços.

Mas sentiu braços passarem em volta de seu pescoço e rodear parte de sua cabeça, estava pronto para gritar para que o soltassem, não sairia de perto dela nunca mais. Os dedos que afundaram em seus cabelos afagaram levemente sua cabeça e com ele ouviu um choro baixinho.

— Filho... — O som era rouco mas era o mesmo que ela tinha ao acordar de manhã.

— Sakura!

Destrua-me  - Parte 4 - Kakasaku/ShikaSakuOnde histórias criam vida. Descubra agora