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 Hoje, o dia foi como todos os outros. A escola com as mesmas pessoas idiotas. Meus pais fingindo para todos que somos uma família feliz e alegre, será que eles não se tocam que dá para ouvir a gritaria da esquina? A gritaria do meu pai para falar a verdade. Todo santo dia ele está reclamando de algo com à minha mãe, e ela, como sempre, fica calada. Afinal, para ela, o homem fala, e a mulher escuta. Assim que uma família deve ser. Tirando o fato de quase todo dia, ela me explicar como devo me comportar, e não andar com "essas garotas" da escola porque são más influências, segundo ela. Mal sabe ela que isso eu já faço, mas não por que ela mandou, e sim por serem pessoas artificiais. Estão sempre fingindo e agindo como acham que devem agir só para agradar um ao outro, principalmente para chamar a atenção de Jack.

Bom, Jack Cole é o garoto que arranca suspiros por onde passa. Está sempre com seu jeito de "o dono do mundo". O molha calcinhas de muitas garotas. Se eu fosse uma dessas garotas, eu levaria uma bela surra, já que me impedir de sair e socializar, é algo que já fazem. O máximo que faço é ficar no telhado do meu quarto. Às vezes passo horas fazendo absolutamente nada, apenas sentindo o vento no rosto, enquanto observo o céu. As nuvens. As estrelas. A lua. E é exatamente isso que estou fazendo nesse exato momento. Mas hoje o tempo está diferente. Vento forte e frio. As nuvens escuras. Provavelmente irá chover.

Com a chegada dos relâmpagos, resolvo entrar e fechar à janela do quarto

- Mãe? - chamo descendo as escadas. A sensação do carpete tocando meus pés é tão boa, quanto o cheiro da lasanha que minha mãe faz. Sinto aquele cheiro bom de longe.

- Na cozinha! - grita. Chego na porta da cozinha e a vejo tirando a lasanha do forno, e pondo na mesa. Que aliás, está bem farta.

- Qual o motivo para fazer isso tudo de comida? - estranho a quantidade de comida na mesa. Me aproximo dela e deposito um beijo em sua testa.

- Estava inspirada, apenas isso. - um sorriso se forma em seu rosto. Tirando o fato da minha mãe ser submissa ao meu pai, e ter uma forma de pensamento totalmente absurda, ela é incrível, é doce, se preocupa com sua família. Tem vezes que até entendo o motivo dela agir assim, entendo o seu medo de eu sair por aí, me perdendo nas coisas erradas do mundo, e nunca mais voltar. Sem deixar um bilhete. - A propósito, onde estão seus calçados, mocinha? - aponta para meus pés descalços.

- A senhora sabe que eu não gosto de andar com calçados. Em casa é o único lugar que tenho oportunidade para isso. - subo no balcão da cozinha.

- Sim, eu sei. Mas também sei que seu pai não gosta muito, e que uma tempestade está por vir. E não quero a senhorita gripada. - diz ajeitando o resto das coisas na mesa.

- É, mas o papai não liga mais. Acho que cansou de reclamar todo dia sobre isso. - observo minhas pernas balançando. Mamãe para em minha frente e toca meu rosto com as duas mãos. Olho em seus olhos.

- Pode até ser verdade, mas ainda não quero que fique gripada. - sua voz doce, e tranquila me convence de colocar um calçado.

- Tudo bem, senhora Bishop. A senhora venceu. - levanto às mãos. Desço do balcão, e vou para meu quarto calçar minhas pantufas peludas e vermelhas. Pessoas diriam que são horríveis, eu digo que são diferenciadas, porém de uma forma legal.

Saindo do quarto, encontro meu pai parado no corredor lendo seu jornal. Parece estar bastante concentrado.

- Não acha um pouco tarde para ler o jornal? – brinco me aproximando para lhe dar um abraço.

- Boa noite, minha filha. – afaga meus cabelos enquanto me abraça. – Não tive tempo para ler de manhã. O dia foi corrido no trabalho. – meu pai é dono de um posto de gasolina daqui do bairro. É o famoso negócio da família. Ele e seus irmão, junto com meu avô, fundaram aquele posto. Deu tão certo, que abriram outros pela cidade, ficando assim, um para cada. Desse jeito não terá briga para saber quem irá ficar com a "herança" quando vovô falecer. – Que milagre é esse que não está descalça. – anda até à porta do seu quarto.

