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Na manhã seguinte, no caminho da escola, deixo os trapos da minha antiga blusa de dormir em uma lixeira qualquer. Pedalo rápido pela estrada que encontrei Jack semana passada. O vento frio bate em meu rosto, fazendo meu cabelo voar. Fecho os olhos por alguns segundos apreciando o momento.

Desço da bicicleta, caminho até a parte que ficam as bikes, e prendo a minha com o cadeado. Empurro uma das portas enormes de entrada da escola, dando de cara com aquela multidão de adolescentes. Tento ao máximo desviar de cada um até chegar ao meu armário, quando chego exatamente onde queria, pego meus livros e ando até a sala de aula. Me sento no lugar de sempre, e espero a aula começar.

- Bom dia, turma. - cumprimenta a professora após o sinal. - Hoje vamos nos aprofundar um pouco mais no assunto da última aula. Espero que todos tenham estudado a matéria em casa. - a mulher baixa, de pele morena vira para a lousa e começa a escrever.

A turma começa a copiar o que está no quadro, e a sala fica em completo silêncio, até que à porta é aberta. Jack aparece vestido todo de preto, e com os cabelos bagunçados, fazendo metade da sala cochichar sobre seu sumiço e como ele estava "gato".

- Senhor, Cole. - a senhora Parker o cumprimenta. - Sente-se, mas não se atrase mais. - volta sua atenção para o que estava escrevendo.

Jack começa a andar procurando um lugar para se sentar, e infelizmente, senta ao meu lado com um sorriso no rosto.

- Bom. - larga o piloto na mesa, e encara a turma. - Vamos falar mais um pouco sobre a Jane Austen e seu livro Orgulho e Preconceito, que mandei vocês lerem em casa.

A professora começa a falar sobre a autora e fazendo um breve resumo sobre o livro. A turma interage fazendo perguntas e debatendo sobre o assunto, dando suas opiniões. Durante a aula toda, Jack não parava de me encarar com um sorrisinho cínico no rosto, o que me dava mais raiva. Tentava não me incomodar com seus olhares sobre mim, mas tinha horas que o desconforto tomava conta, e ele se aproveitava descaradamente da situação.

Finalmente o sinal toca avisando o fim da aula. Pego rápido as minhas coisas e corro para a próxima aula. Dou graças a Deus por Jack não fazer essa aula comigo. Me acomodo na primeira bancada do lado esquerdo da sala. Ouço o sinal tocar para que todos os alunos se encaminhem para as salas de aula, e entre aquele grupo enorme de pessoas passando pela pequena porta de madeira, está Jack. É pior ainda quando ele vem em minha direção.

- Só pode tá de brincadeira. - reviro os olhos.

- E aí, Senhorita Bishop. - joga sua mochila em cima da bancada branca.

- Anda me perseguindo agora? - o encaro com a cara fechada.

- Mas é claro que não, meu anjo. - sorri debochado.

- E desde quando você faz química comigo? - cruzo os braços.

- Desde agora. - tenta tocar no meu queixo, mas desvio de seu toque. - Não posso querer ficar perto do meu anjinho? - o tempo todo ele mantém esse sorriso no rosto, de quem tem tudo sob controle, o que me tira do sério.

- Só não me atrapalha. - viro para frente, começando a prestar atenção na aula que havia começado.

Durante o resto da semana, fui seguida por Jack pela escola, não tive um momento de paz. O único lugar que eu tinha privacidade era no banheiro, mas não podia passar o dia todo lá. E a única coisa que eu podia fazer era fingir que ele não existia.

Eu não sei o que ele quer com a minha pessoa, mas acho melhor ele parar. As pessoas estavam começando a falar por estarmos andando juntos, queriam saber por que o "gostosão" do Cole estava andando com a freirinha. Ouvi até rumores que ele apostou minha virgindade com os amigos, e eu só consegui sentir nojo. Eu tenho que parar com isso tudo logo antes que chegue aos ouvidos dos meus pais.

