Desejos

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 Elle Bishop

Que Jake é uma pessoa difícil de lidar, eu já sabia, mas não imaginava que fosse tanto.

Ele saiu aparentemente com raiva da biblioteca. Voltando a ser o mesmo grosseiro de sempre. No momento não senti nem um pouco de culpa pela sua saída, mas agora penso que talvez eu tenha exagerado. De qualquer forma, ele que começou, apenas dei a resposta que ele merecia. Talvez ele não tenha mudado, e ainda seja aquele babaca de sempre.

Hoje é sábado, então não temos trabalho para fazer.

Penso se ele iria caso não fosse final de semana. Se me deixaria na mão. E se ainda está com raiva das minhas palavras.

– Elle? – a voz da minha mãe atrás da porta me traz de volta para a realidade.

– Pode entrar. – minha voz sai um pouco mais alta para que ela possa ouvir.

A senhora de cabelos grisalhos abre à porta devagar, o suficiente para caber a metade do seu corpo.

– O almoço já está pronto. Não vai comer? – sua voz é doce como de costume.

- Sim. Estou indo. – levanto-me da cama.

Quando estou prestes a andar, ela me olha como se eu estivesse esquecendo de algo. Em seguida para os meus pés descalços. O que me ajudou a deduzir o que estava faltando.

- Desculpa. – peço com um sorriso sem graça.

Minha mãe me acompanha até à cozinha, onde encontro meu pai já sentado à mesa.

– Boa tarde, papai. – inclino para beijá-lo na bochecha.

Mesmo com tudo o que aconteceu, as coisas já voltaram ao normal. No inicio foi difícil. Eles mal falavam comigo, principalmente meu pai. Estava sempre sério - mais que o normal - e mal me dirigia a palavra. Já mamãe foi mais rápida em me perdoar. Foi como da primeira vez.

– Boa tarde, filha.

Após a oração de agradecimento, ele pega seu prato já com a comida, colocada por mamãe.

– Como está indo o trabalho? – leva à primeira garfada à boca.

– Bem. Já estamos acabando. – prefiro omitir a parte que vamos finalizar antes mesmo do prazo. Sei que é errado, mas estou gostando tanto de ir para algum lugar que não seja apenas meu quarto.

– Que bom.

– E a escola, minha filha?

– Está indo bem. – respondo sem tirar os olhos da minha comida. - Já consegui recompensar as aulas perdidas. – ambos se remexem desconfortáveis no assento. Provavelmente se sentem culpados pelo o ocorrido.

– Que bom, querida. – forço um sorriso.

Por mais que eles tenham voltado ao normal comigo, e parece estar tudo indo como sempre foi. Eu não me sinto mais a mesma. Não consigo mais passar horas conversando com minha mãe, nem ficar muito tempo sentada à mesa com eles. Até meu quarto se tornou sufocante. E as coisas só vêm piorando cada vez mais. É como uma vontade absurda de sair no mundo. O pior é que não sei como lidar com isso, já que nunca senti isso antes. A única coisa que continuo gostando é de ir à igreja, pois é o único jeito de eu poder respirar um pouco, e ver pessoas.

Para piorar, o tempo parece passar cada vez mais devagar nessa casa. A hora do jantar parecia que nunca iria chegar. E quando finalmente chega, como um pouco mais rápido que o normal para subir logo.

– Já vai se deitar? – pergunta assim que me ponho de pé.

– Sim, mãe. Amanhã tem culto, e quero estar bem descansada. – sorrio antes de lhe dar um beijo na testa. – Boa noite. – despeço-me dando um beijo em papai também.