- Mamãe ficou preocupada de eu pegar um resfriado. – acompanho-o até seu quarto. – Não vai descer para o jantar?

- Só vou tomar um banho primeiro. – coloca o jornal sobre a cômoda, que fica ao lado da porta do banheiro. - Espero que sua mãe tenha feito algo bom. – entra no banheiro, e fecha à porta.

- O senhor sabe que ela sempre faz. – aumento o tão de voz para que ele possa ouvir.

Saio do quarto, e vou direto para à cozinha.

- Voltei. – apareço na porta da cozinha. – Satisfeita? – estico a perna para ela ver.

- Você e essas pantufas. – balança à cabeça.

- É estilo, mãe. – zombo com às mãos na cintura. Apesar de tudo, eu tenho um bom convívio com os meus pais. O fato deles me impedirem de sair, fazer amizades e afins, não me impede de me dar bem com eles.

- Onde está seu pai? – pergunta lavando à louça que está na pia.

- No banho – pego uma uva da geladeira.

- Elle, você vai jantar. Para de beliscar as coisas. – reclama.

- É só uma uva. – mostro a pequena fruta em minha mão.

- Chame seu pai.

- Não precisa, já estou aqui. – senta-se à mesa.

- Olá, querido. – fecha à torneira, e vai secar às mão no pano de prato. – Já vou colocar sua comida. - pega o prato que está na mesa e coloca um pouco de cada coisa. – Aqui está. – põe o prato na mesa, e senta conosco.

- Não sei o porquê de tanta comida. – meu pai reclama levando o garfo até à boca. – É só para ter mais gasto. - Observo minha mãe que logo fica cabisbaixa com o comentário desagradável. Sinto pena dela, afinal, ela passou tanto tempo preparando tudo com tanto carinho.

- Eu que pedi para ela fazer. E como ela gosta de cozinhar... – minto na esperança de amenizar a situação.

- Hm. – murmura. Minha mãe me olha com um leve sorriso no rosto como agradecimento. Sei que é errado mentir, mas faço qualquer coisa para ajudar minha mãe. Odeio vê-la desse jeito. Ela se esforça tanto para agradar todo mundo.

Após a oração de agradecimento, o jantar seguiu em silêncio. Só dava para ouvir os talheres passando no prato. As refeições são sempre assim, ninguém fala. Não conversamos sobre como foi o dia de cada um. Como foi na escola. Como foi no trabalho. Como foi a reunião na igreja. Apenas sentamos, oramos, e silêncio até o final do jantar. Depois desejamos boa noite, e vamos para nossos quartos orar e dormir.

Quando termino minha oração, algo bate com tudo na minha janela. Dou um grito com o susto. Tampo à boca rápido para não acordar meus pais. Depois de ficar alguns minutos em silêncio, caso meus pais tenham acordado, vou até à janela ver o que era. Acho um passarinho caído no telhado, parece assustado. Pego com cuidado para não machucar, pelo o que parece, ele estar com à asa machucada. Fecho à janela, e coloco-o sobre a cômoda.

- Amanhã, levo você ao veterinário, tá bom? – aliso o topo da sua cabeça. Agora parece um pouco mais calmo. – Boa noite, passarinho. – apago as luzes, e vou dormir.

Acordo assustada com barulho de trovão, olho a hora e são três e meia da madrugada. Me levanto para ver o pássaro, e ele está morto sobre minha cômoda. Bate uma tristeza em vê-lo morto, parecia que estava bem, que era apenas uma asa machucada. Uma lágrima escorre por meu rosto, junto vem outro trovão seguido por raios e relâmpagos. Uma chuva forte está caindo. Está mais para uma tempestade, na verdade.

- Querida, você está bem? – minha mãe aparece na porta do meu quarto. Pelo visto não fui a única que acordou com o barulho.

- Sim, mãe. Só levei um susto. – amarro o cabelo em um coque. – E a senhora? Está bem? – me aproximo.

- Estou. Vou para o quarto, ok?. – aceno que sim, e ela me dá um beijo na bochecha. – Volte para à cama. – sai, e fecha à porta.

Tento dormir, mas a única coisa que consigo fazer é ficar revirando na cama. 

Aaaaa estou tão feliz com essa História, e espero que vcs estejam tanto quanto eu. Muito obrigada a todos que leram. Não esqueçam do voto, que vai ajudar a saber se estão gostando ou não.

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