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  Uma semana se passou depois do ocorrido, e durante esses sete dias, mamãe vinha até meu quarto apenas para limpar minhas feridas e trazer comida. Eu estava proibida de sair do quarto. Não podia comer com eles. Muito menos frequentar a escola. Era como se estivesse presa na torre mais alta do castelo, vigiada por dragões ferozes que estavam prontos para matar qualquer um que se aproximasse.

Durante esse tempo, um enorme vazio tomou conta de mim. Sinto que decepcionei as únicas pessoas que eu amo. Que falhei como filha. Como pessoa...

Fiquei todo esse tempo na cama, mal tocava na refeição, só tinha forças para chorar e lamentar por tudo que eu fiz. As dores dos cortes eram fortes, mas não comparadas com as dos primeiros dias que sangravam com qualquer movimento que eu fizesse.

Levanto da cama à força, caminhando em direção ao espelho. Viro de costas para ele com a blusa levantada. Observo os cortes quase cicatrizados. Certamente ficará como as outras cicatrizes que percorrem o resto das costas.

Sinto uma lágrima escorrer.

Abaixo a camisa assim que escuto batidas na porta.

- Trouxe o jantar. – mamãe coloca a bandeja com o prato sobre a cômoda.

- Mãe? – a chamo antes de ir embora. – Só queria pedir desculpas. – envergonhada, desvio o olhar para meus pés vestidos com uma meia de gatinhos.

- Apenas coma antes que esfrie, querida. – sai fechando à porta logo em seguida.

Querida...

Um sorriso se forma em meu rosto. Fazia tempo que ela não me chamava assim, isso só quer dizer que ela não está mais brava. Minhas orações foram ouvidas, finalmente.

No meio da madrugada, acordo com um pouco de sede. Pego a jarra que mamãe sempre deixa em cima da cômoda, e encho o copo de vidro com água. Quando vou me ajeitar para voltar a dormir, reparo que tem alguém sentado na poltrona do outro lado do cômodo.

- Quem tá aí? – minha voz soa trêmula. Um medo percorre por toda a minha espinha. – Como você entrou aqui? – encolho-me mais ainda, me cobrindo com o cobertor florido que ganhei de aniversário da vovó.

O desconhecido se levanta, caminhando até mim. Ao sair das sombras, finalmente consigo identificar quem é.

- O que você está fazendo aqui? – questiono mais aliviada.

- Você não apareceu mais na escola. – para na minha frente com às mãos nos bolsos da calça jeans preta rasgada. – Então vim te ver. – dá de ombros como se fosse nada demais.

Sua confissão me deixa um pouco confusa. Afinal, por que Jake se incomodaria em vir até aqui? Por que Jake começou a falar comigo do nada?  Somos pessoas totalmente diferentes e de mundos diferentes. E a principal pergunta é: o que aconteceu com ele na noite da tempestade?

Minha cabeça dói com tantas perguntas. Nada disso faz sentido.

- Quando você vai voltar para o colégio? – demoro para raciocinar a pergunta do garoto vestido de jaqueta de couro preta, parado à minha frente.

- Eu não sei. – escoro as costas na cabeceira da cama. Fico inerte em meus pensamentos, até que surge mais uma curiosidade. – Garoto, como você entrou aqui? – questiono um pouco assustada com a resposta que ele pode dar.

- Ah! Pela janela. – sua resposta transborda plenitude.

- O quê?! – corro até a mesma para ver se estava quebrada.

- Relaxa. Ela estava destrancada, não precisei arrombar. – eu me pergunto como ele consegue falar isso com tamanha tranquilidade.

- Você ia arrombar minha janela? – sussurro um pouco alto para meus pais não escutarem nossa pequena discussão. E o suficiente para ele perceber o quando estou brava.

- Digamos que sim.

- Você ficou maluco, Jake? – aproximo-me, ficando frente a frente com ele. O mesmo parece não ligar nem um pouco para o que está acontecendo, apenas me olha como se tudo o que estou falando fosse nada. Simplesmente nada. – Não vai falar nada? – cruzo os braços.

- Volte logo para a escola. Senão vai perder muita matéria. – uma expressão de confusão toma conta do meu rosto, mas ele ignora e vai embora pelo mesmo lugar que entrou, à janela.

Tento voltar a dormir, mas Cole não deixa meus pensamentos nem por um segundo. Me reviro na cama várias e várias vezes numa tentativa falha de tirá-lo da minha cabeça. Só que sua vinda aqui deixou muitas perguntas que talvez eu nunca tenha as respostas. E suas visitas na calada da noite, depois disso, não ajudaram muito.

Depois do dia da discussão por ele ter invadido meu quarto. Jake não deixou de vir um dia sequer me ver. Tinha dias que ele não pronunciava uma palavra, só sentava na poltrona e me observava dormindo. E deixava sempre as matérias do dia sobre a cômoda ao lado da minha cama. Passei a me acostumar com sua presença, e com o tempo foi me passando segurança.

Se eu sinto medo dos meus pais descobrirem? Sim. Mas o desejo de tê-lo ao meu lado era maior.

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Mds, pensei que esse cap nunca sairia kkk. Desculpa pela demora e por qualquer erros ortográfico. Obrigada por chegar até aqui ❤️. Não esqueça de comentar e de deixar uma estrelinha.

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