- Tá bom, o que você quer comigo? - resolvo confrontá-lo. Estamos parados sozinhos perto dos banheiros do segundo andar da escola. Só assim para ter um pouco de privacidade.

- O que eu quero? - dá um pequeno sorriso. - Quero saber onde aquela bruxa mora, meu anjo. - dou um tampa em sua mão que tenta chegar perto do meu rosto, e seu sorrisinho debochado aumenta. - Adoro esse seu temperamento, sabia?

- E eu já disse que não vou falar. - cruzo os braços.

- Então vou continuar te seguindo por aí. - imita duas perninhas com os dedos.

Bufo de raiva.

- Por que você quer saber onde ela mora? - questiono na esperança de matar minha curiosidade.

- Por... - alguém sai de uma das salas de aula, e o puxo para o banheiro mais próximo na tentativa de nos esconder. Tento escutar se tem alguém se aproximando, até que sua frase chama minha atenção. - Pensei que você fosse apenas uma simples freira.

- O quê? - junto as sobrancelhas tentando entender o que ele disse.

- Mas pelo visto é daquelas bem safadas. - seu olhar me examinando de cima a baixo me faz arrepiar.

- Cala a boca. - o empurro. - Só não quero que alguém nos veja conversando, mesmo com você me perseguindo pela escola essa semana toda.

- O que você acha que vão pensar se nos pegarem aqui no banheiro? - diz com os braços cruzados e a sobrancelha arqueada.

- Não vão nos pegar se você falar logo o que quer com a Senhora Wilson. - pressiono.

- Por que preciso da ajuda dela numa coisa, simples. - dá de ombros. Estreito os olhos em sua direção desconfiando do seu motivo.

Antes que eu possa perguntar mais coisas, escuto vozes no corredor perto da porta.

- Já vou! Só vou ao banheiro primeiro! - era um garoto.

Meus olhos quase pulam para fora.

Para que esse garoto foi abrir à boca. Nos escondemos de pressa em uma das cabines e fico em seu colo na intenção de esconder meus pés.

Ai, Deus, onde foi que eu me meti. E perdão por estar no colo de um garoto e no banheiro masculino.

Jack parece se divertir com a situação. Durante os 3 minutos que ficamos nessa posição, ele manteve, como sempre, o sorrisinho cínico dele. A vontade era de matar aquele garoto, e de me matar antes de ser morta por meu pai. Sem contar as tentativas falhas dele de alisar minha coxa por baixo da minha saia de pregas preta.

Depois que o garoto foi embora, me soltei de seus braços rapidamente, me recompondo.

- Isso é tudo culpa sua! - aponto para ele.

- Minha? - pergunta incrédulo. - Que eu saiba, foi você que nos trouxe para cá.

- Se você não ficasse me perseguindo por aí, eu não teria passado por essa situação.

Isso é tudo culpa dele!

- Me dá o que eu quero que te deixo em paz. - passa a mão nos cabelos desgrenhados.

Talvez não tenha problema eu passar o endereço. Afinal, ele disse que precisa da ajuda dela, então vai que é verdade. Ainda mais se for algo muito sério.

- Tá bom. - reviro os olhos. - Tem papel e caneta aí? - estendo à mão.

Ele tira o celular do bolso da calça e me entrega. Anoto o endereço no bloco de notas e entrego o aparelho.

- Pronto. Agora me deixa em paz. - apresso meus passos para sair dali antes que mais alguém chegue.

Sinto-me até mais leve sem ele por perto. Graças a Deus ninguém falou para os meus pais com quem eu estava andando, e nem me viram saindo do banheiro masculino. Cole cumpriu com o trato e deixou de me seguir por aí.

Deus, sei que devemos amar o próximo, mas não consigo encaixar esse garoto na lista.

DesejosOnde histórias criam vida. Descubra agora